terça-feira, 16 de maio de 2023

Review: Sepultura – Dante XXI (2006)

 


Muito acima do gosto pessoal de cada um, uma coisa é indiscutível: o Sepultura é uma das bandas mais originais, importantes e influentes não só no cenário heavy metal, mas em todo o rock, e possui um papel fundamental no crescimento e consolidação do metal aqui no Brasil. Só as palavras deste primeiro parágrafo já deveriam atrair, com sobras, a atenção de todo e qualquer apreciador de música pesada para qualquer disco do grupo, mas infelizmente não é assim que acontece.

Não vou falar da contradição que a maioria dos headbangers carrega estampada na testa, reclamando diariamente do preconceito e não aceitação da grande mídia e das pessoas em geral ao som que curtem, enquanto eles próprios são poços sem fundo de conservadorismo, capazes de classificar um álbum como ruim apenas porque a banda resolver usar teclados ou colocar alguns efeitos eletrônicos em seu som (e, neste caso, eu não estou falando do Sepultura). O que eu quero dizer é que o Sepultura merece , acima de tudo, respeito, não só pelo que significam para o metal brasileiro e mundial, mas, principalmente, por ainda encontrarem forças para levar o Sepultura adiante mesmo diante da enxurrada de problemas, críticas e acusações que acometeram o grupo desde a saída traumática de Max Cavalera.

Lançado dez anos após o rompimento com o vocalista e guitarrista, Dante XXI parte de um ponto muito interessante: a história do poeta italiano Dante Alighieri, autor do clássico A Divina Comédia, que narra a sua descida ao inferno. O Sepultura transpôs o livro para o disco, e o resultado final ficou interessantíssimo.

Características marcantes do thrash metal que levou o grupo às alturas na primeira metade da década de 1990 soam fortes, vigorosas e renovadas em Dante XXI. A principal delas é a guitarra de Andreas Kisser. Seus riffs, suas "pedaladas", seus timbres e, principalmente, a forma com que toca o seu instrumento, mostram porque ele se transformou e é até hoje a principal usina criativa do quarteto.

As já citadas características thrash marcam presença na introdução de "Dark Wood of Error", no peso de "Convicted In Life" (que poderia estar no set list de Chaos A.D. sem demérito algum), nas guitarras pesadíssimas de "Fighting On" e no riff matador de "Nuclear Seven".

Mesmo com a performance de Andreas saltando aos ouvidos, os outros músicos mostram-se igualmente inspirados. Iggor Cavalera (na época ainda com apenas um G no nome e ainda integrante do grupo, do qual se desligaria após a turnê do disco), mesmo optando por linhas de bateria mais simples e diretas, mostra porque sempre foi um dos principais nomes da bateria metal em todo mundo. Paulo Jr vai na boa, e seu baixo acrescenta ainda mais peso às guitarras de Andreas. E Derrick Green ? Bem, eu sou suspeito para falar, pois sempre curti os vocais do sujeito, e neste álbum o cara mostrou mais uma vez que é um baita vocalista.

Um fator que chama a atenção é a ausência total de experimentos com a música brasileira, que tanto marcaram o som do grupo ao longo dos anos. Em seu lugar o álbum apresenta orquestrações de muito bom gosto, que complementam e dão ainda mais peso às músicas.

A escolha de uma história interessante e original como ponto de partida para o disco fez muito bem ao Sepultura. Mesmo que Against (1998), Nation (2011) e Roorback (2003) sejam bons álbuns, o saldo final do trio é irregular e claramente inferior à Dante XXI. A banda conseguiu unir a raiz do estilo que a tornou conhecida no mundo todo com a inquietação que sempre marcou a sua obra, buscando novos caminhos e sonoridades a cada novo passo. O que poderia soar como um tiro em falso soa como uma bala de canhão certeira.

Dante XXI é metal, é hardcore, é thrash, é death e, acima de tudo, é heavy metal moderno e contemporâneo. Com o seu décimo disco o Sepultura iniciou um período marcado por mudanças de formação e retomada de sua identidade, época essa que foi imprescindível para que a banda chegasse onde está hoje, vivendo um novo auge amparada por dois discos fantásticos como Machine Messiah (2017) e Quadra (2020).



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