Formada em 1974, em Nova York, a banda Blondie fez parte da cena alternativa nova-iorquina da qual fizeram parte também Ramones, Patti Smith, Television, Talking Heads e mais outros artistas. Todos eles incendiavam o clube CBGB’s, um pardieiro que ficava em Nova York, onde deram régua e compasso para o surgimento do punk rock e a new wave.
De todos esses artistas da cena underground de Nova York de meados dos anos 1970, o Blondie foi o primeiro a alcançar sucesso comercial. A banda resgatava o rock ensolarado da surf music e o pop contagiante das girl groups dos anos 1960 combinados com referências de glam rock e power pop. Contando com o casal de namorados Deborah Harry (vocais) e Chris Stein (guitarra), mais Gary Valentine (baixo), Jimmy Destri (teclados) e Clem Burke(bateria), o Blondie lança em 1976 o seu primeiro e homônimo álbum através do selo Private Stock Records, que teve uma boa recepção da crítica e uma modesta vendagem no Reino Unido.
Blondie em 1975. Atrás: Chris Stein, Debbie Harry e Gary Vatentine. Frente: Jimmy Destri e Clem Burke |
Já de gravadora nova, a inglesa Chrysalis Records, a banda lança em 1977 o segundo álbum, Plastic Letters. Valentine havia deixado o Blondie entrando em seu lugar Frank Infante. Plastic Letters emplaca na Europa e na Ásia, não só por causa do som da banda calcado na boa dose de punk e pop, como também pelo competente trabalho promocional da Chrysalis nesses dois continentes. O sucesso de Plastic Letters fez a Chrysalis relançar o primeiro álbum da banda, antes lançado pela Private Stock Records. Na Austrália, onde já havia emplacado alguns hits, o Blondie era mais conhecido do que na sua própria terra natal, os Estados Unidos. E era aí que residia o grande desafio da banda nova-iorquina.
Enquanto Plastic Letters deslanchava no mercado, o Blondie recebia mais um integrante, o baixista Nigel Harrison. Infante assume a guitarra, e assim a banda passa contar com dois guitarristas. O outro era Chris Stein. O Blondie vira um sexteto.
Durante uma passagem do Blondie pela Califórnia, em meados de 1978, o empresário da banda, Peter Creed, conhece Mike Chapman, produtor australiano radicado no Reino Unido, cujo currículo incluía a produção de discos de gente como Suzi Quatro e The Sweet, além de ser um profissional com faro apurado para hits. Com planos de levar o Blondie ao topo, Leeds via em Chapman o produtor ideal para que isso acontecesse. O empresário convenceu os membros do Blondie a trocar Richard Gottehrer, produtor dos dois primeiros álbuns da banda, por Chapman para produzir o próximo álbum. Os rapazes aceitaram, enquanto que Debbie relutou, mas acabou sendo convencida. Mike Chapman mudou-se para Nova York exclusivamente para produzir o próximo álbum do Blondie.
Membros do Blondie (sentados) e o produtor Mike Chapman (de óculos escuros) durantes as sessões de gravação do álbum Parallel Lines, em meados de 1978. |
Em junho de 1978, a banda entra nos estúdios da Record Plant (onde Aerosmith, John Lennon e Queen já haviam gravado) para gravar o novo álbum. Mas o processo de gravação começa com atritos entre o jovem, porém experiente e exigente produtor, e a imatura e rebelde banda nova-iorquina. Debbie chega a entrar em choque com a postura disciplinadora de Chapman. O produtor tentava extrair de Jimmy Destri, um tecladista limitado, o máximo possível para tornar o som do Blondie mais “digerível” para o público pop. Para atender as exigências de Chapman, a banda teve que reescrever algumas letras e até a dormir quatro horas por noite. Por outro lado, as sessões de gravações começavam às seis da manhã. O trabalho árduo e dedicado tinha como objetivo alcançar o sucesso comercial. Apesar da dedicação da banda e do produtor, os executivos da gravadora não acreditavam no potencial do álbum que ainda estava em fase de produção.
Após tantos conflitos, suor, lágrimas e desconfiança da gravadora, Parallel Lines é lançado em setembro de 1978. O novo álbum mostra a receita musical que faria a fama do Blondie, uma combinação da fúria punk dos tempos de underground com a vocação pop da banda. Em Parallel Lines, o Blondie amplia o seu arco pop ao flertar com a disco music e até o reggae. Mas há um predomínio da referência do pop ensolarado e juvenil dos anos 1960, uma das maiores influências do Blondie.
Blondie durante a sessão de fotos para a capa de Parallel Lines. Da direita para a esquerda: Nigel Harrison, Jimmy Destri, Debbi Harry, Chris Stein, Frank Infante e Clem Burke. |
O álbum abre com “Hanging On The Telefone”, cover do The Nerves, uma banda de power pop da Califórnia. A versão do Blondie traz uma bateria energética e veloz. “One Way Or Another” foi inspirada num ex-namorado de Debbie que após o fim do namoro, passou persegui-la obsessivamente. “One Way Or Another” foi regravada pela boyband One Direction, em 2013. “Picture This” é pop,romântica e de versos singelos (“Tudo que eu quero é uma foto na minha carteira / Uma pequena lembrança de algo mais sólido”). A bela balada “Fade Away And Radiate” traz a participação especial de Robert Fripp, do King Crimson, fazendo solos de guitarra. A faixa termina num compasso discreto e estilizado de reggae. “Pretty Baby” teve como inspiração o papel da atriz Brookie Shields no polêmico filme “Pretty Baby”, lançado meses antes de Parallel Lines, onde ela interpreta a filha de uma prostituta que teve a sua virgindade leiloada. A atriz tinha na época apenas 12 anos. “I Know But I Don´t Know” fecha o lado A do álbum e traz Debbi e o guitarrista Frank Infante, autor da música, dividindo os vocais. A bateria de Clem Burke e os solos distorcidos da guitarra de Infante são os destaques de “I Know But I Don´t Know”. Em 1983, ganhou uma versão em português da Gang 90 & Absurdettes.
Debbie Harry durante gravação do álbum Parallel Lines. |
“11:59” abre o lado B e traz um som que remete ao pop festivo e descartável de bandas de bubblegum dos anos 1960. O clima festivo da faixa anterior se repete em repete em “Will Everything Happen”. A ensolarada “Sunday Girl” traz de volta o clima praieiro da surf music dos anos 1960. O Blondie chegou a gravar uma versão em francês de “Sunday Girl”.
A faixa seguinte, “Heart Of Glass”, foi o grande sucesso do álbum e se tornou o maior da carreira do Blondie. Na verdade, a música foi uma das primeiras compostas pela banda, em 1974, tinha outro título, “Once I Had A Love”, e foi gravada numa fita demo na época em ritmo de disco music, mas não mereceu a devida atenção do grupo. Só foi gravada para o álbum por insistência do produtor Mike Chapman que acreditou no potencial da música. No álbum, ela ganhou uma versão uma pouco mais rápida do que a da fita demo, mas mantendo-a no ritmo de disco music.
Gravada originalmente por Buddy Holly, em 1957,
“I´m Gonna Love You Too” é outro cover presente em Parallel Lines. Se a versão original era um lento rockabilly, na versão do Blondie “I´m Gonna Love You Too” virou um misto de rock’n’roll com pop dos anos 1960, com guitarras ao estilo Chuck Berry. “Just Go Away” fecha o álbum com louvor em meio a guitarra e teclados que ratificam o pop dos anos 1960 como uma das principais referências do Blondie.
“I´m Gonna Love You Too” é outro cover presente em Parallel Lines. Se a versão original era um lento rockabilly, na versão do Blondie “I´m Gonna Love You Too” virou um misto de rock’n’roll com pop dos anos 1960, com guitarras ao estilo Chuck Berry. “Just Go Away” fecha o álbum com louvor em meio a guitarra e teclados que ratificam o pop dos anos 1960 como uma das principais referências do Blondie.
Propaganda do álbum Parallel Lines. |
Sem sombra de dúvidas, Parallel Lines foi o grande êxito da carreira do Blondie, não só do ponto de vista artístico como também comercial. O álbum teve uma ótima recepção da crítica e do público e catapultou o Blondie para o estrelato mundial. O som acessível e a imagem de uma vocalista loura e sensual, uma espécie de “Marilyn Monroe do rock”, à frente de uma banda com mais cinco rapazes, conquistou fãs em todo o mundo. Com Parallel Lines, finalmente o Blondie conquistou os Estados Unidos, a sua terra natal, onde o álbum foi 6º lugar. O álbum foi 1º lugar no Reino Unido e 2º lugar na Austrália.
Parallel Lines emplacou seis singles. O single de “Hanging On The Telefone” foi 5º lugar no Reino Unido enquanto que o de “Sunday Girl” alcançou o topo na Austrália e também no Reino Unido. "I'm Gonna Love You Too" chegou ao 3º posto na Bélgica e 6º lugar na Nova Zelândia. O single "One Way Or Another" foi 7º lugar no Canadá.
Mas melhor performance de todos os singles do album foi o de “Heart Of Glass”, um sucesso em escala mundial. Foi 1º lugar na parada de singles dos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Alemanha, Nova Zelândia, Suíça e Reino Unido, 2º lugar na Irlanda, e 5º lugar na Bélgica e Noruega. Nos Estados Unidos, o single de “Heart Of Glass” vendeu mais de 1 milhão de cópias. Aqui no Brasil fez muito também chegando a figurar na época, na trilha sonora do telenovela Pai Herói, da TV Globo.
Estima-se que nos últimos 40 anos, Parallel Lines tenha vendido em todo o mundo mais de 20 milhões de cópias. O álbum figura em 140º lugar na lista dos “500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos” revista Rolling Stone.
Faixas
Lado A
- "Hanging on the Telephone" (Jack Lee)
- "One Way or Another" (Nigel Harrison - Deborah Harry)
- "Picture This" (Jimmy Destri – Harry - Chris Stein)
- "Fade Away and Radiate" (Stein)
- "Pretty Baby" (Harry - Stein)
- "I Know But I Don't Know" (Frank Infante)
Lado B
- "11:59" (Destri)
- "Will Anything Happen" (Lee)
- "Sunday Girl" (Stein)
- "Heart Of Glass" (Harry, Stein)
- "I'm Gonna Love You Too" (Joe B. Mauldin - Norman Petty - Niki Sullivan)
- "Just Go Away" (Harry)
Blondie: Deborah Harry (vocal), Chris Stein (guitarra), Frank Infante (guitarra), Jimmy Destri (teclados), Nigel Harrison (baixo), Clem Burke (bateria).
Participaçãpo especial: Robert Fripp (solo de guitarra em "Fade Away and Radiate")
Ouça Parallel Lines na íntegra.
"Heart of Glass" - vídeoclipe
"Hanging On The Telephone" - vídeoclipe
"Picture This" - vídeoclipe
"Sunday Girl" - Blondie no programa
"Top Of The Pop", BBC TV, 1979
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