O mais acarinhado extraterrestre neo-zelandês, Connan Mockasin, lançou, no início de outubro, mais um disco que reflete a sua constituição musical simultaneamente bizarra e amigável – Jassbusters. Um disco para tocar no fundo dos dias frios de inverno a fazer de aquecedor.
O músico, compositor e produtor neo-zelandês Connan Mockasin, de nome real Connan Tant Hasford, é a conjugação de sonho para os apreciadores da chamada música alternativa que gostam de convidar os amigos para o seu mundo sem grandes dificuldades: é inventivo e “esquisito” o suficiente para chamar a atenção do ouvido distraído e se camuflar dos demais, e, ao mesmo tempo, possuí um tato cuidado para a simplicidade melódica sem manhas que torna tranquila a tarefa de agregar apreciadores. Em toda a sua graça de alienígena, sendo esta fruto de cálculo mediado ou puro acaso, nunca chega a alienar. Quando surgiu em cena ainda na natal Nova Zelândia no início da década com Forever Dolphin Love, de 2011, semeou o interesse de melómanos e críticos com o seu pop vaporizado em letras surrealistas, linhas de baixa e guitarra suculentas e voz suave. Caramel, de 2013, afinou a fórmula de sucesso, concretizando todos os ingredientes da sua sobremesa colorida e deliciosa em refrões memoráveis como aquele que encontramos em “I’m The Man That Will Find You”. Mesmo a descrição lo-fi da marca que foi construindo ao longo dos anos não podia ocultar o gigantismo pop de temas perfeitamente dignos de serem cantados por centenas de milhares de festivaleiros que se foram reunindo nos meses e anos seguintes para ver a estranha criatura em carne e osso – homem de feições rudes, farta cabeleira loira e indumentária espampanante. Mas tudo isto ficou em 2013. Em 2018, com Jassbusters, lançado a 12 de outubro pela Mexican Summer, Connan Mockasin ainda se agarra a uma fórmula vencedora de música que agrada mas não chateia, mas os refrões robustos são substituídos por devaneios bem mais discretos.
Cumprimenta-nos com “Charlotte’s Thong”, um groove impecável que parece possuir a habilidade de se repetir para sempre em loop nas nossas cabeças muito para além dos seus corajosos nove minutos de duração: a sua pobre dicção, frequentemente apontada pelos críticos, confunde-se com o seu timbre esponjoso que salta de um registo grave a falsettos como um piolho sem rumo e deixa-nos com algumas interrogações acerca do significado concreto da canção (estará ele a dizer “thong” ou “song”? e, mais importante, será que interessa?). Mas tal como a maior parte dos temas que Mockasin reúne no seu último trabalho, parecem não ser construídos para exigir atenção de estudo, mas mais promoverem uma banda-sonora que toca distraidamente no fundo de qualquer outra coisa – aqui importa referir que Jassbusters foi, aliás, composto como acompanhamento de “Bostyn ‘n Dobsyn”, filme realizado e escrito pelo próprio. Que pouco interessa, na verdade, porque molda-se como plasticina a qualquer outro momento que exija uma guitarra pachorrenta a aquecer o ambiente.
Em “Momo’s”, somos assaltados de surpresa por uma voz que não esperávamos ouvir a ornamentar um tema de guitarra, baixo e bateria vagarosas – James Blake, convidado inesperado em Jassbusters, deixa de lado os baixos pesados e o piano devastador para conferir a uma canção que, nas mãos de Mockasin, se tornaria uma coisa completamente diferente, um certo gostinho “radiohead-esco” que foi agradável descobrir de repente a meio de um disco no qual não o esperávamos encontrar, como quem encontra uma nota de cinco euros no bolso.
Distingue-se também “Con Conn was Impatient”, agradável baladinha veranil que facilmente faria um single de sucesso de um Mac Demarco marciano, e, claro, “Sexy Man”, na qual Mockasin mais uma vez (como já fez em temas lançados anteriormente) exibe um certo travo de romântico peganhento com queda para a melodia doce, sem ser piegas.
No final do dia, Jassbusters é um disco de um Mockasin ligeiramente mais nu do que os anteriores, mais compondo lentamente diante de uma lareira a crepitar do que de uma horde de fãs que exigem refrões que fiquem presos nas suas bocas. A “música ambiente” – no sentido mais literal da afirmação, como o pianista que vai tingindo de notas musicais de estranhos que se encontram ao balcão de um bar de hotel – assenta-lhe bem. O novo disco de Connan Mockasin não é um disco que exija concentração na escuta, mas mais algo para aquecer a sala de estar no inverno rigoroso que nos espera por toda a parte. Talvez não seja chamado para a conversa de discos mais memoráveis do ano quando este passar, mas talvez daqui a uns bons tempos nos lembremos de o meter a tocar enquanto vamos conversando.