sábado, 1 de outubro de 2022

BIOGRAFIA DOS RAIMUNDOS


 

Raimundos é uma banda de rock brasileira formada em Brasília em 1987.[1] O nome é derivado de uma de suas maiores influências, a banda Ramones. Com oito discos autorais, trinta anos de existência e mais de cinco milhões de cópias vendidas, é uma das principais bandas de rock no Brasil.[2][3]

História

Primeira fase (1987-1992)

O grupo foi constituído em Brasília no ano de 1987. Era formado pelos vizinhos Digão, na bateria, e Rodolfo Abrantes, na guitarra.[4] Eram influenciados pelas bandas Dead KennedysSuicidal Tendencies e Ramones,[5] atuando como cover desta última. Na época, faltava um baixista, e então Canisso passou a tocar com a dupla.[6]

A primeira apresentação da banda foi realizada na casa de Gabriel Thomaz, cantor do Autoramas, durante a virada de ano de 1988.[7] Fred, que estava presente naquela apresentação, eventualmente se tornou baterista da banda.[8] Dentre suas influências, Raimundos também incorporou a cultura nordestina,[9] em parte em virtude do compositor de forró Zenilton, considerado pelos integrantes da banda como sua maior influência nordestina.[10] Rodolfo, mais tarde, recordou: "Minha família é da Paraíba, e eu me lembro que desde os dez anos, eu sempre ia naqueles churrascos com os meus pais. Tocava forró o tempo inteiro, e eu achava aquilo um saco. Só gostava das canções do Zenilton, por causa das letras sacanas, achava aquilo muito fera."[11]

O ritmo da banda se manteve constante até sua separação, em 1990:[12] Canisso começou a estudar Direito na Universidade de Brasília e teve filhos; Digão deixou de tocar bateria por problemas auditivos e começou a tocar guitarra;[13] e Rodolfo por sua vez passou a cantar na banda Royal Street Flesh,[14] casou-se e mudou-se para o Rio de Janeiro.[15]

O retorno e o sucesso pelo Brasil (1993-97)

O retorno se deu em 1992 com uma oportunidade em tocar em um bar de Goiânia.[16] Como Digão havia passado para a guitarra, a banda começou a procura por um baterista, chegando até a utilizar uma bateria eletrônica. Não obtendo bons resultados, recrutam Fred, que na época já era fã do grupo.[17][18] No ano seguinte a banda gravou uma fita demonstrativa contendo "Nega Jurema", "Marujo", "Palhas do Coqueiro" e "Sanidade", iniciando então divulgação pelo país. A banda passou a ser reconhecida pela mídia e por outras bandas, e foi convidada a tocar no Rio de Janeiro. Nesta época, abriram apresentações de Camisa de Vênus e Ratos de Porão no Circo Voador, além de uma temporada para o Titãs.[19]

Em 1994, lançam seu primeiro disco, intitulado apenas como Raimundos, pelo selo Banguela dos Titãs.[20] O disco teve boa aceitação, vendendo mais de 150 mil cópias.[21] O som pesado, com letras cheias de palavrões e com fortes influências nordestinas, chamou a atenção da mídia e do público, com canções como "Puteiro em João Pessoa". O grande sucesso do álbum foi a balada pornô-erótica "Selim", que impulsionou as vendas do disco e tornou a banda conhecida no país inteiro. O álbum foi de extrema importância para o cenário musical brasileiro, devido ao som inovador (intitulado "forró-core") e ao fato de ter sido um dos responsáveis pela "abertura de portas" para o rock dos anos 90, influenciando praticamente todas as bandas que se formariam depois.[22][23]

Em 1995, voltam ao estúdio pra gravar Lavô Tá Novo pela gravadora Warner. Com mais ênfase no hardcore em detrimento ao forró, gerou sucessos como "Esporrei Na Manivela", "Pitando No Kombão", "O Pão da Minha Prima" e "I Saw You Saying (That You Say That You Saw)" e superou as vendas do original.[24][25] Os Raimundos se consolidaram com participações nos festivais Monsters of Rock e Hollywood Rock, onde tocaram ao lado de grupos clássicos como Motorhead e Iron Maiden.[26] Em 1996 a banda lança uma caixa com CD, história em quadrinhos e fita VHS chamada Cesta Básica.[27]

Crise (1998)

Em 1997 vão até Los Angeles para gravar Lapadas do Povo. O disco deixa de lado letras e melodias engraçadas, investe no peso e em letras mais sérias. Entre as canções destacam-se "Andar na Pedra" com um clipe estrelado pelo ator Matheus Nachtergaele, uma regravação de "Oliver's Army" de Elvis Costello, e uma versão de uma canção dos Ramones, "Pequena Raimunda (Ramona)". Apesar das boas críticas, o disco acaba vendendo menos que os anteriores.[28][29] Para piorar, em um show na cidade de Santos, litoral de São Paulo, um dos alambrados onde o público saía caiu, provocando a morte de oito pessoas e 67 feridos. Posteriormente classificado como "eterna ferida", a banda se abalou com o ocorrido e cancelou diversas apresentações.[30][31]

Retorno ao sucesso (1999-2001)

Em 1999 a banda volta ao sucesso com Só no Forévis, o disco mais vendido da banda.[32] Um fato curioso foi que a primeira tiragem do CD foi roubada, o que levou os Raimundos a saírem tanto nas páginas policiais quanto nas páginas de cultura dos jornais.[33] Fora esse pequeno incidente, tudo tinha voltado como antes, com letras mais debochadas e bem humoradas, assim como nos primórdios da banda.[34] O disco emplacou vários hits nas rádios e na MTV Brasil, como "A mais Pedida", "Me Lambe"[35][36] e "Mulher de Fases", a música de maior sucesso da banda.[37] Para coroar a ótima fase, em 2000 a banda lança, no auge de seu sucesso,[38] junto com a MTV, um álbum duplo ao vivo reunindo seus maiores sucessos, MTV Ao Vivo, gravado em Curitiba e São Paulo.[39]

Saída de Rodolfo e Canisso (2002-05)

No começo de 2001, Rodolfo e sua esposa se converteram ao evangelho, e o músico decidiu deixar a banda para viver de acordo com sua crença.[40][41] Os integrantes restantes resolveram retornar com a banda.[42] Lançaram o disco Éramos Quatro, com uma regravação de "Sanidade" e diversas covers, especialmente dos Ramones.[43] Na turnê do álbum entrou na Banda o guitarrista Marquinho (ex-Peter Perfeito).[carece de fontes]

No ano seguinte, em 2002, lançaram o primeiro álbum totalmente inédito, Kavookavala,[44] que ao contrário dos antigos não foi trabalhado pela gravadora,[45] e teve uma venda inexpressiva,[46] além da saída do baixista Canisso no começo da turnê.[47] A partir desse momento a banda entrou em crise com a gravadora Warner. Depois de um ano tentando se livrar da gravadora, a banda finalmente conseguiu em 2004.[48]

Saída de Fred e Alf - retorno de Canisso e chegada de Caio (2006-10)

Em 2005 a banda volta à cena. Com o baixista Alf, também vocalista do Rumbora, a banda gravou o Ep Pt Qq cOisAh, que foi disponibilizado para download gratuito via o site da MTV.[carece de fontes]

Depois de um longo período fora da mídia, desgastes e concertos cancelados, surge a necessidade dos integrantes seguirem suas carreiras com projetos paralelos. Digão e Denis Porto lançam o Denis & Digão pela Universal Music, e o SuperGalo (Fred, Alf e inicialmente Marquim).[carece de fontes]

O tempo passou, e com ele vieram os choques de agenda, fato que ocasionou o retorno de Canisso, inicialmente apenas para um concerto. Fred, que já andava discordando musicalmente com Digão, resolveu sair da banda, já que tinha brigado com Canisso, que se torna fixo na banda novamente. Caio, baterista do Dr. Madeira, é chamado ao lugar de Fred. A banda voltou a fazer vários shows, lançou uma turnê em 2008, rotulada de "A volta de Canisso", continuaram fazendo shows de médio porte pelo Brasil inteiro, resgatando velhos fãs e conquistando o público mais jovem. Essa turnê conseguiu fazer a banda voltar à evidência. A principal aparição da banda, foi no programa Altas Horas, em abril de 2008. Nesse meio-tempo a banda baixou o cachê para ter mais shows, com Digão agendando os shows, e Canisso se tornando o produtor de estrada e cobrador dos cachês.[49]

No ano de 2009, era possível perceber pistas de que a situação voltaria a ser favorável para a banda. Depois de sete anos longe da grande mídia, a banda se dizia preparada para voltar a tocar junto com os grandes nomes do rock mundial. Digão afirmou: "afinal, uma das bandas que mais fez sucesso nos anos 1990 e início dos anos 2000, jamais se acabaria aos poucos. Pelo contrário, o tempo serviu para aprendermos a não dependermos 100% da mídia sacana!".[carece de fontes]

Década de 2010

No final do ano de 2010 a banda volta a gravar um videoclipe da canção "JAWS"; em 18 dezembro de 2010 a banda realizou a gravação do DVD Roda Viva no Kazebre Rock Bar, em são Paulo. Cerca de 15 mil pessoas compareceram a gravação que conta com cerca de 25 faixas, além das participações das bandas Velhas Virgens e Dead Fish. O DVD foi lançado no dia 15 de janeiro no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em um show com a participação do Dead Fish.[50]

Em maio de 2011, a banda lançou seu DVD Roda Viva no Opinião em Porto Alegre.[51] Em novembro do mesmo ano, apresentou-se no SWU Music & Arts Festival.[52] Em fevereiro de 2012, gravou mais um Luau MTV, na praia do Pepê, no Rio de Janeiro, tocando seus clássicos marcantes.[carece de fontes]

Em 2012, os Raimundos lançaram em conjunto com seus ídolos do Ultraje a Rigor o álbum O Embate do Século: Ultraje a Rigor vs. Raimundos, onde as bandas tocavam músicas do repertório alheio. O álbum foi lançado no dia 20 de julho de 2012, pela gravadora Deck.[53][54] As duas bandas se apresentaram juntas no programa "Agora é Tarde".[carece de fontes]

O oitavo disco de inéditas dos Raimundos e primeiro em doze anos,Cantigas de Roda, foi lançado em 2014. Produzido com a ajuda de Billy Graziadei, líder do Biohazard, começou a ser gravado em setembro de 2013 e foi totalmente financiado por crowdfunding, que alcançou R$ 122,7 mil apesar da mira inicial ser de R$55 mil.[49][55] Canisso descreveu o álbum como sendo de músicas pesadas. "Vai ser uma trilha sonora para rodinha, música de roda".[56] Em julho de 2013 a banda disponibilizou a música inédita Politics" no seu site oficial para download,[57] paralelamente a música também foi lançada na 89 FM A Rádio Rock. Em 13 de julho lançaram na internet o clipe da música em comemoração ao Dia Mundial do Rock.[58][59] Em 2014, a banda tocou na terceira edição do Lollapalooza Brasil.[49]

Em 2015, os Raimundos gravaram duas versões rock do samba "Meu Lugar", de Arlindo Cruz: uma para a abertura do campeonato mundial de skate bowl, o Oi Bowl Jam 2015, transmitido pela Rede Globo, chamada "Meu Lugar (Madureira)";[60] outra para a abertura da novela Malhação, chamada "Vitória pra Comemorar (Meu Lugar)".[61] Em 2016, aconteceu a gravação do DVD Raimundos Acústico em Curitiba, com a participação de vários artistas, como Fred, o baterista da formação original,[62] Ivete SangaloAlexandre Carlo e Marcão,[63] que foi lançado no segundo bimestre de 2017 .[64] Em março de 2017, lançaram o vídeo clipe de "Bonita", a primeira música de trabalho do DVD acústico.[65]

Nos aniversário de 25 anos de lançamento do álbum de estreia da banda, foi lançada a turnê comemorativa com a presença do baterista Fred, na qual dividiu a apresentação com Caio, numa inusitada formação com duas baterias no palco.[66][67]

Em 2019, a banda foi convidada a se apresentar o festival Rock in Rio. Canisso, Digão, Caio e Marquim dividiram o Palco Mundo com a banda CPM 22, sendo uma das apresentações destaques da segunda noite do festival.[68]

Integrantes

Formação atual

  • Digãobateria (1987 - 1992), guitarra (1992 - presente) e vocal (2002 - presente)
  • Canissobaixo e vocal de apoio (1987 - 2002; 2007 - presente)
  • Marquim: guitarra e vocal de apoio (2002 - presente)
  • Caio Cunha: bateria e vocal de apoio (2007 - presente)

Ex-integrantes

  • Rodolfo Abrantesvocal e guitarra (1987 - 2001)
  • Fred Castro: bateria (1992 - 2007)
  • Alfbaixo (2003 - 2006)

Linha do tempo

Discografia

Ver artigo principal: Discografia dos Raimundos

Álbuns de estúdio




          

Mike Oldfield – Ommadawn (1975)


 

Ommadawn é um dos mais delicados discos de Mike Oldfield, e também o seu terceiro longa duração. Traz a surpresa da voz do músico inglês, e mantém-se como um dos melhores momentos da sua extensa discografia.

Para as novas gerações, Mike Oldfield é um nome perdido no tempo, um músico sem qualquer significado, ou até um nome totalmente desconhecido. Mesmo correndo o risco normal de qualquer generalização deste tipo, a verdade é que a grandeza e circunstância que noutros tempos estava apensa ao músico inglês, hoje estará (quase) reduzida a uma nota de rodapé nas vidas de muitos melómanos recentes. É da natureza do tempo e da sua passagem e pouco haverá a fazer. Talvez por isso, a verdade é que nos ocorreu voltar a um dos seus primeiros álbuns, fugindo propositadamente ao estrondoso sucesso da sua estreia a solo, o mítico Tubular Bells (1973). A escolha acabou por recair em Ommadawn (1975), o terceiro longa duração de Mike Oldfield, que a 25 de outubro do ano indicado viu, finalmente, a luz do dia. Foi um parto difícil, uma vez que o disco acabou por estar bastante condicionado por uma série de circunstâncias infelizes, desde a morte da mãe do músico durante o período de estúdio, como ainda alguns problemas nas camadas de óxido das fitas de gravação, que começaram a desprender-se do acetato, o que levou Mike Oldfield a voltar ao início quando o álbum estava já em fase de conclusão. Este problema técnico, aliás, aconteceu ainda um segunda vez, sendo que só à terceira, e já em desespero, o músico conseguiu terminar o seu trabalho. Terá valido a pena todo o esforço e dedicação, uma vez que o disco é histórico, e a história da música terá registado, eventualmente, com este lançamento, um álbum que abriu caminho para o que se vulgarizou chamar-se world music. Pois é, ela talvez tenha nascido para a Europa com Ommadawn.

Este terceiro LP de Oldfield seguiu os preceitos dos anteriores Tubular Bells e Hergest Ridge (1974), álbuns compostos apenas por duas faixas, uma em cada lado da rodela negra de vinil. Musicalmente falando, Ommadawn é uma extensa sinfonia fatiada, onde prevalece, naturalmente, a instrumentação. Ao contrário do seu predecessor, mais pastoral e mais bucólico, aqui Mike Oldfield trilha outros caminhos sonoros, nem sempre bem decifráveis, na verdade, que no entanto poderão ir de mãos dadas com um certo imaginário celta (mas com gosto, não se aflija) e africano, por via dos momentos de percussão. Há, pelos entremeios de tudo isto, um ligeiro esgar prog que pontifica muito bem nos seus pouco mais de dezanove minutos de duração de todo o lado A. São momentos de sonho, ambientes de tranquilidade que parecem infinitos, mas também, a espaços, desafiantes e de alguma inquietação. O coro, por exemplo, ajuda a manter uma certa tensão, que vai surgindo e desaparecendo à medida que a agulha vai trilhando o seu caminho rumo ao fim. Há ainda alguma epicidade lá pelo último terço da faixa “Ommadawn Part 1”, sobretudo através do uso da guitarra elétrica de Mike Oldfield.

Em “Ommadawn Part 2” há algumas diferenças, embora se mantenha, na maior parte do tempo da sua duração, o tom nostálgico, delicado e singelo presente no lado A do disco. O órgão inicial é tremendo, e até por volta dos seis minutos tudo é uma autêntica maravilha, momentos de revigorante elevação. E assim vai crescendo a composição, como se ao sabor dos ventos rítmicos e melódicos gerados na cabeça de Mike Oldfield. A grande surpresa será, não temos dúvidas, o facto de pela primeira vez Oldfield emprestar a sua voz a um registo musical seu. Aparece no momento final do disco, e será, se assim quisermos entender, uma espécie de faixa extra, intitulada, quando saiu em single, como “On Horseback”. É um momento que funciona como homenagem ao tempo em que Oldfield e os seus amigos Murray e Penning (que participam do álbum) cavalgavam em Hergest Ridge, que é, como sabemos, nome de localidade e também do álbum anterior do músico inglês. Ela encaixa na perfeição no fim do lado B do álbum, e é uma bonita e comovente forma de Ommadawn nos dizer adeus.

A propósito de “adeus”, Mike Oldfield não se quis despedir tão cedo de Ommadawn, tanto que a sua intenção foi fazer de Amarok, o seu álbum de 1990, uma continuação do seu terceiro longa duração. No entanto, não ficou por aí, uma vez que em 2017 lançou Return To Ommadawn, a derradeira sequela do álbum de 1975.

Uma nota final para a fotografia da capa do álbum. Ela foi tirada por David Bailey, fotografo que não precisa de grandes apresentações, e cuja vida inspirou a criação da personagem principal do filme Blowup, de Antonioni. Na imagem, Mike Oldfield faz lembrar Jesus Cristo, o que não deixa de ser curioso. Para muitos, desde o início daquela década, Oldfield era claramente um deus da música.


Salif Keita – Moffou (2002)


 

Moffou é a obra-prima do maliano Salif Keita. Mais acústica do que eléctrica. Africaníssima mas também europeia. E uma voz imensa, feita de mel e de areia.

Salif Keita nasce numa aldeia perto de Bamako – a capital do Mali -, filho de camponeses pobres mas altivos, de sangue aristocrático. Vem ao mundo com uma doença hereditária chamada albinismo – sem melanina na pele, no cabelo e nos olhos. Os seus pais, não sendo doutos em genética, não compreendem: se eles têm a pele da cor do chocolate negro, como podem ter gerado um filho da cor do chocolate branco? Só encontram uma explicação: Salif vem do mundo dos espíritos invisíveis assombrar o nosso mundo visível. O senhor Keita renega a mulher e a “aberração” que ela pariu, expulsando-os de casa. Mas o imã da aldeia acaba por persuadi-lo a acolhê-los de volta: “Salif nasceu assim porque Alá assim o quis”.

Mesmo voltando ao seio da família, Salif continua a carregar o estigma de ser diferente. Os outros miúdos gozam com ele e batem-lhe. Os graúdos cospem no chão quando o vêem. Vive no terror de a qualquer momento poder ser esquartejado pela turba animista, convencida de que o seu corpo – vindo do mundo dos espíritos – possui propriedades mágicas e curativas.

As suas perspectivas de futuro não são animadoras. Não pode ir para a escola do Corão porque vê mal. Não pode ser camponês porque a sua pele pálida não aguenta o sol agreste. Não pode ser músico porque é um ofício interdito à sua casta nobre. Se o destino lhe fecha todas as portas, só há uma alternativa: abrir uma delas à força, contra tudo e contra todos. Apaixona-se pela música. Aprende a tocar viola às escondidas. Quando está nos campos do pai, canta o mais alto que consegue para afugentar os macacos das colheitas. Contra a vontade da família, decide ser músico, pagando um preço bem alto: é proscrito por uma segunda vez. O que tem que ser tem muita força.

Aos dezoito anos, ruma para Bamako, com o propósito de viver da música. Toca em esquinas e bares mas o pouco que recebe não lhe permite pagar o aluguer de uma casa. Dorme ao relento junto ao mercado. Porém, a sua voz incrível começa a dar que falar. De tal forma que em 1970 é convidado para integrar o principal conjunto do Mali – a Rail Band, sediada no hotel da estação de comboios de Bamako. A estética da Rail Band é uma mistura de música tradicional do Mali – tocada com instrumentos modernos e eléctricos – com pinceladas jazzísticas e afro-cubanas. Se a tradição animista insiste que ele é um invisível, Keita revolta-se, habitando o mais visível dos lugares: o palco.

A sua reputação vai crescendo, de tal forma que os Les Ambassadeurs du Motel de Bamako não descansam enquanto não o conseguem açambarcar à Rail Band, a sua banda rival – o que acontece em 1973. A sensibilidade dos Ambassadeurs é semelhante, trilhando o mesmo eixo Mali-Cuba-Estados Unidos, uma outra forma de contar a diáspora africana pelo mundo. Em 1978, dá-se um golpe de estado no Mali e a banda, apoiada pelo governo anterior, cai em desgraça. Temendo pela própria vida, fogem para a Costa do Marfim, mudando o nome para Les Ambassadeurs Internationaux.

Em 1984, a banda acaba. É tempo de se mudar para Paris, à procura de mundo e de melhores estúdios de gravação. Assenta praça em Montreuil, subúrbio de Paris onde reside uma numerosa comunidade de imigrantes malianos. Em 1988, lança o seu primeiro disco em nome próprio, vestindo as raízes do Mali com roupas “modernaças” pop/rock, com sintetizadores e drum machines. E assim continua pela década de noventa, namorando sem pudor com a modernidade anglo-saxónica.

Na viragem para o novo milénio, regressa ao Mali. É com 53 anos de idade que faz a sua incontestada obra-prima. Moffou, de 2002, corta com a estética eléctrica dos discos anteriores, passando a haver um predomínio de texturas acústicas.

De África, Moffou traz tudo: as percussões tradicionais e os seus polirritmos frenéticos e sincopados; os coros femininos respondendo às chamadas de Keita; um instrumento de cordas chamado ngoni, brincando aos micro-tons; e, sobretudo, a voz de Keita, negra como o sul do Sahara mas arabesca como um minarete no deserto. Há doçura mascavada no seu timbre tenor, misturada com a terra vermelhíssima do Mali.

Da Europa, vem o acordeão das ruas de Paris, a flauta dos contos de fadas, o piano fugindo dos salões eruditos para os pátios populares.

Daí que seja errado dizer que Moffou é um regresso às impolutas origens, como se fosse um objecto de museu para consumo dos turistas. Keita sempre contaminou as raízes do Mali com linguagens vindas de fora, e este disco não é excepção. O que muda é apenas o que agora se adiciona ao caldeirão africano. Para aqueles que insistem no valor da pureza tradicional, há uma aproximação a esse tonto ideal nos três temas onde Keita se apresenta sozinho: só a sua guitarra e a sua voz de anjo mandinga.

A canção de abertura, “Yamore”- um dueto com a enorme Cesária Évora -, é uma quase morna, lânguida como a saudade. O groove de “Madan” é tão frenético que brancos com insuficiência cardíaca não o devem ouvir. “Katolon” é exótico e sombrio, Keita revivendo, talvez, terrores de infância – a horda supersticiosa cortando albinos aos pedaços. “Moussoulu” é sincopada mas triste, como quem dança e chora ao mesmo tempo. Dez canções transbordantes de Mali e de mundo. Dez flechas em cheio no coração de Alá. Dez em dez, sentencia o crítico de óculos bisonhos, à procura de um pouco mais de infinito…


DE RECORTES & RETALHOS

 

Musica&Som Nº 77 Capa e MPB / Musica&Som 1982


Assim ficou o mega-ranking musical dos Dream Theater com todos os seus álbuns

 'Dream Theatre' está aqui conosco, o 12º álbum de estúdio dos reis do metal progressivo internacional. Um álbum auto-intitulado que para muitos devolveu o entusiasmo pela carreira musical da banda. De qualquer forma, é um bom momento para analisar a discografia em profundidade. No 'Portal Esquizofrenia' nos molhamos e oferecemos um ranking onde colocamos todos os seus trabalhos de estúdio por ordem de valor, mas incluindo o EP 'A Change of Seasons' de 1995, considerado por muitos como apenas mais um álbum do grupo. Mais tarde, pedimos os votos, e este é o resultado:

Após 385 votos e 17 listas enviadas, este é o mega-ranking musical do Dream Theater com todos os seus álbuns:

1. Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory
2. Images and Words
3. Awake
4. Train of Thought
5. Octavarium
6. Six Degrees of Inner Turbulence
7. Dream Theater
8. Systematic Chaos
9. Falling into Infinity
10. Black Clouds & Silver Linings
11. A Dramatic Turn of Events
12. When Dream and Day Unite

As conclusões, à primeira vista, parecem fáceis: 'Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory' é o álbum favorito indiscutível, com quase 60% dos votos, enquanto seu primeiro hit, 'Images and Words', é o segundo mais valorizado. E de resto, uma combinação de álbuns iniciais e intermediários, enquanto os álbuns de seus últimos tempos são menos valorizados, especialmente o anterior 'A Dramatic Turn of Events', sendo o último um pouco salvo, 'Dream Theater', que obtém um sétimo lugar mais do que digno. 'When Dream and Day Unite', o primeiro álbum oficial, mas na verdade ainda um teste como álbum de uma banda semi-profissional, é o menos avaliado.

Lindsay Cooper

 


Hoje evocamos a memória da professora Lindsay Cooper, que faleceu em 18 de setembro, aos 62 anos, após longos anos de prostração em decorrência da esclerose múltipla que começou a afetá-la no final dos anos 70. Fazendo uso dos devidos tratamentos e aproveitando a lentidão com que essa doença aos poucos foi tomando conta de suas funções corporais, a genial Lindsay conseguiu continuar bastante ativa atuando e compondo material diverso nas áreas de rock experimental e câmera de vanguarda . , tanto em projetos solo quanto em grupo, bem como colaborando para outros (para citar alguns exemplos, NATIONAL HEALTH durante os últimos meses da estadia de Dave Stewart, por exemplo, o primeiro álbum solo de STEVE HILLAGE "Fish Rising", e registros de NEWS FROM BABEL e ART BEARS junto com alguns que foram seus colegas em HENRY COW). Somente no final dos anos 90 ela ficou completamente impossibilitada de realizar esse tipo de atividade física, mas vista em perspectiva, sua carreira é muito valiosa para as vanguardas progressistas. Nada mal para uma garota que se formou no Royal College of Music e passou vários anos como membro da Royal Academy of Music. Mesmo desde o final dos anos 70, nunca deixou de explorar novos recursos instrumentais, ampliando seus estudos de flauta e saxofone soprano, além de retornar ao piano, seu primeiro instrumento de interesse. Mas ela era mais do que apenas uma estudiosa acadêmica, pois foi durante seu tempo em Nova York entre 1969 e 1971 que ela começou a se familiarizar com o underground do rock experimental, e em seu retorno a Londres não lhe faltaram ofertas para contribuir com sua sapiência técnica e suas intuições experimentais com seus instrumentos de sopro. COMUS foi uma das ofertas esporádicas, mas é com sua permanência no HENRY COW do início de 1974 até o declínio final da banda em 1978 que ele é mais lembrado. Em homenagem póstuma a ela, revisaremos dois álbuns de HENRY COW: o segundo, “Unrest”, onde estreou como integrante do então quinteto, e o quarto, “Western Culture”, onde contribuiu mais como compositora.  

 
Quando Lindsay entrou no HENRY COW carregando seu fagote, oboé e flauta doce, o guitarrista-violinista-xilofonista Fred Frith, o baixista-pianista John Greaves, o saxofonista-clarinetista-tecladista Tim Hodgkinson e o baterista-percussionista John Cutler. Foi assim que se estabeleceu o que costuma ser considerado sua formação clássica de instrumentistas de HENRY COW. No final de 1973, o cantor de sopro Geof Leigh deixou a banda, levando os amigos Frith e Cutler a pedirem a Cooper para substituí-lo, com o objetivo de contribuir com elementos de câmera mais vanguardistas em prol de um amadurecimento decisivo da música. proposta de rock experimental de HENRY COW. Assim, “Unrest” foi gravado nos primeiros meses de 1974 e publicado em maio do mesmo ano: nesta obra, o quinteto começa a dar rédea solta à sua faceta iconoclasta em relação ao seu já marcante álbum de estreia “Leg End”. A distribuição dos instrumentos indica claramente a intenção esquemática de jogar com combinações das várias nuances sonoras típicas de engenhocas tão diversas... e nossas suspeitas se confirmam ao ouvirmos este álbum.


As duas primeiras peças, 'Bitter Storm Over Ulm' e 'Half Asleep, Half Awake', são de fato exercícios lúcidos de polifonia e intrincados jogos rítmicos, complementando estruturas de jazz de vanguarda com recursos atonais maciços típicos da câmara contemporânea; Através de toda essa articulação extravagante de ideias melódicas ousadas, um senso de ordem ainda é facilmente reconhecido pelo ouvinte. 'Bitter Storm Over Ulm' funciona como um prólogo rápido e chamativo, enquanto 'Half Asleep, Half Awake' (composta por Greaves) mantém um lirismo requintadamente estilizado que em grande medida se conecta com o fator Canterbury que havia sido predominante no primeiro álbum da banda. álbum. Menções especiais devem ir para os motivos de piano de cauda na entrada e conclusão, respectivamente, porque compõem duas amostras de uma atmosfera relaxante e hipnótica. A próxima faixa, 'Ruins', assim como 'Linguaphone' e 'Upon Entering The Hotel Adlon', mostram o lado mais ousado de HENRY COW. As atonalidades inesgotáveis, o clima de caos do interlúdio que na verdade é o disfarce de uma engenharia robusta e o uso de contrastes drásticos entre momentos plenos e outros sutis dominam insolentemente o ouvinte, como se quisessem provocá-lo a aceitar o desafio de caminhar por caminhos insuspeitos da imaginação musical. 'Ruins', uma composição de Frith, é um dos temas mais significativos da essência estética de HENRY COW: a arquitetura rítmica elaborada nas passagens extrovertidas carrega um dinamismo complexo e cativante,


Até agora, tudo o que o grupo havia escrito explicitamente para o álbum. E o resto? Exceto no caso de 'Solemn Music', ela teve que ser criada no localatravés de criações coletivas em tempo real. A sequência de 'Linguaphone' e 'Upon Entering The Hotel Adlon' destila uma imensa seriedade encerrada em seu próprio solipsismo cerebral enquanto expande sua rara luminosidade surreal por meio de ambientes perturbadores que transitam entre o sombrio e o absurdo. E que antes deste dueto, a banda nos dá um belo trio de clarinete, oboé e guitarra em 'Solemn Music', fazendo seu chocante tema central flutuar suavemente em um halo de melancolia. Mas 'Linguaphone' surge para tirar nossa serenidade e nos jogar na confusão de um cosmos que está se degenerando em sua própria caixa interna, enquanto 'Upon Entering The Hotel Adlon' se encarrega de nos sacudir da confusão com polenta agressiva e intensidade neurótica. O baixo se destaca na mistura, As batidas de bateria de Master Cutler são de outro mundo, sem falar nos inescrutáveis ​​solos de guitarra de Frith... mais as trompas, que às vezes se unem em comunhão sólida e outras vezes se divertem animadamente, seu divórcio mútuo exibindo imensas quebras atonais. 'Arcades' continua por esse caminho de tensão calculadamente improvisada, mas desta vez com um esquema de trabalho muito mais calmo, à maneira de um triste olhar retrospectivo sobre a sistemática decomposição anterior. 'Deluge', tema de encerramento, retoma os caminhos jazz-progressivos menos turbulentos dos dois primeiros temas, embora inclua uma perturbadora dinâmica rítmica típica do free-jazz: a peça termina com uma deliciosa paródia de cabaré onde o baixista, enquanto tocava alguns acordes de piano sincopados, impondo sua voz de maneira zombeteiramente cerimoniosa. Em suma, “Unrest” é uma imensa jóia musical destinada a estabelecer um paradigma inevitável de rock-in-oposição.

 

Como dissemos antes, “Western Culture” foi no álbum de HENRY COW onde Lindsay Cooper mais contribuiu como autora, mas tenha em mente que essa feliz circunstância ocorreu no contexto de uma situação bastante tensa e desequilibrada dentro do grupo. Acontece que a dupla inseparável de Frith e Cutler estava compondo material cantado com a cumplicidade de Dagmar Krause (vocalista que ingressou nas fileiras do HENRY COW quando uma breve associação com o SLAPP HAPPY começou em 1975, e ficou com o grupo quando essa associação foi concluída ), enquanto Tim Hodgkinson e a própria Cooper criavam conceitos musicais ambiciosos sem lugares explicitamente organizados para intervenção vocal. Esse dualismo foi finalmente resolvido fazendo do novo álbum de HENRY COW um trabalho totalmente instrumental para culminar o próprio grupo, porque Frith, Cutler e Krause tinham em mente fundar um novo grupo para desenvolver suas novas ideias – em última análise, ART BEARS. O que temos, afinal, na “Cultura Ocidental”? Uma nova obra-prima do rock em oposição composta sucessivamente pelos conceitos 'History And Prospects' (de Tim Hodgkinson) e 'Day By Day' (de Lindsay Cooper). Devido à ausência de John Greaves (que deixou a banda para se juntar às fileiras do NATIONAL HEALTH), o papel de baixista é compartilhado entre Frith e Georgie Born. Bem, a verdade é que a instrumentação apresentada neste álbum é muito cuidada, com contribuições estrangeiras para o piano, trombone e violino, e os próprios Frith e Cutler acrescentando contribuições para o trompete e sax junto com os habituais sopros Cooper e Hodgkinson. Cutler e Krause tinham em mente fundar um novo grupo para desenvolver suas novas ideias – em última análise, ART BEARS. O que temos, afinal, na “Cultura Ocidental”? Uma nova obra-prima do rock em oposição composta sucessivamente pelos conceitos 'History And Prospects' (de Tim Hodgkinson) e 'Day By Day' (de Lindsay Cooper). Devido à ausência de John Greaves (que deixou a banda para se juntar às fileiras do NATIONAL HEALTH), o papel de baixista é compartilhado entre Frith e Georgie Born. Bem, a verdade é que a instrumentação apresentada neste álbum é muito cuidada, com contribuições estrangeiras para o piano, trombone e violino, e os próprios Frith e Cutler acrescentando contribuições para o trompete e sax junto com os habituais sopros Cooper e Hodgkinson. Cutler e Krause tinham em mente fundar um novo grupo para desenvolver suas novas ideias – em última análise, ART BEARS. O que temos, afinal, na “Cultura Ocidental”? Uma nova obra-prima do rock em oposição composta sucessivamente pelos conceitos 'History And Prospects' (de Tim Hodgkinson) e 'Day By Day' (de Lindsay Cooper). Devido à ausência de John Greaves (que deixou a banda para se juntar às fileiras do NATIONAL HEALTH), o papel de baixista é compartilhado entre Frith e Georgie Born. Bem, a verdade é que a instrumentação apresentada neste álbum é muito cuidada, com contribuições estrangeiras para o piano, trombone e violino, e os próprios Frith e Cutler acrescentando contribuições para o trompete e sax junto com os habituais sopros Cooper e Hodgkinson. em “Cultura Ocidental”? Uma nova obra-prima do rock em oposição composta sucessivamente pelos conceitos 'History And Prospects' (de Tim Hodgkinson) e 'Day By Day' (de Lindsay Cooper). Devido à ausência de John Greaves (que deixou a banda para se juntar às fileiras do NATIONAL HEALTH), o papel de baixista é compartilhado entre Frith e Georgie Born. Bem, a verdade é que a instrumentação apresentada neste álbum é muito cuidada, com contribuições estrangeiras para o piano, trombone e violino, e os próprios Frith e Cutler acrescentando contribuições para o trompete e sax junto com os habituais sopros Cooper e Hodgkinson. em “Cultura Ocidental”? Uma nova obra-prima do rock em oposição composta sucessivamente pelos conceitos 'History And Prospects' (de Tim Hodgkinson) e 'Day By Day' (de Lindsay Cooper). Devido à ausência de John Greaves (que 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Born. Bem, a verdade é que a instrumentação apresentada neste álbum é muito cuidada, com contribuições estrangeiras para o piano, trombone e violino, e os próprios Frith e Cutler acrescentando contribuições para o trompete e sax junto com os habituais sopros Cooper e Hodgkinson.


'Industry' inicia o conceito de 'History And Prospects' com um rico conjunto de dissonâncias impetuosas marcadas pela guitarra, teclado e instrumentos de sopro, originando assim o esquema para uma primeira seção intensa dentro de sua estrita lógica iconoclasta. Um segundo corpo musical move-se para ambientes mais contidos onde a tensão precedente se transforma num espírito de expectativa coberto de cinza. 'The Decay Of Cities' dá um toque mais sóbrio ao assunto, mas sem descurar a retumbante expressividade do conceito: de qualquer forma, nota-se que o prólogo em dueto das guitarras acústicas e havaianas estabelece um halo reflexivo com o propósito de lançar as bases para o corpo central colorido e desafiador que emergirá pouco antes de atingir a barreira do terceiro minuto.

'Falling Away' encarrega-se de abrir o conceito de 'Day By Day', e fá-lo com uma requintada fanfarra de metais e sopros seguida de um corpo central vital onde o sofisticado enquadramento melódico desenvolve ligações muito fluidas entre passagens extrovertidas e outras mais sutil. O conjunto se expande liberalmente na montagem de delicados jogos harmônicos e texturas onde o dissonante impõe seu reino, principalmente no clímax final. 'Gretels Tale' passa a explorar caminhos um pouco mais graciosos dentro do exigente leitmotiv da banda: as trompas assumem monumentalmente o núcleo temático da peça até uma tremenda cadência de piano (interpretada pela convidada Irène Schweizer) vem para esculpir para interromper momentaneamente a engenharia sônica dominante. Com a dupla de 'Look Back' e '½ The Sky' (este último co-escrito com Hodgkinson), 'Day By Day' encontra um final esplêndido e significativamente expansivo em recursos, é o sample de HENRY COW batendo da definitiva amadurecimento de sua essência mais forte. 'Look Back' é uma pequena peça de sopro e violino cujo tenor serenamente acinzentado serve como um prelúdio oportuno para '½ The Sky', faixa que fecha o álbum começando com o desenvolvimento de atmosferas solenes e perturbadoramente densas, a meio caminho entre o réquiem e o solipsismo meditativo (à maneira de 'On The Raft'); então, nos momentos finais, ela se transforma em uma coda escandalosamente divertida com um tenor patentemente comemorativo.


Foi um grande prazer para nós rever esses dois discos do HENRY COW, o que contrasta fortemente com o motivo pelo qual fizemos isso. LINDSAY COOPER, professora e principal figura do rock em oposição, descanse em paz, todo o céu é seu!

POEMAS CANTADOS DE SÉRGIO GODINHO

Espalhem a Notícia

Sérgio Godinho


Espalhem a notícia

Do mistério da delícia

Desse ventre

Espalhem a notícia do que é quente

E se parece

Com o que é firme e com o que é vago

Esse ventre que eu afago

Que eu bebia de um só trago

Se pudesse


Divulguem o encanto

Do ventre de que canto

Que hoje toco

A pele onde à tardinha desemboco

Tão cansado

Esse ventre vagabundo

Que foi rente e foi fecundo

Que eu bebia até ao fundo

Saciado


Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo de mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita


A terra tremeu ontem

Não mais do que anteontem

Pressenti-o

O ventre de que falo como um rio

Transbordou

E o tremor que anunciava

Era fogo e era lava

Era a terra que abalava

No que sou


Depois de entre os escombros

Ergueram-se dois ombros

Num murmúrio

E o sol, como é costume, foi um augúrio

De bonança

Sãos e salvos, felizmente

E como o riso vem ao ventre

Assim veio de repente

Uma criança


Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo de mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita


Falei-vos desse ventre

Quem quiser que acrescente

Da sua lavra

Que a bom entendedor meia palavra

Basta, é só

Adivinhar o que há mais

Os segredos dos locais

Que no fundo são iguais

Em todos nós


Eu fui ao fim do mundo

Eu vou ao fundo do mim

Vou ao fundo do mar

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher

Vou ao fundo do mar

No corpo de uma mulher bonita


Espectáculo

Sérgio Godinho


Quando

tu me vires no futebol

estarei no campo

cabeça ao sol

a avançar pé ante pé

para uma bola que está

à espera dum pontapé

à espera dum penalty

que eu vou transformar para ti

eu vou

atirar para ganhar

vou rematar

e o golo que eu fizer

ficará sempre na rede

a libertar-nos da sede

não me olhes só da bancada lateral

desce-me essa escada e vem deitar-te na grama

vem falar comigo como gente que se ama

e até não se poder mais

vamos jogar

Quando

tu me vires no music-hall

estarei no palco

cabaça ao sol

ao sol da noite das luzes

à espera dum outro sol

e que os teus olhos os uses

como quem usa um farol

não me olhes só dessa frisa lateral

desce peça cortina e acompanha-me em cena

vamos dar à perna como gente que se ama

e até não se poder mais

vamos bailar

Quando

tu me vires na televisão

estarei no écran

pés assentes no chão

a fazer publicidade

mas desta vez da verdade

mas desta vez da alegria

de duas mãos agarradas

mão a mão no dia a dia

não me olhes só desse maple estofado

desce pela antena e vem comigo ao programa

vem falar à gente como gente que se ama

e até não se poder mais

vamos cantar

E quando

à minha casa fores dar

vem devagar

e apaga-me a luz

que a luz destoutra ribalta

às vezes não me seduz

às vezes não me faz falta

às vezes não me seduz

às vezes não me faz falta

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