quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Crítica Jaloo: “Mau”

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Crítica

Jaloo

 : "Mau"

Ano: 2023

Selo: Elemess

Gênero: Pop

Para quem gosta de: MC Tha e Gaby Amarantos

Ouça: Quero Te Ver Gozar, Profano e Phonk-Me

A música de Jaloo é feito vírus. Chega de repente, como quem não quer nada e, sem que você perceba, acaba completamente contaminado. Terceiro e mais recente álbum de estúdio da cantora, compositora e produtora paraense, Mau (2023, Elemess) é um bom exemplo disso. Fim da jornada emocional iniciada em #1 (2015) e ampliada no colaborativo ft (2019), o registro de dez composições se revela aos poucos, sem pressa, porém, atiça a curiosidade do ouvinte e encanta a cada novo regresso. É como um lento desvendar de informações que estabelece nas diferentes interpretações sobre a morte um estímulo para os versos.

Com a própria faixa-título como composição de abertura, Jaloo apresenta parte das regras e temáticas que servem de sustento ao disco. É como um mergulho na mente da artista que ainda resgata trechos de Say Goodbye, parceria com Badsista extraída do álbum anterior. Frações poéticas que atravessam paisagens noturnas, alternam entre reflexões e diálogos com diferentes personagens, conceito que volta a se repetir na posterior Pode, canção que mais uma vez destaca o reducionismo dos elementos e versos sempre calculados, mas que continuam a reverberar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento da obra.

Uma vez ambientado ao registro, o ouvinte é atraído por uma sequência de faixas que parecem pensadas para grudar logo em uma primeira audição. Exemplo disso fica bastante evidente em Quero Te Ver Gozar. Enquanto a base da canção estreita laços com a mistura de estilos que marca a música produzida no Norte do país, Jaloo sustenta nos versos uma história de amor, término e reencontro que mais uma vez destaca o lirismo agridoce presente durante toda a execução do trabalho. São sentimentos conflitantes que partem das experiências vividas pela própria artista, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o ouvinte. “Eu te pego de jeito / É puro desejo / Mas pra quê amor?“, questiona a cantora na faixa seguinte.

Claro que isso está longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha as criações de Jaloo. São canções de amor, momentos de maior vulnerabilidade e conflitos sentimentais que se entrelaçam em meio a batidas reducionistas que reverenciam e atualizam o tecnobrega. A própria sequência formada por Tudo Passa e Ah! torna isso ainda mais evidente. É como um conjunto de ideias e conceitos talvez repetidos, porém, nunca desinteressantes. Exemplo disso pode ser percebido em Phonk-me, música em que discute o conceito de morte a partir do momento de inconsciência pós-orgasmo e atravessa as pistas de dança em um exercício criativo que vai do pop robótico do Kraftwerk à eurodance produzida nos anos 1990 e 2000.

Embora marcado pela fluidez dos elementos e composições que soam como um convite a se perder pelas pistas de dança, interessante perceber nos momentos de maior recolhimento a passagem para algumas das melhores criações de Jaloo. É o caso de Profano. Entre sintetizadores melancólicos que apontam para a década de 1980 e o sopro entristecido de um saxofone, a artista paraense destaca a sensibilidade que toma conta dos versos. “Eu vou dançar com essa gente tão viva / Talvez fritar, ficar arrependida … Seu rosto vai se apagar / Ah, eu vou te esquecer“, canta em um misto de dor e precioso toque de libertação emocional.

Esse mesmo recolhimento, porém, partindo de uma abordagem diferente, acaba se refletindo na música seguinte, Ocitocina. São ambientações sutis que talvez desagradem ao ouvinte mais apressado, mas em nenhum momento deixam de encantar. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante na canção seguinte, A verdade é que a cidade vai me matar. Composição de encerramento, a faixa cria um elo temático com A Cidade, do primeiro disco de Jaloo, contudo, substitui a euforia de outrora por uma base soturna e versos que se agora voltam às angústias da cantora. O fechamento de um ciclo, mas que instantaneamente abre passagem e deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos da artista.



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