sexta-feira, 28 de junho de 2024

Review: Spirit Adrift – Divided by Darkness (2019)

 


O Spirit Adrift foi formado em 2015 no Arizona e, sem seus primeiros dois discos – Chained to Oblivion (2016) e Curse of Conception (2017) – foi praticamente um projeto de um homem só, personificado na figura do vocalista e guitarrista Nate Garrett. Isso mudou em Divided by Darkness, terceiro trabalho da banda, lançado no início de maio.

No novo álbum, Garrett ganhou a companhia de Jeff Owens (guitarra), Chase Mason (baixo) e Marcus Bryant (bateria), e isso fez bem ao som do quarteto. O Spirit Adrift, com o perdão do clichê óbvio e conclusivo, está soando como uma banda em Divided by Darkness, apresentando uma amplitude até então inédita.

Musicalmente, dá pra explicar a música do grupo com a expressão “o doom metal encontra o classic rock”, mas há outros aspectos na jogada. Percebe-se uma certa influência progressiva em alguns momentos, somos surpreendidos por uma quebra de andamento que leva a faixa-título para um caminho que se assemelha ao jazz, e algumas passagens de guitarra não escondem a sua inspiração no thrash metal. Em termos de influência, dá pra identificar referências como Metallica, Trouble, Mastodon e Baroness na mistura, além de uma afinidade de timbres com o que o The Sword mostrou em Apocryphon (2012).

O uso de arranjos ascendentes é uma constante, assim como de estruturas vocais que exploram uma esfera criativa similar ao Baroness. Outro ponto essencial na sonoridade do Spirit Adrift é a presença de harmonias de guitarras em todas as faixas, entregando melodias que cativam o ouvinte e surgem em grandes trechos instrumentais.

Entre as músicas, destaque para o início arrebatador com “We Will Not Die”, a ótima música que batiza o disco, a cadenciada e pesada “Born Into Fire”, o sentimento à flor de pele de “Angel & Abyss”, a variedade desconcertante de “Torture by Time” e a sensacional sinfonia doom instrumental que fecha o disco, “The Way of Return”.

Divided by Darkness é o meu tipo de CD. Pesado, cheio de melodia e com músicas que emocionam. Adorei o trabalho e recomendo fortemente que você também o ouça.



Review: Demon – The Plague (1983)

 


Terceiro álbum do Demon, The Plague é um peixe fora d’água na discografia do grupo, um dos nomes mais cultuados da New Wave of British Heavy Metal. Sucessor dos aclamados Night of the Demon (1981) e The Unexpected Guest (1982), The Plague gera discussão até hoje. Uma parcela dos fãs o tem como um dos melhores trabalhos da banda, enquanto outros o renegam há anos.

O que existe de diferente em relação aos discos anteriores – e também aos que vieram na sequência – é que o Demon suavizou a sua música, provavelmente de olho no que estava rolando no mercado norte-americano na época. É bom lembrar que 1983 foi o ano do boom do glam metal, com Metal Health, do Quiet Riot, alcançando o primeiro lugar na Billboard e consolidando o estilo. Outro fator importante foi o crescimento da MTV, embalado, em sua maioria, pelos clipes das bandas de hard californianas. Pensando com a cabeça daquele tempo, uma mudança de sonoridade seria o caminho mais curto para alcançar um público maior.

Quer dizer então que The Plague é um álbum de hair metal? Não necessariamente. O Demon deixou a sua música menos agressiva agregando elementos de outros estilos além do hard, sendo o mais notório de todos o rock progressivo. Há uma presença constante de teclados, a alternância de dinâmicas salta aos ouvidos e a suavidade toma a linha de frente quando comparamos as nove faixas de The Plague com os trabalhos anteriores da banda. De certo modo, não seria equivocado afirmar que trata-se de um álbum que aproxima o som dos ingleses do AOR e traz ecos de grandes referências do estilo como Journey e Kansas. Além da mudança na parte musical, nota-se uma alteração também no aspecto lírico, com a banda deixando para trás as letras inspiradas em assuntos sombrios e demoníacos e falando sobre os temas sociais e políticos pelos quais a Inglaterra passava na época.

No entanto, o que fica claro é que, mesmo trilhando um universo sonoro distinto, The Plague mostra que o Demon era uma banda que valia a pena prestar atenção. A qualidade das ideias, as soluções melódicas e os arranjos evidenciam o quanto os caras eram bons, e isso é algo que ia além dos limites impostos por um gênero musical. Canções como “The Plague”, “Nowhere to Run” e a excelente “The Writings on the Wall” são exemplos disso.

The Plague acaba de ser relançado pela Hellion Records aqui no Brasil, com seis faixas bônus que trazem a mixagem original de algumas das canções do álbum. Além disso, vale mencionar que a Hellion também disponibilizou os dois primeiros CDs do grupo em edições nacionais, ambas igualmente com bônus.

Uma ótima oportunidade de conhecer uma das bandas mais cultuadas do metal britânico, naquele que é o seu trabalho mais experimental.



Review: Bad Religion - Age of Unreason (2019)

 


Se formos parar pra considerar as bandas clássicas do hardcore norte-americano como Dead Kennedys, Black Flag, Bad Brains e Minor Threat, veremos que quase nenhuma delas conseguiu manter uma carreira ativa após a década de 1980 - muitas nem chegaram inteiras até o final. Mas enquanto a maioria se debandou ora para fora da música, ora para projetos dentro de subgêneros do estilo (descontando ocasionais voltas e turnês nostálgicas), os californianos do Bad Religion sempre se mantiveram em atividade, com uma discografia regular e constantes turnês mundo afora, mesmo em meio a compromissos extra-musicais - o vocalista (e membro mais longevo) Greg Graffin é PHD em paleontologia evolucionária e leciona na universidade da California.

Ainda assim, se passaram seis anos desde o último álbum de estúdio, True North, o maior hiato entre lançamentos da banda - não contando o disco de canções natalinas (?), que também é de 2013. E nesse período de tempo mudanças aconteceram, como a demissão (na versão do próprio) do velho guitarrista Greg Hetson, que passou por um divórcio e algumas pendengas judiciais nebulosas, e a saída do baterista Brooks Wackerman para o Avenged Sevenfold. Mike Dimkich (ex-The Cult) e Jamie Miller tornaram-se os respectivos substitutos, com o último fazendo sua estreia em estúdio com o hoje sexteto - o novo guitarrista já havia registrado o disco de Natal.

Muitos já afirmaram que em tempos que a extrema direita - ou o que é considerado por alguns como “extrema” - ascende ao poder, as bandas oriundas do punk/hardcore acabam ao menos ganhando mais assunto para as letras, além de talvez um vigor renovado pela raiva e a revolta com o sistema renovada. E com o Bad Religion não foi diferente, já que Brett Gurewitz (principal compositor junto com o vocalista) anunciou desde o ano passado que a recente eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos teria influência direta nas composições, o que, convenhamos, não surpreende, ainda mais tendo na memória a temática anti-Bush adotada em The Empire Strikes First (2004) quinze anos atrás.

Já em termos musicais, para o bem ou para o mal, Age of Unreason não traz grandes inovações dentro do som da banda. Mesmo as influências de folk e country de determinadas canções não são algo novo - vide “Man With a Mission” (1993), “Drunk Sincerity” (1996) ou mesmo a mais recente “The Devil in Stitches”. Talvez o que dê pra se notar de diferente seja a produção de Carlos de la Garza (Paramore, Jimmy Eat World), que deixou o som mais limpo e cristalino do que o normal, o que até poderia ser visto como algo negativo, mas não quando falamos da banda que praticamente deu início ao chamado - e muitas vezes defenestrado - harcore melódico, um estilo que já não prima por muita sujeira.

Mas uma sonoridade mais do mesmo não implica exatamente em músicas ruins, e tanto Graffin quanto Gurewitz (aqui assinando todas as músicas juntos pela primeira vez) são provavelmente os melhores compositores que o hardcore norte-americano já ofereceu ao mundo. Tudo bem que canções como “The Approach” e “What Tomorrow Brings” são daquelas que eles poderiam escrever dormindo, com suas sequências de acordes manjados e as harmonias vocais de sempre (um diferencial do grupo desde o início, vale frisar), mas ambas são bem satisfatórias, assim como a dobradinha de abertura “Chaos From Within” e “My Sanity”, e “Big Black Dog”, mais uma das sub-”21st Century Digital Boy” que a banda vira e mexe tenta emplacar nos discos, felizmente aqui com um resultado melhor. Já entre as diferentes, sobressaem-se “Candidate”, que remete ao discos solos de Greg Graffin - mais calcados em suas raízes americanas - a cadenciada “Lose Your Head” e também “End of History”, que chega a lembrar - sério mesmo - Green Day.

Apesar de algumas canções com cara de filler na parte final do tracklist, quase nada em Age of Unreason pode ser considerado como um deslize, com exceção talvez de “Do the Paranoid Style”, curiosamente um dos carros chefe de divulgação - a genérica “The Kids Are Alt-Right”, divulgada ano passado, felizmente ficou apenas como bônus. Há até uma faixa com co-autoria do guitarrista Brian Baker (“Faces of Grief”), a primeira em anos. Está entre os melhores álbuns que a banda já lançou? Nem de longe. Mas pode-se dizer que está no mesmo nível de seus antecessores, em especial os também revivalistas New Maps of Hell (2007) e True North (2013) - o mais ousado The Dissent of Man (2010) permanece como o principal dessa safra. Mas a essa altura, vale mesmo a pena fugir tanto de um estilo consagrado quando a maioria de seus fãs nem deseja isso? Talvez não.



Can – Tago Mago (1971)


The Specials – The Specials (1979)


Nacho Vegas – Violética (2018)

 

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Dead Kennedys – Fresh Fruit For Rotting Vegetables (1980)


 

Destaque

1991 Doro – True At Heart

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