quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

“1999” (Warner, 1982), Prince

 


Prince Rogers Nelson (1958-2016), ou simplesmente Prince, era um cantor em ascensão naquele começo de década de 1980, que reunia em seu trabalho, referências de Jimi Hendrix (1942-1970), Sly Stone, Stevie Wonder e David Bowie (1947-2016). Do balanço funk mais dançante à new wave mais frenética e roqueira, Prince não conhecia limites para possibilidades musicais, assimoEmbora muito jovem, Prince já se mostrava um artista com personalidade muito sólida e uma mente criativa poderosa. Produzia seus próprios discos, tocava vários instrumentos e compunha à profusão.

Entre 1978 e 1981, Prince já tinha quatro álbuns gravados. Dirty Mind (1980) e Controversy (1981), foram muito bem avaliados pela crítica. Ao mesmo tempo, seu visual era bastante provocante: nos shows, entrava no palco trajando um longo casaco, para abri-lo diante do público exibindo o seu corpo vestindo uma calcinha e mais algumas peças femininas. Esse traje cheio de apelo homoerótico de Prince e de sua banda de apoio, não foi bem “digerido” pelo público dos Rolling Stone. O cantor foi atração de abertura de dois shows dos Rolling Stones na Califórnia, em 1981, e o público da banda, preconceituosamente, reagiu mal ao visual do artista e de seus músicos com vaias e atirando neles garrafas ao palco. Daquele momento, Prince prometeu a si mesmo que nunca mais iria abrir show de nenhum outro artista.

Talvez como resposta, Prince decide ir à forra. Estava decidido a ser um super astro pop, “nos seus próprios termos”, segundo afirmou Andreas Swensson, jornalista de Minneapolis, cidade natal do cantor. Prince enfurnou-se no seu estúdio caseiro, em Chanhassen, uma pequena cidade no Minnesota, nos Estados Unido, onde compôs material suficiente para preencher um álbum duplo.

Embora contasse com a sua banda de apoios, a The Revolution, que o acompanhava nos shows, e que passou a acompanha-lo em algumas gravações em estúdio, Prince não abriu mão de tocar a maiorias dos instrumentos nas gravações.

Prince acompanhado da banda The Revolution.

Intitulado 1999, o quinto álbum de estúdio de Prince foi lançado como álbum duplo, apesar de ter apenas onze canções. Contudo, a longa duração de algumas faixas levou o álbum a ser lançado em formato duplo.

Diferente dos trabalhos anteriores, 1999 mostra a sonoridade de Prince mais direcionado ao uso de recursos eletrônicos como sintetizadores e baterias eletrônicas, que empregados ao lado de guitarras e baixo, embalam o som de rock, baldas, funks e R&B’s presentes no álbum duplo. Esse novo direcionamento musical trazido para o trabalho de Prince, iria moldar o som dos álbuns seguintes do cantor durante os 1980.

A faixa-título é quem abre este quinto álbum de Prince, seu primeiro álbum duplo. Uma voz embolada, cavernosa e arrastada dá início á faixa, seguido depois por uma introdução funk bem dançante. Os primeiros versos são cantados Lisa Coleman (vocalista de apoio e tecladista) e pelo guitarrista Dez Dickerson, ambos integrantes da Revolution. “1999” tem uma temática apocalíptica, em que o mundo estaria à beira de um Juízo Final. Nesta música, o recado de Prince é que devemos aproveitar a vida o máximo possível, festejar enquanto o fim não vem.

O sexo é um tema presente em boa parte das canções de 1999, assim como álbuns anteriores. Em “Little Red Corvette”, Prince faz uma associação do carro com uma relação sexual. “Delirious” é uma faixa interessante por ter uma levada rítmica bem ao estilo rockabilly dos anos 1950, mas com uma estética anos 1980, em que há um baixo funky e camadas de sintetizadores.

Com pouco mais de sete minutos, “Let's Pretend We're Married” é sobre um sujeito que foi abandonado pela namorada, e que num ato de atrevimento, sai à procura da primeira garota que encontrar para propor-lhe uma noite sexo, e assim fazê-lo esquecer da sua agora ex-namorada. A música tem um rítmico veloz e dançante, com uma batida de caixa e bumbo em linha reta, e sintetizadores fazendo a base de fundo.

“D.M.S.R” é faixa que encerra o primeiro disco do álbum. Bateria eletrônica e sintetizadores convivem em harmonia com o baixo e guitarra elétrica funk da música, criam uma base instrumental funk envolvente. As iniciais do título da música significam “Dance”, “Music”, “Sex” e Romance”. Os vocais são cheios de “chamada- resposta”.

O disco 2 de 1999 começa as batidas programadas dançantes e sintetizadores de “Automatic”, canção essencialmente pop e com um refrão “grudento”, em que Prince acena para new wave. É curioso perceber que a levada rítmica de “Automatic” guarda “parentesco” com “When Doves Cry”, do álbum Purple Rain (1984). Com cerca de mais de nove minutos, poderia perfeitamente ser mais curta. O videoclipe de “Automatic” gerou polêmica na época, devido às cenas e apelo erótico, nas quais Prince aparece amarrado numa cama e sendo chicoteado pro suas integrantes de sua banda.

“Something in the Water (Does Not Computer)” tem uma base rítmica eletrônica frenética e inquietante, e combina “floreios” eletrônicos e mínimo de vocais melódicos. Sons de mar, ventos e de passos, abrem o rock balada “Free”, cujos versos saúdam a liberdade e o livre pensar. O canto desesperado de Prince ao final da música, remetem a “Purple Rain”,hit de Prince de 1984.

Prince numa cena do videoclipe de "Little Red Corvette".

Depois da mensagem pacifista da faixa anterior, Prince e banda voltam ao balanço dançante com o funk de “Lady Cab Driver”, marcado por uma bateria seca, uma linha de baixo cheio de “slaps” e sons de trompas emulados por sintetizadores. A faixa traz cantos falados de rap, com gemidos incessantes de uma garota ao fundo. A longa duração da faixa (cerca de oito minutos), justifica-se diante dos trechos em os integrantes da Revolution mostram as suas habilidades instrumentais. 

Com uma bateria eletrônica e uma linha de baixo em completa sintonia, “All The Critics Love U in New York” traz Prince com vocais sussurrantes, e ao mesmo tempo, cantos falados, em que mais uma vez, Prince flerta com o nascente rap.

“International Lover” encerra o álbum, uma balada romântica de ritmo lento em que Prince canta em falsete atingindo notas altas para depois chegar em tons estridentes. A letra é dotada de erotismo e sedução, em que Prince compara o voo numa cabine de avião 747 como um ato sexual. “International Lover” foi a primeira indicação de Prince ao Grammy, em 1984, na categoria “Melhor Performance Vocal R&B Masculina”.

1999 alcançou o 9° lugar na parada de álbuns da Billboard 200, enquanto que o single de “Little Red Corvette chegou ao 6° lugar na parada de singles da Billboard Hot 100, ambas as paradas nos Estados Unidos.

Os videoclipes de “1999” e “Little Red Corvette”, tiveram alta rotação na programação da MTV americana. Os dois videoclipes estão entre os primeiros videoclipes de artistas negros a serem exibidos naquele canal. 

O sucesso comercial 1999 alçou Prince ao estrelato da música pop mundial. A sua condição de astro pop de primeira grandeza seria consolidada dois anos mais tarde com o álbum Purple Rain, disco que também é trilha sonora do filme de mesmo nome, e do qual Prince atuou como ator protagonista.  

Faixas

Todas as faixas foram compostas por Prince.

Discos 1

Lado 1

“1999”

“Little Red Corvette”

“Delirious”

 

Lado 2

“Let’s Pretend We’re Married”

“D.M.S.R.”

 

Discos 2

Lado 3

“Automatic”

“Something In the Water (Does Not Compute)”

“Free”

 

Lado 4

“Lady Cab Driver”

“All the Critics Love U in New York”

“International Lover”

 

Prince (vocais principais e de apoio, todos os outros instrumentos, exceto quando indicado)

The Revolution: Dez Dickerson (guitarra), Brown Mark (baixo), Lisa Coleman (teclados e piano), Matt Fink (teclados) e Bobby Z. (bateria e percussão)


Ouça na íntegra o álbum 1999


“1999” (videoclipe original)

“Little Red Corvette” (videoclipe original)

“Let’s Pretend We’re Married” 
(videoclipe original)

“Automatic" (videoclipe original)

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