quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

BIOGRAFIA DE Matthieu Chedid

Matthieu Chedid

Matthieu Chedid, conhecido por seu nome artístico: -M-, (21 de dezembro de 1971Boulogne-BillancourtHauts-de-Seine), é um cantorcompositorprodutor musical e guitarrista francês. Ele também é um multi-instrumentista em estúdio de gravação.[1]

Biografia

Matthieu Chedid é filho do cantor francês Louis Chedid, e neto da escritora e poeta francesa de origem líbano-egípcia Andrée Chedid, tendo já lhe escrito canções como Je dis aime. Sua irmã Émilie Chedid (1970) é realizadora, productora e directora de videoclipes e documentários, relacionados com a música. A sua outra irmã Anna Chedid (1987) conhecida como Nach é também cantora.

Matthieu, um talentoso multi-instrumentista, teve um interesse na música desde cedo. Em 1978, aos 6 anos, participou no coral do sucesso de seu pai, a canção T'as beau pas être beau com sua irmã, Émilie. Durante sua adolescência e juventude, ele formou alguns grupos: Tam Tam com Mathieu Boogaerts, Les Bébés fous e Les Poissons rouges.

Sua carreira como músico lhe permitiu de acompanhar outros artistas como : Suprême NTMTryoSinclair, Billy ze kick, Nina Morato (no Festival Eurovisão da Canção de 1994), Les Charts, Guesch Patti, Gérald de Palmas, Vanessa Paradis, Faudel, Arthur H e Brigitte Fontaine.

Ele já colaborou com vários artistas, sendo os mais recentes Sean LennonVanessa Paradis e Johnny Hallyday.

-M-

Matthieu Chedid se apresenta e grava sob o nome -M-. Ele criou o personagem -M- para superar a sua timidez no palco e também para distanciar seu trabalho do de seu pai e avó. O pseudônimo vem da inicial de seu nome, mas também porque em francês "M" soa exatamente como a palavra "aime" (amo do verbo "amar"). O personagem -M- é um super-herói da guitarra; reconhecido por suas roupas chamativas e seu cabelo em formato de um M, embora seja de natureza divertida, é um conquistador nato.

Fora da França, Matthieu Chedid é mais conhecido pela canção "Belleville Rendez-vous" do filme As bicicletas de Belleville. A canção concorreu a um Oscar em 2003. O videoclipe da canção inclui o próprio Matthieu cantando, assim como sua versão animada.

-M- ao Olympia, Paris.

Rumores circularam antes do lançamento do seu álbum Mister Mystère em 2009, que Matthieu pararia de usar o pseudônimo -M- e passaria a usar o seu nome real.[2] No entanto, o álbum foi lançado sob o nome de -M-, mas incluiu fotos suas sem as roupas e o cabelo associados ao personagem -M-. O videoclipe do primeiro single do álbum Le Roi des ombres mostrava Matthieu queimando a imagem de seu alter-ego.

Premiações

  • 2000 : Victoires de la musique
    • Artista masculino do ano
    • Melhor concerto / digressão
  • 2005 : Victoires de la musique
    • Artista masculino do ano
    • Álbum pop do ano por Qui de nous deux ?
    • Melhor concerto / digressão Qui de nous deux ?
    • Melhor DVD, Les leçons de musique, dirigido por sua irmã, Émilie Chedid
  • 2006 : César e Étoiles d'or du cinéma français
    • melhor música original por Ne Le Dis À Personne, realizado por Guillaume Canet
  • 2011: Victoires de la musique
    • Melhor concerto / digressão
  • 2012 : Victoires de la musique
  • 2014 : Victoires de la musique
    • Melhor concerto / digressão
  • 2015 : Abilu Music Award
    • Melhora música electro por Détache Toi, Shen Jing Mo Shao com a cantora chinesa AM444

Discografia

A guitarra com um coração que figura o visual ALYSSON ALYSSON do álbum Qui de nous deux ? de -M-.[3]

Álbuns

Álbuns de estúdio
  • 1997: Le Baptême
  • 1999: Je dis aime
  • 2003: Labo M (instrumental)
  • 2003: Qui de nous deux
  • 2009: Mister Mystère
  • 2012: Îl
Álbuns ao vivo
  • 2001: Le tour de -M-
  • 2005: -M- au Spectrum
  • 2005: En tête à tête
  • 2010: Les saisons de passage
  • 2013 : Îl(s)
Trilha sonora de filmes e espectáculos

Singles

  • 1997 : Le Baptême / La Grosse Bombe
  • 1997 : Machistador
  • 1999 : Je dis aime
  • 1999 : Onde sensuelle
  • 2000 : Le Complexe du corn-flakes
  • 2001 : Bonoboo
  • 2002 : En piste, titre écrit par Andrée Chedid au bénéfice de Clowns sans frontière
  • 2003 : Qui de nous deux
  • 2003 : À tes souhaits
  • 2003 : La Bonne Étoile
  • 2003 : Ma mélodie
  • 2005 : En tête à tête (live)
  • 2005 : Mama Sam (live)
  • 2007 : L'Éclipse (avec Sean Lennon)
  • 2008 : Les Piles (en live avec Vanessa Paradis)
  • 2009 : Le Roi des ombres
  • 2009 : Est-ce que c'est ça ?
  • 2010 : Amssétou
  • 2010 : Mister Mystère (live)
  • 2011 : Madame rêve sur Tels Alain Bashung
  • 2011 : La Seine (com Vanessa Paradis, BO do filme Um monstro em Paris)
  • 2012 : Mojo
  • 2013 : Océan
  • 2013 : Baïa
  • 2013 : Faites-moi souffrir
  • 2014 : Détache Toi / Shen Jing Mo Shao (sorti exclusivement en Chine, avec le duo AM444)
  • 2015 : Comme un seul homme (hommage à Charlie Hebdo)
  • 2015 : F.O.R.T sur Louis, Matthieu, Joseph et Anna Chedid
  • 2016 : Bal de Bamako (feat.Toumani & Sidiki DiabatéFatoumata Diawara et Oxmo Puccino)

Outras aparições






Discografias Comentadas: The Rolling Stones – Parte I

 


Nesta semana iniciamos uma série de três matérias englobando a discografia de uma das bandas mais influentes e revolucionárias da história da música, os Rolling Stones! Próximos de completar 50 anos de existência desde sua fundação, em 1962, os Rolling Stones possuem uma vasta discografia, consistindo, além de singles e EPs, de diversos álbuns de estúdio e ao vivo, além de inúmeras compilações trazendo material já lançado ou não. Por conta disso, dividiremos sua discografia em três partes: (I) década de 60, (II) década de 70 e (III) década de 80 e seguintes. Trataremos apenas dos álbuns de estúdio lançados originalmente no Reino Unido, o que exclui uma série de álbuns de estúdio lançados de 1964 a 1967 apenas para o mercado estadunidense. Esses discos que saíram apenas nos EUA costumavam abrigar faixas oriundas de singles e EPs de sucesso, portanto apenas neles se pode encontrar músicas como “As Tears Go By” e “Let’s Spend the Night Together”, entre muitas outras. Outras faixas, como “Jumpin’ Jack Flash”, “19th Nervous Breakdown” e a versão original de “Honky Tonk Women” não saíram em nenhum álbum de qualquer dos dois países, podendo ser encontradas apenas em compilações. É importante que isso seja dito para que o leitor não deixe de correr atrás desse material que ficou de fora, o qual também inclui “The Last Time”, canção famosa atualmente pela polêmica com “Bitter Sweet Symphony”, do The Verve, e “Paint It, Black”, o primeiro single que alcançou o topo das paradas contendo uma cítara na gravação. A discografia inglesa, no entanto, contém também um bom número de verdadeiros clássicos que nem sempre recebem o devido reconhecimento – mas aqui eles o receberão! Antes de iniciar os comentários sobre cada disco, quero apenas ressaltar o fato de que os Stones evoluíram de um grupo interessado em tocar versões de clássicos do blues, do rhythm ‘n’ blues e do rock ‘n’ roll na direção de uma banda autoral altamente criativa. Isso não significa que o período em que os covers dominaram seu repertório possa ser facilmente descartado, pois oferece também alguns grandes momentos. Agora, que rolem as pedras!

 
The Rolling Stones [1964]

O primeiro álbum dos Stones destaca-se já pela capa, que não apresenta sequer o nome da banda, mas apenas uma foto do conjunto e o símbolo da gravadora. O som contido no disco não deixa a desejar, apesar de o repertório ser basicamente constituído de covers. As três faixas autorais são a instrumental “Now I’ve Got a Witness” e a blueseira “Little by Little”, creditadas à banda inteira com o nome fictício “Nanker Phelge” – a segunda creditando também Phil Spector –, e “Tell Me”, creditada a Jagger e Richards (que, até 1978, foi chamado “Keith Richard”, sem o “s” no final, pois o produtor Andrew Oldham achou que assim soava “mais pop”). As duas primeiras não impressionam – sendo que “Little by Little” deveria creditar Jimmy Reed por ser idêntica à sua “Shame, Shame, Shame” – mas servem para apresentar Keith Richards como um competente guitarrista de blues-rock. “Tell Me”, uma balada que mais lembra o som das bandas de merseybeat, destoa do restante do álbum, mas soa interessante se ouvida corretamente. Entre as covers pode-se destacar a agressiva versão para o blues “I Just Want to Make Love to You”; “Mona (I Need You, Baby)”, que parece ter sido criada para os Stones; e a versão divertidíssima de “Walking the Dog”, que deve ter deixado seu autor, Rufus Thomas, bastante orgulhoso. Além dessas, vale mencionar “I’m a King Bee”, que se tornou hit, e “Can I Get a Witness”, cantada aos berros por Jagger.


The Rolling Stones nº 2 [1965]

O segundo álbum britânico dos Stones é, na minha opinião, inferior ao primeiro, principalmente no que diz respeito aos covers, que são ainda a maioria das faixas. Apesar de haver versões inspiradas como “Time Is on My Side”, que se tornou uma faixa associada diretamente à banda, a maior parte desses covers pouco acrescentam, a meu ver. O que se percebe sempre é a substituição da instrumentação diversificada na base das originais pelo trabalho das guitarras, o que talvez irá marcar a sonoridade dos Stones e o estilo próprio de seus guitarristas (basta lembrar que o sagrado riff de “Satisfaction” era inicialmente nada mais que o guia para os metais que seriam incluídos na faixa, mas que Oldham acabou vetando). As três faixas autorais, “What a Shame”, “Grown Up Wrong” e “Off the Hook”, todas creditadas a Jagger e Richards, são pra mim o destaque do disco e também são passos importantes na formação do som característico da banda, com sua fusão de uma sonoridade fincada no blues e uma levada mais rocker.

Out of Our Heads  [1965]

A versão inglesa desse disco, diferente da que saiu nos EUA, apresenta poucas canções autorais, pois os hits, como “Satisfaction” e “The Last Time”, saíram no Reino Unido apenas como singles. O álbum, ao contrário, dos anteriores, não atingiu o topo das paradas inglesas, chegando apenas ao 2º lugar. Apesar disso, temos aqui um registro da maturidade dos Stones, exemplificada principalmente na faixa de abertura, a versão para “She Said Yeah” de Larry Williams, antes regravada sem muitas diferenças pelos Animals. Aquele inofensivo rock ‘n’ roll a la “Great Balls of Fire” se torna com os Stones um embrião tanto do punk como do hard rock, tendo em vista a energia e o peso contidos nas nervosas guitarras de Keith e Brian, o baixo e a bateria imponentes e os empolgantes gritos de Mick Jagger. Após essa primeira paulada, seguem covers na mesma linha do álbum anterior, mas alguns ficaram bem interessantes na versão dos Stones, como “Good Times”, com um lindo acompanhamento de baixo e guitarra, além da bateria precisa de Charlie Watts. Destaco, em especial, a versão para “Cry to Me”, que recebeu um tratamento bem blueseiro, permitindo a Keith solar durante toda a música e fazer miséria em seu encerramento. Keith demonstra nesse disco ser tão bom guitarrista quanto Dave Davies, dos Kinks, e Pete Townshend, do Who. Entre as quatro canções autorais, “The Under Assistant West Coast Promotion Man”, creditada a Nanker Phelge, é um resquício dos primeiros tempos dos Rolling Stones, ainda muito presos ao blues. As outras três, as ótimas “Gotta Get Away”, “Heart of Stone” – que traz mais um belo solo de Keith – e “I’m Free”, todas compostas por Jagger e Richards, mostram que a banda alcançava maturidade também em suas composições. “I’m Free”, por sinal, deve ser conhecida do leitor, pois já foi tema de comercial de TV no Brasil.

Aftermath [1966]

Os discos anteriores são bons e importantes, mas é neste aqui que os Stones ganham verdadeira significância na história da música pop. Aftermath traz uma série de novidades, para os Stones e para o rock – tendo sido lançado antes, por exemplo, de Pet Sounds (The Beach Boys) e Revolver (The Beatles). É o primeiro disco inteiramente composto de canções de Jagger e Richards – e são 14 faixas! – e apresenta também o talento de Brian Jones em tocar os mais diversos instrumentos, como as marimbas na base de “Under My Thumb” e um belíssimo acompanhamento de dulcimer em “Lady Jane”. Esses dois aspectos se relacionam com uma nova proposta da banda, que procura fazer um som mais melódico e com arranjos mais precisos e que parece atirar para vários lados, acertando pelo menos quase todos, na minha opinião. Apesar de não contar com “Paint It, Black”, a versão inglesa do disco possui quatro músicas que não saíram na dos EUA: “Mother’s Little Helper”, uma espécie de country lisérgico de primeira, a belíssima “Out of Time” e as popescas, mas nem por isso ruins, “Take It or Leave It” (que, por sinal, foi lançada antes dos Stones pelo grupo beat The Searchers, como single) e “What to Do”. As preferidas da maioria se encontram todas no lado A do vinil, do qual eu destacaria as não tão preferidas e bem blueseiras “Doncha Bother Me” e “Goin’ Home”, esta última sendo a primeira jam de “longa-metragem” lançada em um álbum de rock, com mais de 11 minutos de guitarra hipnótica e um Jagger improvisando letras num clima bem psicodélico, o que inspiraria Jim Morrison a fazer sua “The End”. Destaco também “Stupid Girl”, que, assim como a ótima “It’s Not Easy”, do lado B, é uma faixa bem garageira. Mas é no lado B que estão os clássicos, como “Flight 505”, em cuja introdução o piano imita o riff de “Satisfaction”, a caipira “High and Dry”, que me lembra bastante os Kinks e que possui uma ótima performance de Brian na gaita, e a maravilhosa “I Am Waiting”, também com uso de dulcimer, além da já citada “It’s Not Easy”. Não destaco “Out of Time” pelo simples fato de que a versão de Chris Farlowe para a mesma é arrasadora e insuperável! O final do disco apresenta três cançõezinhas pop nada stoneanas, mas agradáveis de se ouvir, com destaque para “Think”.

Between the Buttons [1967]

Neste disco, os Stones apenas aperfeiçoaram o que haviam feito em Aftermath, produzindo um álbum talvez menos ousado, mas muito bem elaborado e que é meu segundo favorito! Apesar de iniciar com a apenas razoável “Yesterday’s Papers”, que, ao lado da semi-garageira “All Sold Out”, são os dois únicos pontos baixos – mas não tão baixos – do disco, a banda acerta o ponto na segunda faixa, a linda e também semi-garageira “My Obsession”, e depois daí é uma sucessão de belíssimos trabalhos de composição e performance vocal e instrumental. Difícil destacar as melhores do disco, pois ele é muito regular, mas vale notar a presença de lindas baladas como “She Smiled Sweetly”, tão doce que caberia perfeitamente em um disco como Pet Sounds, ou minha favorita “Back Street Girl”, que saiu apenas na versão inglesa, uma balada nostálgica com letra nada convencional – versos como “por favor, não perturbe minha esposa” e “só quero que seja minha garota da rua de trás” são bem sugestivos – e com Brian Jones tocando magistralmente acordeom e vibrafone. É de fazer chorar! Outro destaque é a animadíssima “Cool, Calm & Collected”, que possui um refrão quase sussurrado (que deve ter inspirado bastante Syd Barrett), um solo de um instrumento que não consigo identificar e um final que vai acelerando até uma mini-explosão. O lado mais rocker do disco é representado pelas ótimas “Connection”, “Please Go Home”, “Complicated” e “Miss Amanda Jones”, todas com ótimas guitarras de Richards, em especial essa última. “Please Go Home”, que também se encontra apenas nessa versão inglesa, utiliza a famosa base criada por Bo Diddley para uma canção de ar rebelde mas também viajante, na linha do que vinham fazendo os Byrds, utilizando inclusive o famoso theremin. “Who’s Been Sleeping Here?” é uma faixa nitidamente inspirada em Bob Dylan, enquanto que “Something Happened to Me Yesterday” funde elementos folk a outros de jazz tradicional, com destaque para o assobio que dialoga com o vocal todo o tempo e para o divertidíssimo refrão cantado por Keith. A faixa encerra esse disco espetacular de forma igualmente espetacular! Resumindo: os Stones mostram, em Between the Buttons, que têm muito o que ensinar aos indies de hoje!

Their Satanic Majesties Request [1967]

Esqueçam tudo o que sabem sobre Rolling Stones! Enquanto seu ídolo Robert Johnson fez um pacto com o demônio, os Stones tornam-se eles próprios senhores do mundo das trevas, e a chegada de Suas Majestades Satânicas é introduzida solenemente pelo piano e instrumentos de sopro reproduzindo sombriamente o tema da primeira faixa “Sing This All Together” e fazendo você pensar que comprou o disco errado, pois aquilo não pode ser Rolling Stones! Mesmo após a introdução, quando Jagger começa a cantar e a canção ganha corpo, a música não lembra nada o que os Stones sempre costumaram fazer. Nem os dois discos anteriores chegaram a tanto! Uma característica intrigante é o farto uso de mellotron, geralmente tocado por Brian Jones, que mantém o uso de diversos instrumentos. “Citadel” parece ser um eco do passado, na medida em que transita entre a agressividade proto-punk/hard dos Stones, presente aqui no riff direto, na bateria forte e nos vocais mais despojados de Jagger, e a atmosfera própria desse álbum, com uma barulheira infernal – talvez literalmente. “In Another Land”, composta e cantada pelo baixista Bill Wyman, é uma lindíssima faixa barrettiana (um dos motivos para se comparar esse disco com o primeiro do Pink Floyd, tanto melodicamente como em seus traços de psicodelia e já quase um space-rock). A letra fala de uma pessoa que constantemente acorda e se vê novamente dentro de outro sonho, e os sacanas Jagger e Richards aproveitaram pra inserir ao final dela uma gravação que haviam feito do próprio Bill Wyman roncando! “2000 Man” mostra uma elaboração ainda maior que a faixa anterior e uma certa ênfase no violão, o que a torna uma precursora do que os Stones fariam nos discos posteriores. A versão que o Kiss fez pra essa música não ficou ruim, mas é impossível não preferir mil vezes a original, que é um clássico! Em seguida, temos uma faixa que deve aterrorizar os fãs comuns da banda: “Sing This All Together (See What Happens)”, onde a banda pega o inocente tema da faixa inicial e lhe faz um tremendo estrago, como que transformando em sons as coisas mais loucas que o cineasta experimental e amigo da banda Kenneth Anger faria em imagens, chegando mesmo a antecipar a sonoridade hipnótica e a barulheira que só ouviríamos nos discos de krautrock! O encerramento da faixa, que fecha o lado A do vinil, seria a trilha perfeita para o mais sinistro filme de terror asiático! Já o lado B abre com “She’s a Rainbow”, forte candidata a melhor música dos Stones, uma faixa tão linda e doce – similar a algumas músicas do comecinho do Yes – que lhe faz esquecer todas as trevas das músicas anteriores. Em vão, pois a seqüência traz três temas floydianíssimos, no sentido mais obscuro: “The Lantern”, faixa inteiramente espacial, “Gomper”, que traz uma sonoridade oriental ao estilo de “Chapter 24”, do Pink Floyd – porém, os Stones se saíram ainda melhor – e “2000 Light Years from Home”, a menos boa do disco, mas que se destaca por ser precursora tanto do space-rock como talvez do som gótico dos anos 80! “On with the Show”, em que Jagger canta como se discursasse para uma platéia, encerra de forma genial esse clássico absoluto da psicodelia e – por que não? – da pré-história do rock progressivo!

Beggars Banquet [1968]

Se, na Bíblia, os empregados são enviados pelo seu senhor (Deus) para convocar a escória, a ralé, para seu banquete majestoso, Mick Jagger encarna Lúcifer em “Sympathy for the Devil” para destronar quaisquer majestades não-satânicas e iniciar o seu próprio “banquete dos mendigos”. E nesta faixa, mais uma séria candidata a melhor música dos Stones, tudo é perfeito, da letra aos extasiantes backing vocals, passando pelo magnífico falsetto de Jagger e pela sessão de exorcismo que Keith realiza em sua guitarra endiabrada! Dois aspectos podem ser ressaltados no álbum em questão, e o primeiro deles é a fúria que transborda de seus melhores momentos. Segundo o próprio Keith, depois de todos os problemas com drogas, incluindo batidas, julgamentos e prisões, eles queriam mais que as fadas, os duendes e os gurus indianos fossem ter com suas promíscuas mães! Para sentir essa fúria, basta ouvir “Street Fighting Man”, faixa que deve estar na jukebox de Bruce Springsteen e que transporta para uma “rock ‘n’ roll band” os ecos do Maio de 68, visto que na “sleepy London town”, não há lugar para lutadores de rua! O outro aspecto é a simbologia do título desse disco: temos realmente um banquete de mendigos, com os Stones voltando às raízes blueseiras e explorando a música acústica – muito também por influência de Gram Parsons –, extraindo da simplicidade mais prosaica uma farta musicalidade, para o deleite dos espíritos mais brutos. Isto pode ser sentido especialmente na dylanesca – mais uma – “Jigsaw Puzzle”, de melodia simples, mas que dificilmente nos permite não ir às lágrimas. A capa original do disco, uma parede de banheiro pichada com insultos por Jagger e Richards, parecia combinar esses dois elementos, mas teve de ser substituída por uma também criativa capa na forma de um cartão de convite. Outros destaques do disco são a melancólica “No Expectations” – que será tocada em meu enterro –, o blues rabugento de “Parachute Woman” e as três belíssimas faixas acústicas: “Dear Doctor”, “Prodigal Son” e “Factory Girl”. O único problema aqui é a decadência de Brian Jones, que, apesar de belas contribuições como o slide de “No Expectations” e a gaita de “Dear Doctor”, não era mais uma presença determinante nas criações da banda, e terminaria por sair da banda, sem condições de continuar. Mas, para sentirem a grandeza do disco, as faixas que deixei de mencionar são as queridinhas dos fãs “Salt of the Earth” e “Stray Cat Blues”, esta um hard rock bem carregado, raivoso e barulhento. Então, acomode-se e aprecie esta mesa farta de iguarias, pois, como o Lúcifer da canção, este é um álbum “de riqueza e bom gosto”!

Let It Bleed [1969]

Um clima cool, quase de bossa-nova, dá início a “Gimme Shelter”, primeira faixa desse disco de transição – transição nos Stones e transição nos tempos! O que se segue a essa introdução simboliza bem isso: a bateria passa a marcar um ritmo mais severo, meio hard, para então entrar o vocal angustiado de Jagger. Mais angustiado ainda será o vocal da cantora Merry Clayton, na mesma faixa, que, contendo também um riff sujo e debochado da guitarra de Keith, é a consumação do grito furioso de Beggars Banquet. Parodiando as metamorfoses de que fala o Zarathustra de Nietzsche, em 1967, os Stones lidavam ainda com “seres imaginários” e estavam portanto no estágio do camelo, passando, com Beggars Banquet, ao estágio do leão, o revoltoso, para então chegar, neste álbum, ao estágio de criança, acima do bem e do mal. A banda esbanja sua vontade segura na despojada – mas nem por isso menos genial – “Country Honk”, na jovial “Live with Me” – que iniciaria não só os solos de sax de Bobby Keys, mas também um estilo próprio de canções stoneanas mais animadas – e na inescrupulosa “Midnight Rambler”, que fala de um estuprador e assassino – dizem que uma moça atingiu o orgasmo assistindo a essa música em um show! Curioso é que a capa desse disco seria a que terminou pertencendo ao posterior Sticky Fingers, pois foi perdida antes do lançamento de Let It Bleed. Ao se abrir o zíper da calça que é a capa, surgiria o dizer “let it bleed”, e você interpreta isso como lhe parecer melhor! Outros destaques são a modernosa e funkeada “Monkey Man”, que poderia figurar sem problema em um disco do INXS, e a melhor do disco: “You Got the Silver”, uma balada country-blues, de instrumental magnífico, cantada pelo coração de Keith Richards, que se rasga violentamente no último verso! O disco conta ainda com “You Can’t Always Get What You Want, uma de suas canções mais amadas, a faixa-título – cuja letra parece ter sido inspirada em algum filme de sexo bizarro – e uma boa versão para “Love in Vain”, de Robert Johnson. Let It Bleed marca a saída de Brian Jones da banda e sua substituição por Mick Taylor. A morte inesperada de Brian foi homenageada por um show no Hyde Park onde foi oficialmente lançada a banda King Crimson, grande baluarte do rock progressivo. Este show, junto com o de Altamont realizado um dia após o lançamento de Let It Bleed, em que foi brutalmente assassinado o fã Meredith Hunter, marca, sob a aura desse disco, o fim dos anos 60 e seus ideais e o início dos anos 70: chega de paz e amor; é preciso deixar sangrar!

Discografias Comentadas: The Rolling Stones – Parte II

 Discografias Comentadas: The Rolling Stones – Parte II

Nesta semana, a coluna Discografias Comentadas traz a segunda parte da discografia dos Rolling Stones, englobando os discos lançados na década de 70 (de 1971 a 1980). Mick Jagger (voz), Keith Richards (guitarra), Bill Wyman (baixo), Charlie Watts (bateria) e o então novo membro Mick Taylor (guitarra) adentraram a nova década cobertos de glória, fama, problemas, incertezas e desafios. Por um lado, eram uma banda no auge da popularidade e agora com gravadora própria (Rolling Stones Records), podendo lançar seus discos como bem entendessem – inclusive com a capa que quisessem. Por outro lado, descobriram ter sido enganados pelo antigo empresário Allen Klein, o qual ganhou direito sobre tudo o que a banda lançou até 1970, o que fez muita música de fins da década de 60 só aparecer nesses primeiros álbuns dos anos 70. Musicalmente falando, Keith Richards se dedica mais à guitarra-base, deixando boa parte dos solos para Taylor, guitarrista mais técnico, mas, na minha opinião, sem o diferencial que marca os trabalhos de Keith. Os dois primeiros discos da década, Sticky Fingers e Exile on Main St. são provavelmente os mais amados pelos fãs e aplaudidos pela crítica em geral, mas este que vos fala é um apaixonado pela fase Brian Jones, então considero esses discos ótimos, mas longe de serem o ápice criativo da banda. Dito isto, vamos às pedras, quer dizer, às resenhas! Se você não leu a primeira parte clique aqui.

Sticky Fingers [1971]
Uma das capas mais famosas do rock – mais uma de Andy Warhol –, homenageada, entre outros, pelo Mötley Crüe no álbum Too Fast for Love (1981), guarda em seu interior um dos álbuns mais populares dos Stones. Sticky Fingers segue a linha de Let It Bleed, fazendo uma mescla de rock, country e blues, com pitadas de soul e funk, e exaltando os excessos da vida rockeira, de forma às vezes chocante – tal como a capa em que se pode abrir o zíper da calça e deparar-se com uma cueca de algodão! Os Stones mantêm a tradição de decidir tudo no primeiro round (como em “Sympathy for the Devil” e “Gimme Shelter”, que iniciam, respectivamente, Beggars Banquet e Let It Bleed), e o golpe da vez é a contagiante “Brown Sugar”, similar a “Live With Me” do disco anterior, mas se destacando pelo riff, simples mas inesquecível, e pelos empolgantes gritos de “yeah” em coro, quase ao final. Mas a banda nunca foi um time retranqueiro e não quer saber de “administrar o jogo”. Depois de nocautear o ouvinte com a primeira faixa, eles pisoteiam o adversário com uma série de golpes certeiros. O primeiro deles é “Sway”, faixa até meio esquecida da banda, mas muito emotiva, carregada, antecipando os melhores momentos de Exile on Main St., e com destaque para as guitarras de Jagger e Taylor – Keith faz apenas backing vocals – e o vocal exasperado de Jagger. A clássica “Wild Horses” não me agrada tanto quanto outros clássicos dos Stones, mas jamais poderei considerá-la ruim. A faixa seguinte, “Can’t You Hear Me Knocking”, seria um ótimo número dos Stones, com um belo groove e um refrão ótimo pra cantar junto, e nada mais que isso, se a banda não tivesse se empolgado após o “fim” da faixa e realizado uma jam no maior estilo Santana que não havia sido programada, mas que – graças a Deus ou ao Diabo – ficou registrada, para honra e glória de nós, ouvintes! Após o cover pantanoso do blues “You Gotta Move”, temos “Bitch”, faixa bem direta e de andamento quadrado, com um arranjo pra metais e um riff que lembra “Rock ‘n’ Roll Queen” do Mott the Hoople. “I Got the Blues” lembra as soul ballads de Otis Redding e possui uma linda interpretação de Jagger e um belo solo de Billy Preston ao órgão. “Sister Morphine”, com seu clima de ressaca, antecede “Dead Flowers”, que figura entre minhas canções country favoritas, com seu refrão marcante e sua letra deprimente. Pra encerrar o disco, a belíssima “Moonlight Mile”, faixa altamente zeppeliniana (Dá até pra imaginar Robert Plant cantando essa música!). Com a delicadeza de seu arranjo e execução, incluindo mesmo um arranjo de cordas que a certa altura acompanha uma marcha solene iniciada pela guitarra, é um encerramento de disco bastante majestoso, situado em alturas muito elevadas que exigirão uma queda dolorosa para que se chegue à lama de onde brota o disco seguinte!
Exile on Main St. [1972]
Exile é um album de raiz. Vai tão fundo nas raízes que traz à tona toda a sujeira, excrementos, enfim, tudo o que há de mais vil e baixo no universo do rock. O disco foi gravado na Villa Nellcôte, antigo bunker nazista apropriado por Keith e ocupado nessa época pela banda e por músicos, traficantes e drogados diversos, os quais geraram mitos que serviriam de objeto para livros e filmes diversos, e nas horas vagas geraram também um mito chamado Exile on Main St.! Muitos poderiam reduzi-lo a um álbum simples, como eu mesmo, que não gosto tanto das faixas mais blueseiras. Não se pode, porém, dizer que há nele faixas mal trabalhadas ou desnecessárias. Mesmo a faixa mais estranha do disco, “I Just Want to See His Face”, provavelmente a que menos gosto, é uma das músicas favoritas do músico Tom Waits! Vamos então aos meus destaques, só ressaltando que são meus, e não seus ou do Tom Waits! Os Stones gravaram mais uma sensacional faixa de abertura na história: “Rocks Off” – faixa que, por algum motivo, me soa bem “anos 90” – é mais uma faixa animada, mas não como as anteriores dos Stones. A coisa toda parece surgir de alguma decepção, uma decepção tão grande que você se afogou na bebida – ou no que mais preferir – até perder a noção de si, chegando a um estado de desesperada euforia! Jagger canta: “I can’t even feel the pain no more!”. Tudo nessa música convida ao êxtase: a estrofe, a ponte, o refrão, sendo este um caso à parte: uma mixórdia de vozes, onde mal se sabe quem é a voz principal e quem são as vozes de fundo, isso tudo sobre uma cama sonora que parece ter sido destruída por uma noite de sexo selvagem! Jagger chegou a reclamar de não ouvir sua própria voz na música, mas é essa indefinição total o que torna a faixa espetacular! Aliás, a performance vocal de Jagger está melhor do que nunca em Exile, e o auxílio dos backing vocals confere ainda uma maior perfeição à parte vocal do disco. A faixa seguinte, “Rip This Joint”, não é das minhas favoritas, mas destaca-se, com sua rapidez e agressividade, por anteceder o punk em uns quatro anos! Destaque verdadeiro vai para “Tumblin’ Dice”, faixa com grande apelo country, onde a guitarra de Keith chora e faz chorar, e onde, próximo ao final, ele entoa um “keep on rollin” que parece se dirigir à própria banda! Destaco também as diversas faixas lentas, pelas quais cabe saudar Mick Jagger, que foi o responsável pela sonoridade gospel de boa parte do álbum, quando as gravações se transferiram para Los Angeles e ele fez os arranjos pra piano e vozes de apoio, tentando “tirar o disco da lama”! Destaque em especial para as belíssimas “Loving Cup” e “Let It Loose”, esta última – que certamente serviu de modelo para as melhores baladas do hard oitentista – possuindo uma das mais emocionadas interpretações de Jagger! Uma das canções mais populares do disco é “Happy”, composta quando Keith chegou cedo demais para as gravações e não tinha nada pra fazer! A faixa seguinte, porém, eu considero muito mais digna de figurar entre os clássicos da banda. “Turd on the Run” é uma espécie de skiffle com sotaque punk, tão empolgante – e também subestimado – que você nem liga se o título da música é realmente “cocô em fuga” e já está cantando junto o verso “I lost a lot of love over you!”, sempre seguido de gritos e da gaita furiosa de Jagger! Pra fechar o disco, escolheram “Soul Survivor”, uma grande música, funkeada e bem “pra cima”, mas que pouco ou nada tem de música de encerramento! Mas, se considerarmos que essa experiência sonora foi um verdadeiro “exílio” nas terras lamacentas de onde brotou o rock – e não são poucos os que consideram esse disco a cartilha básica do estilo –, nada melhor que uma faixa como essa, com cara de começo, pra encerrar o disco: foi oficialmente inaugurado o rock ‘n’ roll!

Goats Head Soup [1973]

Gravado na Jamaica, um dos únicos locais no mundo onde todos da banda ainda tinham permissão pra ficar nessa época, o sucessor de Exile on Main St. pode não conter tantas canções realmente memoráveis como o disco anterior, mas é um álbum consistente, sem nenhuma falha e com algumas faixas marcantes. O disco possui uma sonoridade influenciada pelo glam rock de então e talvez pelo ambiente e a variedade de nacionalidades a que pertenciam as diversas pessoas envolvidas na gravação. Uma magia – negra, pois negra é a música dos Stones – parece tomar conta da atmosfera, e você pode sentir as forças malignas que são libertas de seu sono milenar pelas primeiras notas de guitarra que iniciam “Dancing with Mr. D” (“Death” ou “Devil”?). O vocal de Jagger soa abafado por toda a faixa, como se fosse uma presença sobrenatural ou estivesse a esbaforir fogo e enxofre! Na continuidade, porém as coisas se acalmam com a bela “100 Years Ago”, faixa calma, de clima nostálgico, com um encerramento mais acelerado. “Coming Down Again”, balada bastante calma onde Keith canta sobriamente as estrofes, deixando Jagger comandar os refrões, não está no nível de uma “Let It Loose”, por exemplo, mas é uma ótima balada, tão boa quanto a clássica “Angie”, que se encontra mais à frente nesse disco. O título de “Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)” pode enganar, mas na verdade a letra não versa sobre amor, e sim sobre a morte precoce do possível amor que habitaria o coração de uma criança de dez anos, baleada no peito em um erro policial. Jagger deixa entrever um pouco da visão de tal cena odiosa em sua interpretação, mas a música, em geral, tem um astral elevado. Após a famosa “Angie”, a banda entra com “Silver Train”, faixa ainda mais animada e com um ar mais tradicional. Apesar de ser distinta do restante do disco, a faixa, que canta o amor de uma prostituta, não soa deslocada. “Hide Your Love” parece conduzir o disco de volta a sua atmosfera típica, investindo em motivos tradicionais como a faixa anterior, dessa vez na forma de um blues lento ao piano, mas retornando àquela ambiência quase mística. Essa ambiência irá dominar as duas faixas seguintes, “Winter” e “Can You Hear the Music”, em especial a primeira, que possui um belo arranjo de cordas. Pra encerrar o disco, a versão tipicamente stoneana do “Ziggy Stardust” de Bowie: “Starfucker”! Os distribuidores insistiram para que mudassem esse título, que acabou virando “Star Star”, mas a banda repete incansavelmente esta doce alcunha durante os refrões. Ainda imiscuída no universo glam, com um toque de Chuck Berry, a faixa se despede, entretanto, da aura esotérica que permeia o disco, prenunciando o próximo lançamento da banda.
It’s Only Rock ‘n’ Roll [1974]
Este é o último disco a contar com Mick Taylor nas guitarras, e Ronnie Wood (ex-guitarrista dos Faces) faz já sua primeira aparição, na faixa-título, mas não como guitarrista oficial. Este foi o primeiro CD que comprei da banda, mas o considero o disco que inicia a pior fase da carreira dos Stones! Mas quem disse que o pior precisa ser ruim? Apesar de não contar com tantos clássicos quanto os discos anteriores e de apresentar um Keith Richards cada vez mais decadente em seu vício, os álbuns dessa fase possuem momentos bastante agradáveis, alguns realmente memoráveis. It’s Only Rock ‘n’ Roll (também referido como IORR), em particular, conta com a melhor atuação de Mick Taylor nos Stones, a meu ver, apesar de ele não participar de três das faixas contidas no álbum. Vamos então ao disco! Diferentemente dos álbuns anteriores, que sempre abriam com faixas marcantes, IORR inicia com “If You Can’t Rock Me”, a faixa mais AC/DC dos Stones, que revela a permanência da sonoridade glam no som da banda, mas sem o brilho de Goats Head Soup. Entretanto, seu refrão parece referir-se a ela própria, quando diz: “If you can’t rock me, somebody will!”. Esse “somebody” se encontra mais à frente, após o cover bacana de “Ain’t Too Proud to Beg”, e é a própria faixa-título. “It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)” é um verdadeiro hino! É nitidamente inspirada em “Get It On”, do T. Rex, mas não constitui de forma alguma uma mera cópia, e decidir qual a melhor das duas é um dilema! As baladas desse disco não se equiparam às do anterior, mas são boas. A primeira delas, “Till the Next Goodbye”, e a faixa posterior, “Time Waits for No One” foram em parte as responsáveis pela saída de Mick Taylor, pois ele queria receber crédito como co-autor por ambas. Na minha opinião, elas não valem isso tudo, mas eu destaco nessa última o próprio Taylor, que faz um trabalho de guitarras impecável! Vale destacar ainda “Luxury”, a ótima “Short and Curlies”, que resgata a sonoridade de Exile on Main St., mas sem figurar como clássico, e, por fim, talvez o primeiro “funk até o caroço” dos Stones, “Fingerprint File”. Essa faixa possui um ótimo trabalho de bateria do subestimado Charlie Watts e do baixo, aqui tocado por Mick Taylor – Bill Wyman toca sintetizador –, pra não falar das guitarras envenenadas de Keith e Jagger e do vocal debochadíssimo deste último – os primeiros “hmm-hmm” são de arrepiar! Resumindo, IORR é um disco agradável, mas que está longe de ser um clássico. É apenas rock ‘n’ roll. (Mas eu gosto!)
Black and Blue [1976]
O disco foi gravado enquanto os Stones ainda selecionavam o substituto de Mick Taylor na segunda guitarra, e alguns dos candidatos à vaga são os responsáveis pelas seis cordas em algumas músicas, incluindo obviamente aquele que seria o definitivo segundo guitarrista dos Stones até hoje, Ronnie Wood. Black and Blue dá continuidade a IORR, já abrindo com mais um legítimo funk, mas dessa vez não tão cafajeste: “Hot Stuff” é bem mais limpa (lembrando um pouco a “Stuff Like That” de Quincy Jones, já pelo título) e inferior a “Fingerprint File”. Em seguida, o primeiro destaque do disco, “Hand of Fate”, com um vocal bem cheio de Jagger e um belíssimo solo do guitarrista Wayne Perkins. Em vez de blues ou soul, o cover presente aqui é do reggae “Cherry Oh Baby”, bem similar à original de Eric Donaldson. Os Stones seguem com suas baladas lentinhas e seguem piorando. “Memory Motel”, com um trecho cantado por Keith ainda tem seu charme, mas a famigerada “Fool to Cry” só me desce em dias bem generosos. “Hey Negrita”, “inspirada por Ronnie Wood”, não impressiona, enquanto que “Melody”, “inspirada por Billy Preston”, o qual toca piano e auxilia Jagger nos vocais, é bem interessante, lembrando um pouco “Hide Your Love” e fazendo um verdadeiro resgate da musicalidade negra dos anos 40 e 50 nos EUA. Os Stones mais uma vez resolvem investir suas fichas no encerramento do álbum, com a linda “Crazy Mama”, onde Keith esbanja sentimento com seu choroso riff de notas ligadas e se unindo a Jagger para o simples e belíssimo refrão, não conseguindo, porém, tornar o álbum mais do que mediano.


Some Girls [1978]
Esse disco marca a alegada “limpeza” de Keith, que se livraria da heroína e recuperaria o “s” no final de seu sobrenome, tentando recuperar, além disso, sua parcela de liderança nos rumos do grupo! Por ora, no entanto, é Jagger ainda quem comanda o barco. A banda mais uma vez abre o disco com um funk – quase disco –, dessa vez com um certo tempero de blues, na faixa “Miss You”. A fórmula tinha tudo pra dar certo, e pra muita gente até deu, mas comigo essa música não desce muito bem, apesar de dois pontos altos: o trecho “oh, baby, why you wait so long” e o solo de sax da lenda Mel Collins, antecedido por um gritinho de Jagger. O que se vê depois é a imagem do pai que se rende à rebeldia dos filhos: os Stones substituem suas faixas animadas tradicionais por uma espécie de “punk institucionalizado” (chamo institucionalizado, pois o que são os Stones senão uma verdadeira instituição, cujo símbolo da boca-e-língua – um convite à felação? – é a própria logomarca do rock?). “When the Whip Comes Down”, “Lies”, “Respectable” e “Shattered” são, cada uma a seu modo, sinais de adaptação dos Stones aos novos tempos de músicas mais simples, rápidas e diretas – a primeira nem tanto (outro efeito do punk sobre a banda foi a diminuição dos músicos adicionais, sendo esse disco e o posterior fortemente centrados no trabalho dos membros da banda). A banda, porém, costuma se dar bem nessas atiradas loucas, e “Lies” e “Respectable”, principalmente, têm seu valor. No lado A, temos ainda a versão bacana para “Just My Imagination” e a faixa-título, razoável e que tem um pé no reggae. Mas é no lado B que a banda surpreende! Logo de início, na belíssima “Far Away Eyes”, Mick Jagger rende um tributo à música country, em sua vertente denominada “Bakersfield sound”, citando até a cidade na letra – que é ótima. Destaque para o refrão, que me tenta fortemente a considerar essa a melhor música dos Stones, e para a guitarra slide de Ronnie Wood, que se alia ao refrão nessa causa! A segunda surpresa é “Before They Make Me Run”, cantada por Keith e que também possui um certo feeling country, mas numa linha mais animada. E, finalmente, antes de encerrar o disco com “Shattered”, ouvimos uma canção tão bonitinha, tão fofinha, que deve ter indignado uma boa parcela dos fãs cabras-machos da banda! Ouvir Jagger e Richards em falsetto cantando “pretty, pretty, pretty, pretty, pretty, pretty giiirls”, como se estivessem a acariciar um bebê, só pode ser brincadeira! Mas é uma brincadeira sensacional! Como não tenho necessidade de afirmar minha masculinidade e assim reprimir algum desejo oculto, “Beast of Burden” entra para a minha lista de melhores baladas dos Stones, sem dúvida alguma!

Emotional Rescue [1980]

Apesar de o disco anterior ter dado um sopro de vida na música dos Stones, sendo superior a Emotional Rescue, aqui se realiza um certo resgate da desorientação de meados da década de 70, pois o disco serve de molde para bons trabalhos que o seguiriam, abrindo caminho para o aclamado Tattoo You, além de apresentar fortes sinais da recuperação de Keith Richards. Uma primeira cartada contra o anterior aparece logo de cara: “Dance (Pt. 1)” é o funk definitivo da banda, onde tudo funciona perfeitamente bem! Quando eu era criança, meu pai tinha esse CD, e eu lembro de pegá-lo para ouvir, permitindo que as faixas passassem com certa impaciência, até não aguentar e retornar para essa, que foi a primeira música dos Stones pela qual me apaixonei! Há ainda as incursões no punk, com “Let Me Go”, “Summer Romance”, “Where the Boys Go” e “She’s So Cold”, esta possuindo um clima mais light. Nenhuma chega a impressionar, mas não são um lixo total. “Send It to Me” mantém as influências de reggae, enquanto “Indian Girl”, uma faixa consistente, de sonoridade country, não chega a ser um clássico, mas faz viajar em seu clima distante, especialmente se atentarmos à letra, que narra o drama de crianças do Terceiro Mundo, cujos pais se enfrentam em duras guerras civis. “Down in the Hole”, apesar de não me agradar muito, é mais um diferencial, pois tem os pés totalmente fincados no blues, estilo que recupera seu lugar de direito no som da banda. A faixa-título é mais uma incursão na disco-music, interessante, mas nem de longe uma grande música. O encerramento, com “All About You”, tal como quase todo o disco, é um tanto morno, mas novamente abre caminho para boas coisas que os Stones fariam depois, no caso, músicas lentas com o vocal grave de Keith. Resumindo, Emotional Rescue é isso: um disco morno, mas cuja fórmula seria aperfeiçoada e garantiria a sobrevida da banda!

Destaque

CRONICA - JASON BOLAND & THE STRAGGLERS | Somewhere In The Middle (2004)

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