sexta-feira, 12 de maio de 2023

Review: Sepultura – Against (1998)

 


A implosão repentina do Sepultura em 1996 foi um choque para a cena do metal, tanto brasileira como mundial. O quarteto mineira era na época uma das mais populares e inovadoras bandas do mundo, havia lançado um disco incrível e pra lá de original – Roots, que saiu em 20 de fevereiro daquele ano – e tinha potencial para alcançar um público cada vez maior. Porém, uma briga séria entre o vocalista e guitarrista Max Cavalera e os demais integrantes deu fim a tudo isso.

Após disputas judiciais e acusações mútuas através da imprensa, o grupo testou diversos vocalistas (entre eles Chuck Billy, do Testament) e escolheu Derrick Green, natural de Cleveland e com passagens por diversas bandas do underground norte-americano, como o seu novo vocalista.

A estreia de Derrick aconteceu em Against, sétimo disco do Sepultura, lançado em 6 de outubro de 1998. O álbum foi produzido pela banda e por Howard Benson (Motörhead, Body Count, T.S.O.L.) e trouxe o quarteto apostando em uma nova sonoridade. Menos extremo e experimental que RootsAgainst deu início à crescente presença de elementos hardcore no som do grupo, algo que se intensificaria nos discos seguintes. E, como todo primeiro fruto de uma separação tão traumática quanto a que envolveu Max, Andreas, Paulo e Igor, dividiu os fãs.

A questão é que, passados 23 anos de seu lançamento, Against merece uma reavaliação. Suas 15 músicas envelheceram muito bem, afastando-se do contexto da época, onde a comparação com o antigo Sepultura era inevitável. Hoje, com todo o histórico de Derrick com a banda, percebe-se que esse primeiro passo foi muito bem dado. As composições são inegavelmente fortes e seguem a evolução natural do que o Sepultura vinha fazendo até então. Enquanto Max Cavalera pesou a mão no lado mais experimental de Roots na estreia de sua nova banda, o Soulfly (o autointitulado primeiro disco chegou às lojas em 21 de abril de 1998, quase seis meses antes de Against), o Sepultura conseguiu equilibrar melhor o metal com elementos brasileiros que a banda vinha desenvolvendo, resultando em um disco mais redondo.

Há destaques fortes em Against como a excelente abertura com a faixa que batiza o disco, “Choke” (ótimo primeiro single, que foi encartado em uma edição da revista Trip junto com uma entrevista exclusiva com a banda), as variações de “Rumors”, a grudenta “Boycott”, a pesadíssima “Common Bonds” e “Hatred Aside”, um thrash hardcore com participação de Jason Newsted, então baixista do Metallica, dividindo os vocais com Derrick. Outras participações foram a do chapa João Gordo nos vocais de “Reza” e do grupo de percussão japonês Kodo em “Kamaitachi”. Merece menção também a versão personalíssima para “Freedom of Expression” (aqui abreviada para “F.O.E.”), da banda norte-americana J.B. Pickers e extremamente conhecida no Brasil por ser o tema de abertura do programa Globo Repórter, da Rede Globo, durante anos.

Against é um disco muito bom, cuja repercussão e aceitação foi dificultada pelo contexto que envolvia o Sepultura na época e o sempre presente haterismo em relação a Derrick Green. Musicalmente, trata-se de um álbum criativo e inovador como tudo que o Sepultura gravou em sua carreira, e o distanciamento do tempo intensifica essa percepção.

Se você sempre foi do contra em relação a Against, já passou da hora de rever essa opinião.



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