quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Gavin Friday “Ecce Homo”

 Com obra que se expande para lá da música, mas nome sobretudo feito entre os discos e os palcos, Gavin Friday deu primeiros passos a bordo dos Virgin Prunes, criou depois uma discografia a solo que conquistou particular visibilidade nos anos 90 (com álbuns como “Adam ‘n’ Eve”, de 1992 ou “Shag Tobacco”, se 1995 e intenso trabalho no cinema) e nos últimos tempos voltou colaborar com velhos parceiros, os U2, como diretor criativo da residência que a banda levou ao The Sphere, em Las Vegas. Apesar da proximidade com o seu velho vizinho e amigo de infância, Bono, Gavin Friday trilhou caminhos distintos dos U2 na hora de fazer música. Se o ponto de partida era comum, no cenário pós-punk de Dublin em finais dos anos 70, os Virgin Prunes revelavam uma postura mais desafiante, regra que depois Gavin Friday aplicou a uma abordagem à canção (pop/rock de alma alternativa) que a partir de finais dos oitentas começou a explorar em discos aos quais levou uma dimensão cénica e teatral bem vincada, abordando temáticas que frequentemente exploravam questões sobre faces menos luminosas do quotidiano.

Nascido após um silêncio de treze anos (o anterior “Catholic” data de 2011), “Ecce Homo” representa o sexto álbum de estúdio que Gavin Friday apresenta em nome próprio. O disco, que assinala um reencontro com Dave Ball (dos Soft Cell), que havia produzido “The Moon Looked Down And Laughed” (1986), o último episódio de estúdio na obra dos Virgin Prunes. David Ball, que convidara Gavin Friday para colaborar na sua estreia a solo após a primeira separação dos Soft Cell (“In Strict Tempo”, de 1984) assume novamente colaborações no plano da produção, mas desta vez também na escrita de canções nas quais o músico irlandês revela uma firme condução de um rumo que tem alicerces nos álbuns de há 30 anos. Canções com alma sombria, cruzando electrónicas, instrumentos acústicos e elétricos e uma frequente toada industrial, voltam a sublinhar não apenas interesses temáticos (entre os quais os domínios do poder, o ódio e a guerra, a noção de culpa ou o simbolismo religioso, este último sugerido pelo próprio título), assim como um antigo gosto em trabalhar os cenários e ambientes que acolhem a música e as palavras. Ente atmosferas densas, a voz teatral abre por vezes frestas pessoais, ora para lembrar dias de infância (“When The World Was Young”) ou os seus cães (“The Best Boys In Dublin Town”). “Ecce Homo” talvez esteja distante da capacidade de surpreender dos discos que editou na primeira metade dos anos 90. Mas é um interessante episódio de reencontro ao qual os velhos seguidores poderão aderir. 

“Ecce Homo”, de Gavin Friday, está disponível em LP, CD (com alinhamento alargado) e nas plataformas digitais numa edição da BMG.



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