sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Ranking dos 10 melhores álbuns dos U2

 U2

Não há meias medidas com o U2. Ou você os ama ou os odeia. Para ser justo, isso pode ter mais a ver com a decisão de Bono de se transformar em um Jesus irlandês moderno do que com a música em si, que raramente é algo além de extraordinário. Poucas bandas de rock passaram tanto tempo enfurecendo, inspirando e inovando, e ainda estão muito, muito longe do asilo. Aqui está nossa opinião sobre os 10 melhores álbuns do U2 de todos os tempos.

10. How to Dismantle an Atomic Bomb

 

How to Dismantle an Atomic Bomb recebe muitas críticas. Não é totalmente imerecido. Há muita pompa, mas não muita circunstância, e em certos lugares, a ambição da banda parece maior do que suas habilidades. Isso não quer dizer que não haja algumas ótimas músicas, ou que os ganchos de guitarra de Edge não sejam tão incendiários como sempre. O principal problema, como o próprio Bono disse, é que, como um álbum, o todo não é maior do que a soma de suas partes. Considerando que a soma de suas partes inclui o incrivelmente poderoso Vertigo, isso é uma pena

9. October



Segundos álbuns podem ser difíceis. Eles são especialmente difíceis quando seguem um primeiro álbum como Boy. Ao estabelecer um padrão tão alto com sua estreia, o U2 se deu uma tarefa quase impossível. Não é realmente surpreendente que eles não tenham conseguido totalmente. October foi um trabalho rápido e parece que sim. Algumas das músicas têm um potencial enorme, mas estão a várias reescritas de alcançá-lo. Se tivesse recebido mais tempo, mais amor e mais atenção, October poderia ter sido incrível. Do jeito que está, fica aquém.

8. Rattle and Hum


Rattle and Hum foi um péssimo filme de documentário de rock, mas um álbum muito decente. Seu único infortúnio foi seguir The Joshua Tree – um destino que nenhum álbum deveria sofrer. Comparações foram feitas e Rattle and Hum foi inevitavelmente considerado insuficiente. O que é uma pena, porque, como observa a Rolling Stone , há algumas ótimas músicas aqui, com Desire, All I Want Is You e Land, de Van Diemen, todas se destacando como destaques. Há também algumas gravações ao vivo excelentes, incluindo uma interpretação impressionante de All Along the Watchtower, de Bob Dylan, e uma versão igualmente memorável de Bullet the Blue Sky.

7. All That You Can’t Leave Behind


O pop não era tão ruim quanto todos diziam, mas também não era exatamente bom. No entanto, levou a banda a cortar o excesso dos anos 90 , apertar as coisas e abraçar o novo milênio com um som mais enxuto e cruel. Por isso, se nada mais, deve ser aplaudido. All That You Can't Leave Behind nos dá um U2 de volta ao básico e um bom punhado de grandes sucessos, incluindo Beautiful Day, Walk On, Stuck In A Moment You Can't Get Out Of e Elevation. Não é perfeito, mas está mais perto do auge dos anos 80 do que eles chegaram em anos.

6. Zooropa


Antes que sua seriedade dos anos 80 desse lugar à presunção dos anos 90, o U2 tinha mais um álbum incrível para entregar. Originalmente planejado como um EP, o U2 se esforçou para lançar Zooropa como um LP, completando os elementos finais enquanto voavam de um lado para o outro para Dublin entre os shows. O resultado final é, francamente falando, estranho, com um som perturbado e desconexo que se torna ainda mais assustador pelo áudio da TV e do rádio que aparece e desaparece por trás das músicas. Se Achtung Baby nos deu o U2 em seu momento mais frenético, Zooropa nos dá o mais assustador. Estranhamente, funciona.

5. Boy


Seus egos podem ter inflado e seus salários podem ter ficado maiores, mas o U2 é, no fundo, a mesma banda agora que sempre foi. Isso não quer dizer que eles não cresceram ou de alguma forma permaneceram intocados pelo tempo. É simplesmente um reflexo de quão completamente seguros de seu som eles estavam desde o começo. Em seu álbum de estreia de 1980, Boy, o som é mais áspero e pronto do que é agora, mas todos os elementos fundamentais já estão em jogo. É uma estreia segura e confiante, com uma ferocidade selvagem e uma ambição nua que mostra que, mesmo naquela época, eles já sabiam que a dominação mundial estava a apenas alguns álbuns de distância.

4. The Unforgettable Fire


Como ultimateclassicrock.com aponta , da mesma forma que fariam sete anos depois com Achtung Baby, o U2 buscou a reinvenção de seu som com The Unforgettable Fire. Para obtê-lo, eles se juntaram aos produtores Brian Eno e Daniel Lanois pela primeira vez. Juntos, Eno e Lanois tiraram as guitarras, adicionaram um monte de sintetizadores, suavizaram as arestas e criaram uma obra-prima atmosférica. Menção especial deve ser feita a Pride (In the Name of Love), uma música que, todos esses anos depois, ainda é classificada como um dos melhores momentos da banda.

3. War


 

O U2 tinha seu som definido desde o começo. A guerra é onde eles encontram a voz para acompanhá-la. É aqui que eles param de ficar pessoais e começam a ficar políticos. Do primeiro ao último momento, é uma explosão raivosa e justa, com apenas a quantidade necessária de otimismo para mantê-lo fisgado. Como observa a Esquire , a banda estava na casa dos 20 anos quando escreveu e gravou este disco, e isso fica evidente — de todas as melhores maneiras.

2. The Joshua Tree

 

Mesmo as pessoas que dizem odiar o U2 e tudo o que eles representam provavelmente têm uma cópia de The Joshua Tree escondida em sua coleção. Este é o U2 no seu melhor estilo U2, com cada banda aumentando seu jogo e entregando as mercadorias como nunca antes. Os riffs de guitarra do The Edge são monumentais, estabelecendo a base, não apenas para o álbum, mas para todas as bandas de rock alternativo que vieram depois. Larry Mullen e Adam Clayton trovejam pelas músicas como as lendas do rock que são. Bono raramente soou melhor, nem entregou letras tão soberbas. A coisa toda é alucinante, e se você ainda não ouviu, você deveria ouvir agora.

1. Achtung Baby


Após a reação mista a Rattle and Hum, a banda voltou à prancheta. O que eles criaram não é apenas o melhor álbum do U2 de todos os tempos, é um dos maiores álbuns da história do rock, parada brusca. É engraçado e raivoso, furioso com o mundo em um momento, rindo dele no outro. Do romanticamente amigável ao rádio Who's Gonna Ride Your Wild Horses ao irritadiço Until The End of the World e o de alta octanagem Ultraviolet, ele corre de um momento perfeito para o outro. E, então, é claro, há Bono rosnando "Você veio aqui para brincar de Jesus/para os leprosos na sua cabeça?" que, 30 anos depois, ainda nos faz sorrir.


Ola Gjeilo “Dreamweaver”

 Mais dia menos dia era certo que este nome ia andar por aí a cativar atenções naquela franja que une os interesses que quem habitualmente caminha pelas águas da música popular e aqui e ali encontra motivos de interesse da música de alguns compositores contemporâneos, como recentemente aconteceu com nomes como um Max Richter ou Eric Whitacre. Chama-se Ola Gjeilo, nasceu na Noruega em 1978, estuou em Oslo, Londres e Nova Iorque e reside atualmente nos Estados Unidos onde não só completou um mestrado em composição em 2006 como, depois, foi compositor residente de um coro (em Phoenix, no Arizona) entre 2009 e 2010, cargo que atualmente desempenha com o Distinguished Concerts International New York (DCINY), mais perto da sua casa, em Manhattan. 

Depois de uma estreia na 2L em 2007 e uma passagem pela Chandos em 2012, Ola Gjeilo tem um relacionamento editorial com a Decca Records desde 2016, pelo qual editou já dois discos de música para piano – Q”Night” (2020) e “Dawn” (2022) – e primeiros títulos dedicados à música coral: “Olá Gjeilo” (2016) e “Winter Songs” (2017), este último recentemente lançado também em vinil. Em 2023 entrou em cena “Dreamweaver”, disco no qual o compositor (que escutamos ao piano) é acompanhado por Duncan Ridell (violino solista), Roberto Sorrentino (violoncelo solista), a Royal Philharmonic Orchestra e o coro da Royal Holloway, todos sob a direção de Rupert Gough. O alinhamento inclui uma série de pequenas peças (“Autumn”, “The North”, “Winter Night”, “Agnus Dei”, “Stone Rose” e “Ingen Vinner Frem Til Den Evige Ro”), em muitas passando marcas de invernia, frio e geografias do grande norte que já havíamos encontrado em títulos anteriores. Depois encontramos, com maior fôlego, “The Road” e, ainda, a pièce de resistence que dá título ao disco. “Dreamweaver”, que transporta marcas de identidade bem evidentes da música coral de Olá Gjeilo, grandiosa e luminosa, mesmo se sob temática invernosa, e parte de um poema medieval norueguês (“Draumlvedet”), no qual acompanhamos o protagonista que, depois de adormecer na véspera de Natal, acorda 13 dias depois para partilhar as experiências invulgares, de fulgor épico, pelas quais passara nesse período. Traduzido para inglês, o poema ganha corpo numa música com músculo e emoção que, se passar pelos ouvidos de quem faz cinema, mais dia menos dia acabará por levar o nome de Olá Gjeilo aos créditos de filmes que precisem de uma música com força e brilho… e coros.

“Dreamweaver”, de Ola Gjeilo, com Duncan Ridell, Roberto Sorrentino, a Royal Philharmonic Orchestra e o coro da Royal Holloway, sob a direção de Rupert Gough, está disponível em CD e nas plataformas digitais numa edição da Decca.



Lene Lovich “Toy Box – The Stiff Years 1978-1983”

 Uma das mais interessantes consequências da “revolução” punk foi o alargamento dos horizontes das possibilidades que muita criação pop rock ensaiou perante o grito de liberdade que mudara o mapa dos acontecimentos depois das revelações finalmente reveladas nos dois lados do Atlântico entre 1975 e 76. O termo pós-punk na verdade define mais um espaço temporal de acontecimentos dentro de eventuais novas fronteiras estéticas. Entre nós, na altura, usava-se para agrupar alguns desses acontecimentos a expressão “new wave”. E ali cabiam Elvis Costello, Ian Dury, os Madness, os Shirts ou os Talking Heads, uma vez mais definindo-se aqui uma linha de acontecimentos de geografia sonora bem mais alargada do que tantas outras expressões de “género” (musical, entenda-se) por vezes refletem. Lene Lovich era uma figura com algum impacte nesse panorama que viveu os seus dias entre finais dos anos 70 e inícios dos anos 80, contemporâneo portanto da eclosão do movimento new romantic (que nos EUA muitas vezes são arrumados na prateleira new wave) ou a primeira geração da emergente pop electrónica. Pela sua música havia marcas de época evidentes na forma de encontrar nas guitarras a força na condução de canções de alma pop. Mas a presença de teclados, de metais, de um sentido cénico invulgar e uma vocalização claramente ímpar, mostravam em si marcas de identidade que demarcaram imediatamente um lugar para si logo nos primeiros singles. E em 1979, o impacte significativo de “Lucky Number” (que na verdade começara a ser criado como um lado B para uma versão de “I Think We’re Alone Now”, em 1978), que esmaga em popularidade toda a restante discografia de Lene Lovich, faz com que por vezes haja quem a recorde como figura de um só êxito. Mas basta ouvir os discos que editou (sobretudo os primeiros) para reconhecer que, como em tantos outros casos, o sucesso nas vendas de discos não mede necessariamente a real expressão de uma obra.

Nascida em 1949 em Detroit, nos EUA (com pai sérvio, daí o apelido do seu nome real: Lili-Marlene Parmilovich), mas criada no Reino Unido desde os 13 anos, começou desde logo por apontar o seu futuro a uma carreira nas artes. E foi para impedir que os cabelos se misturassem com a argila em aulas de cerâmica e escultura que criou aquela forma de os prender que acabaria por ser imagem de marca que ainda de hoje não dispensa. A construção de uma personalidade invulgar deve certamente muito ao percurso, que a fez trabalhar como dançarina, escrever letras e atuar junto don francês Cerrone  (é sua a letra do clássico “Supernature”) ou gravar gritos em filmes de terror. A música surge cedo, com primeiras experiências em bandas, chegando mesmo a gravar um álbum com os Diversions (onde o safoxone tinha já um certo protagonismo).

Lene Lovich tinha já editado a solo um EP de Natal em 1976 quando um DJ apresentou uma gravação sua à Stiff Records (casa que teria um papel central nas movimentações “new wave” pelo Reino Unido em finais dos setentas e inícios dos oitentas). A ideia de gravar uma versão de “I Think You’re Alone Now” como single cede depois perante o aparecimento de “Lucky Number”, reeditada como lado A em 1979 e que abre um capítulo numa discografia que conheceu primeira experiência maior fôlego no álbum “Stateless” (1978) que traduz já as marcas de identidade da cantora.

Em 1980 chegou um segundo e ainda mais sólido passo (e um melhor corpo de canções) no sucessor “Flex”. O mundo dos sonhos, temas como a reincarnação ou inspiração colhida em livros de Charles Darwin ou Pierre Boulle materializam-se aí num disco de cenografia apurada e no qual há espaço para a experimentação de soluções invulgares, como as imitações de sons de pássaros que abrem “Bird Song”, nascidas de uma gravação inesperada que ela mesmo fez a meio de uma noite, tentando captar o que acabara de imaginar.

O EP “New Toy” (1981), no qual colaborou Thomas Dolby, que por algum tempo integrou a banda de Lene Lovich, antecedeu o terceiro álbum “No Man’s Land” (1982). Mais luminoso e menos intenso este terceiro disco passou longe das atenções e assinalou o ponto final no relacionamento com a Stiff Records. 

Este percurso entre 1978 e 1983 é agora recuperado em “Toy Box”, uma caixa de 4CD que junta os três álbuns editados neste período, acrescentando a versão remisturada de “Stateless” que na verdade corresponde à que foi lançada em muitos territórios internacionais. O booklet que acompanha estes 4CD assegura o “era uma vez” da história, contando com palavras da própria Lene Lovich, numa narrativa que nos faz entender o porquê da sonoridade mais crua e algo inacabada da versão original do álbum de estreia (criado em contra-relógio para integrar um lançamento simultâneo de discos pela editora) e o processo de refinamento que a remistura, originalmente apontada para o mercado americano, acabaria por trazer, com acoplamento diferente, às mesmas canções. 

Esta caixa acrescenta aos álbuns a totalidade de faixas lançadas em singles (lados a, b e máxis) neste mesmo período, o que envolve algumas gravações captadas ao vivo. Estão aqui ainda faixas reveladas em compilações temáticas da Stiff Records, entre as quais o hino “Be Stiff” gravador durante a célebre digressão conjunta de artistas do seu catálogo em 1979. 

Entre um corpo de 81 faixas, algumas pela primeira vez disponíveis em CD, faz-se a história da etapa mais significativa da obra de Lene Lovich. De fora ficam as poucas gravações anteriores a 78, assim como a mais esporádica atividade discográfica posterior que inclui um single pelo projeto Dolby’s Cube (de Thomas Dolby) e um outro em colaboração com Nina Hagen, criado em campanha pelos direitos dos animais, assim como os álbuns Wonderland (1989), que retoma as sonoridades clássicas da sua obra, tal como o faria em 2005 o seguinte Shadows and Dust, nenhum deles porém capaz de cativar atenções maiores (valendo contudo a pena sublinhar que a canção-tema do disco de 89 merece um lugar entre os temas de referência de Lene Lovich).

Com o teatro, a vida familiar e outros afazeres a dominar atenções em outras etapas, a música só voltou ao centro de gravidade da obra de Lene Lovich quando, em 2012, fundou a Lene Lovich Band, que a devolveu à estrada e com a qual se apresentou já em Portugal. A nova banda ainda não editou material novo.

“Toy Box – The Stiff Years 1978-1983”, de Lene Lovich, está disponível numa caixa com 4CD, numa edição da Cherry Red.




Trevor Horn “Echoes – Ancient & Modern”

 Mora entre a primeira liga dos produtores desde bem cedo e, mal os Buggles tinham editado o seu segundo (e último) álbum, já Trevor Horn tinha um destino mais claramente apontado ao lado da mesa de mistura que não o habitualmente ocupado por cantores e bandas na hora de gravar discos. “The Lexicon of Love”, dos ABC (para cuja gravação convocou uma equipa de trabalho na qual estavam já Anne Dudley e J. J. Jeczalik, ou seja, o núcleo original dos The Art of Noise) foi, em 1982, no mesmo ano em que trabalhou com os Dollar e Malolm McLaren (no marcante “Duck Rock”) um feito imediatamente reconhecido por um nome que, atento às novas ferramentas electrónicas e ciente da importância do estúdio na definição de uma música cinicamente elaborada, meticulosa nos detalhes, grandiosa nas formas. Com principal epicentro nos estúdios Sarm West (gerido por si e a sua mulher), Trevor Horn seu luz verde a novas colaborações, muitas delas sob o selo da ZTT Records, por onde gravou (e moldou) discos de nomes como os Art of Noise, Propaganda, Frankie Goes To Hollywood, Anne Pigalle, Grace Jones, 808 State ou Seal, entre outros mais. Com um percurso que, como produtor, o associou também a nomes como os Pet Shop Boys, Yes, Belle & Sebastian ou Marc Almond, Trevor Horn só voltou a editar discos na primeira pessoa (depois dos Buggles ou da passagem pelos Yes) já no século XXI, primeiro num single partilhado como Lol Creme e Yiannis Kotsiras (2004), depois integrando o coletivo The Producers (2012). Em 2019, depois de uma experiência na música para televisão (para a série de anime “The Reflection”), apresentou o projeto orquestral “Trevor Horn Reimagines the Eighties” (com um volume vocal e um instrumental), pelo qual propunha novas visões para canções de nomes como os Tears For Fears, Bruce Springsteen, Duran Duran, A-ha, David Bowie ou Tina Turner, com um batalhão de estrelas entre as quais Robbie Williams, os Simple Minds, as All Saints, Tony Hadley (dos Spandau Ballet) ou o velho colaborador Seal. Quatro anos depois “Echoes: Ancient & Modern”, que assinala a sua estreia no catálogo da Deutsche Grammophon, mantém vivo o gosto por um olhar retrospectivo do projeto anterior. Mas resulta uns furos acima do exercício de nostalgia com orquestra sem particular rasgo pelo qual procurou reimaginar os anos 80.

Desta vez o baú das memórias revistadas avança até aos século XXI. “Echoes: Ancient & Modern” busca pistas para “reimaginar” na discografia de Kendrick Lamar, Nirvana, Roxy Music, Depeche Mode, Pat Benatar, Billy Idol ou os Cars, repete Joe Jackson e alarga a presença de canções às quais juntou a sua assinatura como autor (Grace Jones, Yes) ou produtor (Frankie Goes to Hollywood). O leque de vozes é surpreendente, envolvendo figuras como Tori Amos (brilhante em “Swimming Pools (Drank)” de Kendrick Lamar), Rick Astley (em forma em “Owner of a Lonely Heart” dos Yes), Iggy Pop (que mergulha nas entranhas de “Personal Jesus” dos Depeche Mode), Lady Blackbird (em “Slave to The Rhythm” de Grace Jones) ou a dupla Toyah e Roberet Fripp (a quem entrega uma versão ambiental de “Relax” dos Frankie Goes to Hollywood). Antigos parceiros como Seal (“Steppin’ Out” de Joe Jackson) e Marc Almond (“Love is a Battlefield” de Pat Benatar) dão conta do recado. Menos arrebatadoras são, contudo, as novas leituras de “Drive” (dos Cars) por Steve Hogarth (Marillion), “White Wedding” (Billy Idol) por Andrea Corr e Jack Lukeman, a este último cabendo uma versão de “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana) que tenta encontrar uma visão nos antípodas do original mas que acaba coisa inconsequente. Felizmente o alinhamento junta logo a seguir a pérola maior do disco: uma nova abordagem a “Avalon” (Roxy Music) pelo próprio Trevor Horn… Talvez aqui esteja, nesta última versão, uma pista a ter em conta para eventuais cenas dos próximos capítulos. Apesar do star power do elenco, quem mais brilha no disco acaba por ser o próprio Trevor Horn. Tal como acontecia nos dias de “Video Killed The Radio Star”…

“Echoes: Ancient & Modern”, de Trevor Horn, está disponível em LP, CD e nas plataformas de streaming, numa edição da Deutsche Grammophon.



Robert Palmer “The Island Years”

 Os sons que começamos a escutar muitas vezes moldam não apenas um gosto mas também um eventual caminho na música. Foi o que aconteceu com Robert Palmer (1949-2003), autor de um percurso a solo particularmente marcante nos anos 70 e primeira metade dos 80, que viveu os dias de infância em Malta, escutando (com os pais) os sons da American Forces Radio, na qual descobriu a emergente os blues, o rhythm and blues, depois a emergente soul… Ao regressar ao Reino Unido, onde tinha nascido 12 anos antes, o seu mapa dos sons era claramente americano, pelo que não foi de estranhar que, ao passar de ouvinte a criador de música, esses caminhos acabassem por apontar rumos, tendo-se associado a bandas que navegavam perto dos blues e do jazz, do rock e da soul, a mais célebre das quais os Vinnegar Joe, nos quais militou entre 1971 e 74, dividindo então o lugar atrás do microfone com Elkie Brooks. Foi depois da passagem pelos Vinnegar Joe que a Island o desafiou para gravar a solo, surgindo então “Sneakin’ Sally Through the Alley” (1974) álbum gravado em New Orleans  pelo qual surgiam claras marcas das vivências até aí somadas e do gosto então já bem definido.

Este álbum abre agora a caixa de memórias que, sob o título “The Island Years” recupera os nove álbuns que Robert Palmer lançou a solo entre 1974 e 1985 pelo catálogo da mítica editora fundada por Chris Blackwell, a cada título sendo adicionadas faixas adicionais que completam o olhar panorâmico sobre este período. Ao álbum de 1974 seguiu-se, num azimute não muito diferente, “Pressure Drop” (1975) vincando a costela blue eyed soul e começando a somar ecos do reggae que, possivelmente por osmose, circulavam pelos corredores da editora, rota aprofundada (sob mais marcas rock e funk) em “Some People Can Do What They Like” (1976), com o seguinte “Double Fun” mais focado nas genéticas rock’n’roll, mantendo as cores e elegância que vinham já das experiências anteriores, talvez mais próximo de terreno ao gosto do FM americano no seguinte “Secrets” (1979).

A chegada dos oitentas revela contudo uma mudança de interesses, assimilando as emergentes electrónicas e as sugestões de um pop/rock mais desafiante sugerindo pela new wave. “Clues” (1980), que surge depois de uma participação em “Remain In Light” dos Talking Heads (retribuída pela contribuição neste disco de Chris Frantz), apresenta-se já em sintonia com novos rumos e conta até mesmo com Gary Numan nas teclas de uma versão do seu “I Dream Of Wires”. O disco nasceu na atmosfera certamente inspiradora dos Compass Point Studios em Nassau (Bahamas), tal como sucedera já com o anterior “Clues” ou o seguinte “Pride”,  os três sendo inteiramente produzidos pelo próprio Robert Palmer. “Pride” é um magnífico disco de alma pop que não perde as marcas de gosto históricas do músico, da soul ao funk, vincando os caminhos de maior ousadia que por aqueles dias caracterizava a sua música.

O passo seguinte, que representaria a última criação de Robert Palmer para a Island, traduziu sobretudo as ressonâncias da recente aventura nos Power Station, um dos dois projetos nascidos em tempo de pausa dos Duran Duran. Palmer convidou inclusivamente Andy Taylor para tocar guitarra em “Addicted To Love”, de vincado sabor rock que lhe deu o número um nos EUA (antes, com “Bad Case of Loving You – Doctor, Doctor” tinha alcançado essa mesma posição, mas no Canadá). No alinhamento de “Riptide” há ainda evidências da passagem pelos Power Station por via da presença do baterista Tony Thompson e pela produção assumida pelos Ex-Chic Bernard Edwards. Apesar do impacte de “Addicted to Love”, um dos momentos maiores deste disco (e uma das melhores canções da obra do músico) surge em “I Didn’t Mean to Turn You On”, um exercício pop funk minimalista que merecia um lugar de maior destaque no Olimpo das memórias dos oitentas.

“Riptide” encerra o capítulo revisitado nesta caixa, que assim deixa de fora os seis álbuns que Robert Palmer lançaria depois, entre 1988 e 2003, o primeiro dos quais “Heavy Nova”, claramente pensado para desenhar um novo passo no mesmo sentido do disco de 1985, com cartão de visita em “Simply Irresistible” a conseguir capitalizar ainda o momentum… Mas essa é história para outras revisitações da obra de Robert Palmer que terão de caber à Warner, Eagle e Universal (a casa da Island) que detém os respetivos títulos nos seus catálogos.

“The Island Years”, de Robert Palmer, é uma caixa de 9 CD numa edição da Island/Universal. 







Vários “The Italian Disco Collection”

 Apesar de lhe terem feito uma pira fúnebre no Comiskey Park, em Chicago, a 12 de julho de 1979, o disco não morreu. Carregada de significados, a Disco Demolition Night que, mais do que uma mera reação a um tipo de música, traduzia um conflito cultural e demográfico, e chegou a ser comparada por Nile Rodgers às queimas de livros na Alemanha nazi dos anos 30, na verdade acabou por abrir caminho a várias descendências e novas vidas do fenómeno que havia nascido na club culture norte-americana dos anos 70. E, apesar de heranças diretas no Hi-NRG que então floresceu entre São Francisco (com Patrick Cowley como principal fonte de ideias) e Nova Iorque (ali com Bobby Orlando), foi sobretudo em terreno europeu que ideias entretanto já em marcha geraram novos fenómenos de sucesso primeiro nas pistas de dança, depois nas rádios e, logo depois, nas tabelas de vendas. O tempo ensinaria que, afinal, o disco tinham pela frente mais vidas até que os gatos… 

Ao mesmo tempo que, com epicentro em França, o space disco traduzia o tempero futurista com que então se encarava a chegada dos oitentas (e vale a pena chamar aqui a esta equação o sucesso de “A Guerra das Estrelas” e “Encontros Imediatos de Terceiro Grau” que, em 1977, colocaram a ficção científica no patamar dos maiores sucessos de bilheteira no cinema), em Itália, sob ecos destes mesmos sabores (desde logo experimentados pelos La Bionda em, por exemplo, “I Wanna Be Your Lover”) e com atenções focadas no Hi-NRG norte-americano, emergiu uma nova música apontada à pista de dança, feita de canções com alma pop, temperadas a sintetizadores, musculares com baixo e percussões eletrónicos, inicialmente recorrendo ao vocoder e a temáticas sic-fi, depois evoluindo para traduzir sobretudo paisagens de festa, calor, dança, prazer. Tal como pelo Reino Unido, epicentro de uma nova cultura pop surgida na viragem dos anos 70 para os 80 (com os new romantics), as propostas de escotismo chegavam pela música. 

Conquistando primeiro atenções em Itália com discos de Koto, P Lion, Savage, Fun Fun ou Doctor’s Cat (todos eles com singles marcantes em 1983), logo depois revelando nomes como Ken Lazlo, Scotch, Silver Pozzoli, Raf, Sabrina ou Eddie Huddington, seduzindo ainda figuras vindas de outros universos musicais como, por exemplo, a cantora Ivanna Spagna (a dada altura foi uma das vozes do coletivo Fun Fun), Miko (que passou a apresentar-se como Miko Mission) ou percussionista Tulio de Piscopo (e notemos como, nos 70s também os Rolling Stones ou Rod Stewart tiveram os respetivos flirts com o disco). Todos eles usavam o inglês para cantar e não a língua italiana, habitualmente presente nos maiores sucessos discográficos no país. O fenómeno rapidamente passou as fronteiras, com nomes como Baltimora, Gazebo ou Ryan Paris a chegar inclusivamente a capitalizar episódios de sucesso no Reino Unido (então pouco aberto a casos da pop “continental”), sendo que por muitos outros territórios europeus houve muito mais momentos de êxito tanto nos discos como nas noites dançantes. O fenómeno alcançou tal dimensão que gerou até versões internacionais, como a dos belgas Kazino que gravaram a sua leitura para “Around My Dream” de Silver Pozzoli ou a norte-americana Laura Braningan que recriou “Self Control” de Raf, dando-lhe dimensão de êxito planetário. 

Foi numa série de compilações da editora alemã ZYX Music, lançadas ainda em finais dos anos 70, que nasceu a designação italo disco que se foi associando depois a esta música que, em meados dos anos 80, estava a somar êxitos Europa fora, gerando depois descendências locais que acabaria conhecida como euro disco, com surtos maiores de edição na Alemanha, França, Espanha ou Grécia, o que não impediu a vaga de atravessar o atlântico e contagiar, por exemplo, os canadianos Lime. Em Itália, o fenómeno gerou depois os habituais sucedâneos menores… Até que, com os noventas na linha do horizonte, e já sob as marcas de uma nova cultura chegada do outro lado do oceano (a house de Chicago em particular), entra em cena o italo house, com os Black Box (e o seu “Ride on Time” como cartão de visita internacional). E então, discretamente, o italo disco sai de cena.

Esta é a história agora recuperada em “The Italo Disco Collection”, caixa de 4 LP (com um tote bag como extra, sei lá para quê, mas enfim) que recupera os nomes centrais e os êxitos mais significativos do fenómeno. Pena, perante tão atenta curadoria, a ausência de um booklet que nos desse o contexto social e cultural que teve esta música como banda sonora.

“The Italo Disco Collection”, com faixas de vários artistas, é uma caixa de 4LP disponível numa edição da ZYX Music. 







Future Islands “People Who Aren’t Here Anymore”

 Apesar de serem hoje reconhecidos como uma banda de Baltimore (no estado norte-americano do Maryland), berço também de Philip Glass ou dos Animal Collective, os Future Islands têm a sua pré-história na costeira Morehead City (Carolina do Norte), onde os amigos Sam Herring e Gerrit Welmers viviam a uma rua de distância, com a música então mais sujeita ao verbo escutar do que à vontade de criar. William Cushion, nascido não muito longe dali, tinha já começado a tocar guitarra e em bandas ainda nos tempos de escola, frequentava um curso de fotografia quando ali conheceu Sam Herring. O trio entendeu-se e o desafio para criar uma primeira banda surgiu pouco depois mas, na hora de escolher quem tocava o quê, Gerrit escolheu as teclas, Sam assumiu o lugar atrás do microfone e William, surpreendentemente, optou pelo baixo. E desta conjugação nasceu um rumo distinto, herdeiro tanto dos legados de uns Kraftwerk e OMD como da escola Peter Hook (e descendências). O projeto, então sob a designação Art Lord & the Self Portraits e com toda uma carga literária, filosófica e cénica a marcar as canções e atuações, foi ganhando corpo e somou vivências. Até ao dia em que resolveram libertar-se de primeiros concertos, arranjar novo nome e, sem abdicar da música e das referências de base, procurar outro rumo. Já como Future Islands estreiam-se em palco em 2006, editam um álbum de estreia em 2007, cativam atenções da Thrill Jockey pela qual lançam os dois discos seguintes e, em 2014 dão por si no catálogo da 4AD pela qual apresentam “Singles”, álbum que os leva a um patamar de reconhecimento alargado, estatuto que cimentam depois com “The Far Field” (2017) e “As Long As You Are” (2020). 

Um hiato de quatro anos, na verdade preenchido pela gradual apresentação de seis singles que agora vemos reunidos no novo álbum, preparou o caminho que agora nos traz a “People Who Aren’t There Anymore”, sétimo álbum e talvez o mais sólido do percurso com quase 20 anos dos Future Islands. Tematicamente marcado por ressonâncias do fim de um relacionamento (o de Samuel Harring, uma das consequências pessoais dos dias vividos em pandemia) e ainda a perda de um amigo. É por isso perante pessoas que já ali não estão que nasceram as ideias transformadas em canções que reafirmam os Future Islands como uma das forças pop mais recomendáveis da atual cena indie norte-americana. Synth pop para sabores gourmet a juntar a um menu de referências do nosso século onde podemos juntar nomes com o os extintos Wild Beasts, o projeto de Ernest Weatherly Greene Jr. (ou seja, Washed Out) ou bandas como os Hot Chip ou Cut Copy, embora estas com reforço nas vitaminas para pista de dança. As canções são bem estruturadas, a voz conquistou definitivamente personalidade. E, a bem do alinhamento, há frestas de luz entre as linhas de melancolia que os temas sugerem… Escute-se “King of Sweeden”, que ainda por cima abre o álbum, para sentir que, nem perante a dor, a pop desiste da cor. 

“People Who Aren’t Here Anymore”, dos Future Islands, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da 4AD.





ROCK ART


 

BANDAS RARAS DE UM SÓ DISCO - Odin (1972)


 

Odin contava em sua formação com um tecladista alemão, um guitarrista nascido na Holanda e no baixo e bateria havia dois ingleses que residiam na Alemanha. Começaram a ensaiar e a percorrer os clubes na região Bavária com apresentações frenéticas e conseguiram certa notoriedade como uma das boas promessas dentro do cenário musical alemão. Este prestigio chamou atenção do selo Vertigo, que tinha como pratica incentivar as revelações que apresentassem certo potencial com um contrato para a gravação de um álbum.

As gravações do disco ocorreram em um estúdio localizado na cidade de Hamburgo, durante o mês de setembro de 1972. Os próprios músicos se encarregaram da produção com o auxílio do engenheiro de som Horst Grosse. O lançamento do álbum ocorreu no início do ano seguinte, este continha sete faixas, sendo três de mais de oito minutos, sendo uma delas um cover para Gemini, do grupo britânico Quartemass, que é quase idêntica ao original, diferenciando - se somente pela utilização da guitarra que pouco altera a estrutura original da canção. As outras faixas mais longas são os destaques do disco, curiosamente é a que inicia o disco, ou seja, primeira do lado um, Life Is Only, e a última do lado dois, Clown. As duas são comandadas pelos acordes de órgão criados pelos tecladista Jeff Beer, que segue a escola de Jon Lord e Vincente Crane, porem sendo um pouco mais suave. Acompanhando as linhas de teclado temos as intervenções precisas do guitarrista Rob Terstall, o que cria um clima semelhante a algumas obras dos ELP e do Yes no início dos anos setenta.

As outras quatro faixas são mais curtas e dividem - se entre temas instrumentais, que são Eucalyptus, que tem tranquilos acordes de guitarra e uma hipnótica percussão, e Tribute To Frank, que tem tinturas jazzísticas e remete a temas criados por Frank Zappa e Gentle Giant. Turnpike Lane também podemos dizer que é instrumental, já que não tem letra, somente brincadeiras vocais em cima da melodia que tem uma vibrante participação do baixo e bateria, talvez a faixa com mais potencial comercial do disco. E por último temos uma agradável balada folk, Be The Man You Are.

O trabalho teve comentários satisfatórios em resenhas de algumas revistas e o grupo tinha agendado uma série de apresentações, porem por razões de caráter econômico e legal não foram realizadas na totalidade. Este percalço impediu que o disco atingisse um público mais amplo. Com as esperanças frustradas os músicos dissolveram a banda e seguiram rumos distintos. 

Integrantes.

Jeff Beer (Teclados, Percussão, Vibes, Vocais)
Ray Brown (Baixo, Vocais)
Stuart Fordham (Bateria, Percussão)
Rob Terstall (Guitarra e Vocal)
 









Fantasia - 2022 - Aikamatkaajan Unikuva

 



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Unikuva/Huutokauppa    5:50
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Tulen Pisara 6:00
 

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