quarta-feira, 17 de julho de 2024

The Stranglers – No More Heroes (1977)


Richard Hell & The Voidoids – Blank Generation (1977)

 

The Jam – In the City (1977)


Ramones – Leave Home (1977)


 

Como pode uma banda fazer um disco praticamente igual ao anterior e mesmo assim soar fresco? Infelizmente, só os Ramones conseguem ter uma resposta para isso…

Lançado quase um ano após a estreia do seu disco homónimo, os Ramones dão às pessoas aquilo que elas querem. Mais do mesmo. Dois ou três acordes, o mesmo baixo monocórdico, a bateria tão limitada que, ao lado dela, Ringo Starr parecia John Bonham e a voz áspera, mas ao mesmo tempo divertida, de Joey Ramone. Se fossem receitas de culinária, as músicas dos Ramones estariam naquela secção de “óptimas refeições preparadas em menos de cinco minutos”.

Quando em 1977 começaram a surgir notícias sobre um novo movimento, ao qual cunharam como punk, já os Ramones andavam na estrada há mais de um ano. Para quem sempre os tentou rebaixar, aqui fica o facto histórico. No entanto, o que sempre diferenciou o som dos Ramones dos restantes, especialmente em relação à vaga vinda do Reino Unido, foi a ligeireza e noção de melodia que pautavam as composições de Joey Ramone e em Leave Home podemos atestar isso mesmo em músicas como a que conta a história  do retardado “Pinhead”, de onde surgiria outro dos gritos de guerra da banda – Gabba-Gabba-Hey!; do militar dedicado (“Commando”); das doenças mentais (“Gimme Gimme Shock Treatment”); da misoginia (“Glad To See You Go”); da “headbanger” Suzy em antecipação à Sheena Punk Rocker; dos vícios low-cost (“Carbona Not Glue”) – tudo servido com uma boa dose de humor e ironia. “Carbona Not Glue” faria a banda entrar em sarilhos, sendo, por via dela, retirado o disco das prateleiras e mais tarde reeditado com outra música em substituição (“Babysitter”).

Nas 14 músicas que compõem Leave Home encontramos também os Ramones a declarar o seu amor ao som do surf-pop dos anos 60 e ao romanticismo de Phil Spector como em “I Remember You”, “Oh Oh I Love Her So” – única música de amor no mundo que tem como cenário um Burger King -, “You’re Gonna Kill That Girl” e a soalheira “California Sun”, cover de Joe Jones, mais tarde transformada em Sol da Caparica pelos Peste & Sida.

Leave Home é, sem qualquer dúvida, um disco clássico do movimento punk-rock. Uma colecção de músicas para aqueles que já não suportavam solos de guitarra ou teclados que duravam eternamente. O regresso do rock às suas raízes, portanto. E, pese embora tenham a fama de serem tecnicamente menores e menos capazes, não havia muito melhor do que os Ramones a devolverem o prazer genuíno de ouvir um belo som de rock ‘n roll…



Jerry Paper – Like a Baby (2018)


Review: Glenn Hughes - First Underground Nuclear Kitchen (2008)

 


Quando foi lançado em maio de 2008, First Underground Nuclear Kitchen, décimo-terceiro álbum solo do veterano Glenn Hughes, recebeu resenhas entusiasmadas de uma parcela considerável da crítica especializada, que apontou o disco como o melhor de Hughes em muitos anos. A pergunta é: seria para tanto?

Acompanhado por Chad Smith na bateria e Luis Carlos Maldonado na guitarra, além das participações em algumas faixas de JJ Marsh e George Nastos nas seis cordas, bem como dos tecladistas Anders Olinder e Ed Roth, Glenn passeia com propriedade e experiência pelo hard rock, pelo funk e pelo soul, gêneros fundamentais em sua formação. Aliás, o próprio título já deixa isso claro, pois as letras iniciais das palavras que batizam o álbum formam a palavra FUNK.

A abertura com "Crave" desce redonda. A faixa título é um hit bruto, com um refrão repleto de balanço, pronto para ser cantado a plenos pulmões por plateias ensandecidas ao redor do globo. Hughes acerta a mão no funk de "Love Communion", na sensibilidade soul de "Imperfection" e no peso de "Never Say Never", que coloca no mesmo caldeirão os dois principais universos musicais trilhados pelo artista em sua carreira: o hard rock e o funk.

Outro bom momento é a contemplativa "Too Late to Save the World", baladaça que demonstra, em todos os sentidos, o vocal privilegiado de Hughes. A doce "Where There’s a Will" fecha o álbum de maneira reconfortante, como um bálsamo depois da tempestade.

Um aspecto que me incomodou um pouco em First Underground Nuclear Kitchen foi a semelhança entre os andamentos funks do disco, com Glenn Hughes e Chad Smith não se aventurando pela fértil tradição criativa que o gênero possui. Quem conhece o estilo sabe que o que não falta é inovação e ousadia nas bases rítmicas dos grupos negros dos anos 1960 e 1970, por isso a insistência de Hughes em ficar dando voltas em torno de um mesmo lugar frustra um pouco. Exemplos disso são os grooves de "Love Communion" e "We Go to War", quase iguais. Uma ousadia um pouco maior seria muito bem-vinda.

Concluindo, First Underground Nuclear Kitchen é um bom álbum, mas está longe de ser um novo clássico como alguns apressados chegaram a pregar. Ainda prefiro Building the Machine, petardo lançado pelo baixista em 2001, esse sim um senhor trabalho, explorando todas as possibilidades do talento de Hughes. O interessante é que, com o seu envolvimento com o Black Country Communion e outros projetos, Hughes acabou gravando apenas mais um disco solo após esse, o bom Resonate, que saiu em 2016.

First Underground Nuclear Kitchen reserva bons momentos e irá agradar aos fãs. Vale a pena conhecer, ainda mais porque o trabalho ganhou uma edição nacional em CD pela Hellion Records na época do seu lançamento, que com alguma sorte você ainda pode encontrar pelo caminho.



Review: Rage – Reign of Fear (1986)

 


Lançado em maio de 1986, Reign of Fear é o primeiro álbum do Rage, uma das bandas mais icônicas e influentes do heavy metal alemão. O disco veio na sequência de Prayers of Steel, que saiu em 1985 quando o grupo ainda se chamava Avenger, e deu início a uma das mais prolíficas discografias do som pesado germânico. O CD acaba de ser relançado em uma edição dupla aqui no Brasil pela Hellion Records, que já havia realizado um trabalho semelhante com Prayers of Steel.

O Rage na época era um quarteto, em contraste com a imagem que se formou no inconsciente coletivo metálico, onde o grupo é associado a um trio há pelo menos vinte anos. Na época a banda era formada por Peavy Wagner (vocal e baixo), Jochen Schröder (guitarra), Thomas Grüning (guitarra) e Jörg Michael (bateria, que mais tarde integraria o Grave Digger, Running Wild e o Stratovarius, além de diversas outras bandas).

Produzido por Ralf Hubert e disponibilizado originalmente pela lendária gravadora Noise, Reign of Fear traz um Rage bastante diferente do que nos habituamos a ouvir. A sonoridade aqui é muito mais alinhada com o então nascente speed metal, que na época se confundia com outro gênero também recente, o power metal. As dez músicas do álbum são predominantemente velozes e não trazem as influências de música clássica que foram incorporadas pelo Rage a partir da década de 1990. O vocal de Peavy soa mais agudo, enquanto hoje em dia sua voz traz nuances bem mais graves. Instrumentalmente, o disco é bastante cru e não entrega um requinte muito grande, porém isso é compensando com uma energia contagiante e que faz com que as músicas transpareçam autenticidade e paixão.

O trabalho de remasterização foi primoroso, e é um dos destaques dessa nova edição. A outra é a inclusão de treze faixas bônus no segundo CD, trazendo as versões demo das músicas que entraram no álbum e de outras que acabaram ficando de fora do tracklist final. Fechando, o encarte contém uma dose generosa de informações sobre o que se passava com a banda na época.

Essa série de relançamentos do Rage que está sendo realizada pela Hellion é uma ótima oportunidade de começar, completar e atualizar a coleção de um dos nomes mais queridos do metal alemão, que desde o começo sempre mostrou potencial para alçar os vôos mais altos que efetivamente realizou ao longo de sua trajetória.



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