domingo, 1 de setembro de 2024

Review: Candlemass – The Door to Doom (2019)

 


Décimo-segundo álbum do Candlemass, The Door to Doom marca o retorno do vocalista Johan Längqvist após mais de trinta anos. O cantor, que gravou apenas o clássico disco de estréia com o grupo – o mítico e profundamente influente Epicus Doomicus Metallicus -, é um dos grandes diferenciais do novo álbum da banda sueca.

Sucessor de Psalms for the Dead (2012), o disco põe fim também ao maior período entre um trabalho e outro do grupo, tempo esse que foi muito produtivo para o principal compositor do quinteto, o baixista Leif Edling. Nesses sete anos, Leif montou o Avatarium e gravou três álbuns, além de criar também outra banda, o The Doomsday Kingdom, que soltou o seu disco de estreia em 2017.

Essa parada fez bem para o Candlemass. Respirar novos ares refrescou a criatividade dos músicos, que apresentam em The Door to Doom um de seus discos mais sólidos. Edificado pelos riffs da dupla Mats Björkman e Lars Johansson, o álbum apresenta uma sonoridade clássica e cativante, é pesadíssimo, conta com um trabalho vocal exemplar e mostra o grupo caminhando com absoluto domínio pelo terreno denso do heavy metal.

O Candlemass é e sempre foi, na verdade, uma daquelas bandas que justificam a teoria de que o imortal terceiro álbum do Black Sabbath, Master of Reality (1971), deu vida, sozinho, a dezenas de ramificações do metal. The Door to Doom atesta esta verdade e a deixa mais evidente do que nunca. Pra não ficar dúvidas, o próprio Tony Iommi dá a sua benção fazendo o solo de “Astorolus – The Great Octopus”, ratificando o universo sonoro compartilhado entre as duas bandas.

Com oito ótimas faixas dispostas em 48 minutos, The Door to Doom é um dos melhores álbuns da carreira do Candlemass e um dos destaques do heavy metal em 2019. Um senhor disco e que, sinceramente, considero impossível de não ser apreciado por toda pessoa que já se emocionou com a energia de um riff pesado e repleto de distorção.

O álbum ganhou edição nacional pela Hellion Records.




Review: Uriah Heep – Living the Dream (2018)

 


Existe uma parcela do público que acha que o rock pesado dos anos 1970 se resumiu a apenas três bandas: o famoso trio Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Porém, qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sobre o assunto sabe que as coisas não foram bem assim. Bandas como Grand Funk Railroad, Rainbow, Thin Lizzy, Blue Öyster Cult, Wishbone Ash, Budgie e inúmeras outras também fizeram história naquele período e foram vitais para o desenvolvimento da música pesada. Uma das maiores foi o Uriah Heep.

Formado em Londres em 1969, o grupo está na ativa até hoje e lançou em 2018 o seu vigésimo-quinto álbum, Living the Dream, que está sendo disponibilizado em CD pela Hellion Records aqui no Brasil. Pra quem nunca ouviu a banda, pode-se dizer que há uma certa semelhança entre a sonoridade do quinteto liderado pelo guitarrista Mick Box e o Deep Purple, tanto pela presença de elementos prog quanto pela elevação do teclado ao grau de protagonismo, dividindo espaço com a guitarra. O resultado é uma hard rico em melodia, harmonias e mudanças de dinâmicas, que possui uma camada densa e sempre preenchida e que, depois de cinquenta anos de estrada, continua soando pesado e atraente.

Além da Box, a banda conta com Bernie Shaw (vocal), Phil Lanzon (teclado), Davey Rimmer (baixo) e Russell Gilbrook (bateria), um time experiente e entrosado, que não precisa provar nada pra ninguém e segue na estrada por puro amor à música. Esse aspecto é o responsável por fazer um álbum como Living the Dream, gravado por uma banda veterana como o Uriah Heep, soar refrescante e extremamente agradável aos ouvidos. Há um certo clima on the road propiciado pelos solos de guitarra e teclado, que transportam o ouvinte para uma estrada repleta de sons maravilhosos.

O Uriah Heep explora as mais diferentes facetas de sua sonoridade, indo desde o lado mais agressivo e viajante dos anos 1970 até os flertes com o mercado norte-americano na década de 1980. Ou seja, temos momentos de selvageria instrumental e vocais agressivos lado a lado com canções onde a melodia é dominante e a acessibilidade é consciente.

Living the Dream é um dos melhores álbuns do Uriah Heep. Um disco maduro, sólido e feito por músicos apaixonados para fãs fiéis. É uma banda dividindo a alegria de viver o seu sonho, e transformando isso em música de inegável qualidade.



Review: Grateful Dead - American Beauty (1970)

 


E foi com American Beauty que o Grateful Dead alcançou um som genuinamente fantástico, com canções memoráveis e clássicos típicos da virada dos anos 1960 para os 1970. E o disco é agradável por misturar na medida certa instrumentos elétricos e acústicos e com todos os músicos se destacando.

A banda era um verdadeiro combo e entrou no estúdio formada por Jerry Garcia (guitarras pedal steel, piano e vocais), o jovem Bob Weir (guitarra base e vocais),  Mickey Hart (percussão), Bill Kreutzmann (bateria), Phil Lesh (baixo, guitarra, piano e vocais) e o falecido beberrão Ron "Pigpen" McKernan (harmônica e vocais). 

Logo de cara temos a doce e delicada "Box of Rain", muito na veia de outra super banda da época, o Crosby, Still, Nash & Young. A canção transporta o ouvinte com um som suave em que Phil Lesh queria tanto cantar para seu pai que estava moribundo. Robert Hunter escreveu as letras que desfilam poesia em "Saia de qualquer porta sinta o seu caminho, sinta o seu caminho como no dia anterior/ Talvez você encontre direção em algum canto onde está esperando para conhecê-lo". Uma belíssima abertura de disco, sem dúvida alguma.

"Friend of the Devil" invoca um espírito mais brincalhão na linha de Simon & Garfunkel, arrancando um sorriso de quem a escuta. Na letra, um homem que está fugindo da lei passa por quase todos os Estados Unidos - cortesia de Jerry Garcia. A instrumentação acústica é linda, incluindo um excelente trabalho de bandolim do convidado David Grisman, e é a primeira de três músicas deste disco que capta exatamente o que o Dead adorava fazer: a vida na estrada. 

A coisa começa a ficar mais mais séria em "Sugar Magnolia", um clássico instantâneo animado e bem alto astral imortalizado na voz de Bob Weir com um ar rock country, se tornando uma das favoritas dos fãs.


"Operator" traz um clima mais cadenciado cantado por Pigpen, um blues com ar bem folk. "Candyman" é outro momento de brilho de Jerry Garcia. Hipnótica, a canção é um blues mais arrastado e bucólico, com um instrumental intimista apoiado nas guitarras acústicas. A balada "Ripple" segue a mesma linha, mas desta vez um pouco mais country do que a canção anterior . O segundo petardo que trata da vida na estrada é "Brokedown Palace" e relata uma jornada de um viajante - mais precisamente os Deadheads que viajavam de cidade em cidade com a banda em suas turnês - mais fiel. Uma justa homenagem da banda aos seus fiéis acompanhantes, que ficaram mundialmente famosos pela dedicação e fanatismo. 

"Till the Morning Comes" é mais alegre, com um ar de anos 1960 ainda pairando e trazendo a banda entrosada nas passagens - indicando que os anos de estrada e horas de jams ao vivo trouxeram resultados positivos. A banda parece tocar por instinto. Uma bela surpresa deste grande álbum. A lenta e potente "Attics of My Life" tem um clima bem Grateful Dead, com destaque ao piano emoldurando e bela harmonia - que fica espetacular com os vocais em coro. Estamos diante uma das músicas mais bonitas do disco, com harmonias vocais de Garcia, Weir e Lesh combinando perfeitamente. 

A terceira e última música que fala da vida da estrada fecha o disco de maneira brilhante! "Truckin'" é praticamente uma história autobiográfica sobre a vida na estrada literalmente, onde todos os locais se misturam em um "quem é quem" das cidades americanas. No final das contas, a canção lembra que todos os locais são os mesmos e o que importa é ir tocar para seus fãs e depois descansar em casa, recuperar as energias para cair na estrada novamente. Cidades se misturam: "Chicago, Nova York, Detroit, está tudo na mesma rua". 

"Truckin'" é o hit do álbum e sua música mais famosa, ao lado de "Sugar Magnolia". É também o número mais impressionante aqui, já que a jornada até agora da banda é narrada: "Às vezes a luz está brilhando em mim  / Outras vezes mal consigo ver / Ultimamente me ocorre / Que viagem longa e estranha tem sido".

Se tivesse que escolher apenas uma música do disco? American Beauty é o retrato sonoro do talento do Grateful Dead. Vale destacar "Truckin'", por contar a vida da banda sem papas na língua! 



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