terça-feira, 5 de novembro de 2024

ROCK ART


 

Roger Waters – Amused to Death (1992)

 

Roger Waters – Radio K.A.O.S. (1987)

 

No mesmo ano em que os Pink Floyd lançam o primeiro disco sem a sua participação, Roger Waters continua a sua senda anti-guerra, obedecendo à sua matriz de álbum-conceito, mas, desta vez, o resultado final não foi tão bem aceite como os seus trabalhos anteriores.

Considerado por muitos fãs e críticos como o génio criativo dos Pink Floyd após a saída de Syd Barrett, Roger Waters foi responsável pelos conceitos dos seus discos mais incontornáveis e escritor das mais emblemáticas canções. Quando a banda começou a dar sinais de divórcio, Waters decidiu que era a hora de acabar com ela. Os outros, especialmente Gilmour, acharam que não e decidiram continuar, arrastando-a para uma certa mediocridade, expressão nunca antes utilizada para descrever Pink Floyd.

Neste novo mundo, e sem o apoio da sua banda de sempre, Roger Waters lançaria The Pros and Cons of Hitch Hiking, projecto que já teria sido proposto aos Pink Floyd na altura de The Wall e que apresentava como conceito uma crise de meia-idade; a autópsia de um casamento a ruir; a traição, o desejo, a culpa. Estavam lá todos os ingredientes que fizeram de Waters o homem do leme nos últimos anos dos Pink Floyd.

Em 1987, porém, o som que marcava a década era muito mais pop e Roger Waters não conseguiu fugir dele, tal como os seus antigos companheiros o fizeram no primeiro disco sem a sua participação. A diferença entre os discos é que Waters consegue fazer um disco conceptual, com significado, mesmo piscando o olho ao som do momento.

O conceito de Radio K.A.O.S. é fora do comum. Conta a história de Benny, mineiro galês e do seu irmão gémeo, Billy, um jovem deficiente em estado vegetal numa cadeira de rodas. Benny é um amante de rádio amador e todas as noites Billy escutava as transmissões do seu irmão. Uma certa noite, Benny leva Billy para uma noite de copos pela vila. Levemente embriagado, Benny revolta-se ao ver uma loja cheia de televisores a mostrar a primeira-ministra Margaret Tatcher e, em forma de protesto, resolve assaltar a loja, levando um telefone portátil. Desiludido com a vida, Benny sobe para o parapeito de uma ponte. Nessa mesma noite um motorista é morto por uma pedra atirada de uma ponte similar. Benny é acusado do crime e é preso, não sem antes esconder o telefone debaixo da cadeira de rodas de Billy. Curiosamente, Billy tem um talento diferente de todas as outras pessoas. Recebe ondas de rádio dentro da sua cabeça e começa a explorá-las neste seu novo instrumento, o telefone portátil. Sem a protecção de Benny, Billy é enviado para Los Angeles, para casa de um tio que esteve envolvido no projecto Manhattan. O Tio David também é adepto do rádio amador e Billy começa a utilizar os seus novos talentos para comunicar com Jim, um renegado DJ de rádio e tornam-se amigos. Tatcher e Reagan bombardeiam a Líbia e Billy acha que se atingiu o limite. Com o seu poder, Billy encontra uma maneira de manipular os sistemas de mísseis de todo o planeta de modo a simular um ataque nuclear, um acto que serve para assustar o mundo. Confuso? Roger Waters fornece, no velhinho booklet, um guia explicativo, que juntamente com as letras, dão uma ajuda a navegar pelo álbum.

Narrativas à parte, é a música que nos dá a história do disco. Enérgica onde Hitch Hiking era bastante lânguida, mas sempre íntegra e convincente, efeito similar ao que obtemos quando “Not Now John” entra a cortar a sonolência de The Final Cut. Radio K.A.O.S é, certamente, o disco mais pop de Roger Waters, mas consegue manter os princípios básicos da sua música, em que se destacam a pop otimista de “Radio Waves”, a depressiva  “Me or Him” ou a áspera “The Powers That Be”. A última faixa, “The Tide Is Turning (After Live Aid)”, outro dos pontos fortes do álbum, é uma balada que vislumbra uma pequena esperança de futuro num mundo que parecia estar condenado.

Radio K.A.O.S é envolvente e ambicioso, como sempre foi apanágio de Roger Waters, e a cada audição conseguimos detectar pequenas nuances. Do seu catálogo a solo, será o disco mais fácil para começarmos a descobrir o seu mundo.

Apesar de ter um conceito bizarro e ser um disco claramente ligado a uma década e a um som muito particulares, a mensagem continua, como sempre, forte e actual. Curiosamente, Radio K.A.O.S. não seria muito bem recebido pela crítica, tendo vendido pouco e afectado, e muito, os seus concertos. Para agravar a situação, Waters via os seus ex-companheiros a embarcar em tournées esgotadas e a ganhar milhões.

Mais de trinta anos depois do seu lançamento original, Radio K.A.O.S. acabou por envelhecer melhor do que se pensava, não envergonhando ninguém, nem os fãs de Roger Waters, nem os dos Pink Floyd.



Pink Floyd – The Dark Side Of The Moon Immerse Edition Boxset (2011)

 

Neil Young – After the Gold Rush (1970)



 

Unknown Mortal Orchestra – Sex & Food (2018)

 

EDEN ROSE ● One Way to Eden ● 1970 ● França [Psychedelic Prog]

 


Lançado em 1970, "One Way to Eden" é uma estréia bastante decente (e único lançamento) do grupo (pré-SANDROSE), EDEN ROSE (Biografia aqui). A principal falta nesta versão da banda é a cantora Rose Podwojny (também conhecida como Laurens), que se juntaria ao quarteto após a "morte" do EDEN ROSE para formar o que se tornaria o SANDROSE. E de fato, todas as faixas aqui são instrumentais, então parece que a presença de Podwojny/Laurens pode ter sido o ingrediente que faltava, considerando que a formação alcançou notoriedade muito maior do que esta.

A música é surpreendentemente semelhante; composições animadas com tons de Fusion e levemente inspiradas no Psych Rock, com muitos lamentos e guitarras fuzzed e órgão Hammond em abundância por toda parte. Se você é um fã daquele som Hammond de fluxo livre e agudo do final dos anos 60, você definitivamente vai se divertir com isso. Praticamente todas as faixas estão repletas de balidos de Hammond, interrompidos ou aumentados apenas em poucas ocasiões por Jean-Pierre Alarcen e seu machado elétrico.

As guitarras são uma mistura de sons de Jazz moderno e fuzz simples (mas não muito), e o Hammond soa ao mesmo tempo improvisado e enraizado em riffs de Blues contemporâneos. Existem algumas exceções, mais notavelmente "Walking in the Sea", que é ao mesmo tempo a música mais longa e indolente do disco, com riffs reversíveis elétricos e dedilhados acústicos, bem como um arranjo de teclado mais leve e descontraído do que em qualquer outra música. O encerramento também é bastante moderado, mas fora isso essas músicas são todas exercitadas em incursões no teclado e solos de guitarra. 

A Musea records faz um bom trabalho tirando o pó e fazendo uma cara bonita para lançar o disco em CD. Há também alguns outros relançamentos, incluindo um do Japão que supostamente foi remasterizado de forma independente. A versão Musea tem um preço mais razoável e é muito mais acessível para a maioria de nós.

Tracks:
01. On The Way To Eden (5:09)
02. Faster And Faster (3:05)
03. Sad Dream (4:09)
04. Obsession (4:24)
05. Feeling In The Living (4:19)
06. Travelling (3:26)
07. Walking In The Sea (5:29)
08. Rainyet Number (4:34)
Bonus Tracks:
09. Under The Sun (2:30)
10. Travelling (Single Version) (2:50)
Time: 39:55

Musicians:
• Henri Garella: keyboards
• Christian Clairefond: bass
• Michel Jullien: drums
• Jean-Pierre Alarcen: guitars



EGG ● Egg ● 1970 ● Reino Unido [Canterbury Sound/Symphonic Prog]



EGG é uma banda britânica de Rock Progressivo formada em 1968, estando presente na Cena de Canterbury termo utilizado para descrever bandas que fazem um som mais refinado, misturando psicodelia, com progressivo, Jazz, etc. Em alguns momentos a sonoridade da banda lembra bastante Emerson, Lake and Palmer pro lado mais THE NICE, com pitadas jazzísticas de SOFT MACHINE outra banda da cena Canterbury.

o trio era composto por ... Dave Stewart no órgão, piano e sintetizador, Mont Campbell no baixo e vocais (também órgão, piano e trompa) e Clive Brooks na bateria. A música era muito estruturada e composta, com peças clássicas (Bach) e algumas influências jazzísticas leves.

Este seu primeiro álbum, foi lançado em 1970 e inicia-se com a loucura industrial de "Boilk", que implementa uma concentrada progressividade avant-garde, seguem ótimas faixas, como: "While Growing My Hair", "I Will Be Absorbed", "Fugue In D Minor" e "The Song of McGuillicudie the Pusillanimous". A grande "estrela" do álbum pertence à: "Symphony No. 2", onde a banda mostra mudanças incríveis e realmente deixa o ouvinte maravilho com seu som único. Ela se espalha por mais de 22 minutos com cinco suítes individuais que, na realidade, são todas faixas separadas, mas estão ligadas tematicamente. Embora "Movement 1" seja uma continuação das interpretações clássicas ocidentais com partes de "In The Hall of the Mountain King", de Grieg, não soaria fora de lugar em um dos álbuns de THE NICE com os teclados no estilo Emerson, "Movimento 2" permite que a experimentação comece. Enquanto Stewart se concentra nas corridas clássicas de órgãos para manter o ritmo melódico, Clive Brooks oferece alguns estilos de bateria estelares que seguem padrões jazzísticos e padrões de Rock e os justapõem em uma mistura de magia. A faixa chega a um frenesi atmosférico muito estranho que abre o caminho para a próxima faixa "Blane", que se desvia completamente da fórmula do rock clássico.

Diferente de qualquer outra coisa no álbum, "Blane" investiga o mundo bizarro e esquisito da manipulação eletrônica e experiências bizarras. A faixa balbucia, bloops e buzina por mais de 5 minutos e ainda oferece momentos de melodia suficientes para manter o ouvinte aterrado, apesar da intensa desolação industrial que a encerra. "Movement 3" foi removido do álbum original lançado em 1970, provavelmente devido a limitações de tempo, mas está de volta ao seu local original previsto nas novas versões remasterizadas em CD do álbum. Nitidamente justificado devido ao fato de ter emprestado muito do clássico Stravinsky (e tinha problemas legais por causa disso), mas ainda fornece uma série decente de corridas de órgãos, bateria e baixo e soa como algo saído da cartilha de Gustav Holst de suas suítes orquestrais em "Os Planetas". "Movement 4" continua com uma mistura mais Rock de drum and bass com os órgãos pontuados para adicionar um pouco de melódico de vez em quando, mas este é o local em que Brooks mostra suas habilidades de bateria e ele arrasa! Os CDs mais recentes têm duas faixas bônus "Seven Is A Jolly Good Time" e "You Are All Princes", que valem a pena, pois se encaixam perfeitamente no fluxo do álbum original.


Tracks:
01. Bulb (0:09)
02. While Growing My Hair (3:53)
03. I Will Be Absorbed (5:10)
04. Fugue In D Minor (2:46)
05. They Laughed When I Sat Down At The Piano... (1:17)
06. The Song Of McGuillicudie The Pusillanimous (or Don't Worry James, Your Socks Are Hanging In The Coal Cellar With Thomas) (5:07)
07. Boilk (1:00)
08. Symphony No 2 (22:26)
       a. Movement 1 (5:47)
       b. Movement 2 (6:20)
       c. Blane (5:28)
       d. Movement 3 (3:11) *
       e. Movement 4 (4:51)
Bonus track only on 2004 remaster, previously unreleased
Time: 41:48
Bonus tracks on 1992; 2004 remasters:
09. Seven Is A Jolly Good Time (Single) (2:47)
10. You Are All Princes (Single) (3:45)

Musicians:
- Dave Stewart / organ, piano, tone generator
- Mont Campbell / bass, vocals
- Clive Brook / drums





FOCUS ● In and Out of Focus/Focus Play Focus ● 1970 ● Holanda [Eclectic Prog]

 


A banda holandesa FOCUS é considerada como uma das maiores e mais importantes dentro do cenário Progressivo. Sua história remonta a 1969 quando o organista e flautista Thijs van Leer, o baixista Martin Dresden e o baterista Hans Cleuver decidem criar uma banda para exercitar seus ideais musicais. A idéia inicial era seguir o estilo de TRAFFIC, o que não aconteceu pois a banda apoiaria a versão holandesa da peça "Hair". Após a temporada do musical, finalmente produziram seu primeiro álbum, "In and Out of Focus/Focus Play Focus" em 1970, já com a presença de Jan Akkerman na guitarra.

Lançado em setembro de 1970, "Focus Play Focus", é metade preenchido com tentativas Progressivas (2 faixas) e o restante podendo ser classificado como Pop/Rock psicodélico. Na realidade o disco reflete a banda tentando achar seu próprio som. Das faixas mais Pop, "Why dream" poderia ter vindo do Reino Unido no final dos anos 60. "House of the King" trouxe o espírito  do JETHRO TULL por sua melodia Folk e a presença da flauta. "Anonymous" é a primeira versão da faixa reencarnada no álbum "Focus 3", aqui aparecendo em sua versão Rock crua. "Focus" inicia uma série de faixas instrumentais tradicionalmente inteligentes, porém com uma natureza de jam após os quatro minutos fortes.

Richie Unterberger do AllMusic.com chamou o álbum de "uma coleção justa de músicas de Rock Progressivo sem um foco claro" e notou influências proeminentes do Folk Rock, Blues e Música Clássica, bem como "tonalidades jazzísticas ocasionais".

Descontente com a falta de sucesso do primeiro álbum, Jan Akkerman deixou a banda para formar outra banda com o baterista Pierre van der Linden e o baixista Cyril HavermansThijs contactou os três músicos convencendo-os a continuar a banda, sob o nome FOCUS. Assim entraram em estúdio para gravar o álbum "Moving Waves (Focus  2)", que seria o primeiro álbum de impacto da banda.

Tracks:
01. Focus (instrumental) (9:45)
02. Why Dream? (3:57)
03. Happy Nightmare (Mescaline) (3:56)
04. Anonymus (7:00)
05. Black Beauty (3:05)
06. Sugar Island (3:03)
07. Focus (vocal) (2:44)
Time: 33:30

Extra track on Polydor 1970/71 LP and all CD releases:
09. House of the King (single) (2:15)

Musicians:
- Thijs van Leer: vocals, organ, flutes (not confirmed: piano, electric piano, Mellotron, harpsichord, vibes, trumpet)
- Jan Akkerman : electric & acoustic (?) guitars
- Martijn Dresden: bass, vocals (?)
- Hans Cleuver: drums, vocals(?)

FRUMPY ● All Will Be Changed ● Alemanha [Heavy Prog]

 


A banda alemã FRUMPY "nasceu" em Hamburgo, Alemanha, no ano de 1970, pelos quatro ex-membros da banda Folk THE CITY PREACHERS, do irlandês O'Brian-Docker, fundada por este em 1965. O THE CITY PREACHERS tocava uma excelente mistura de música Folk americana e britânica e tinham, às vezes, mais de uma dúzia pessoas no palco. Descontente com o cantor Dagmar Krause, o baterista Carsten Bohn deixou a banda em novembro de 1969 e levou a cantora Inga Rumpf, o tecladista francês Jean-Jacques Kravetz e o baixista Karl-Heinz Schott com ele para formar o FRUMPY. Na primavera de 1970, FRUMPY iniciou uma turnê de sucesso pela França. No mesmo ano, eles fizeram uma turnê de 50 shows com SPOOKY TOOTH e tocaram com YESHUMBLE PIE e RENAISSANCENo outono de 1970, o FRUMPY lançou o primeiro este primeiro álbum "All Will Be Changed", que continha apenas material próprio, com exceção de um cover de Richie Havens. Na Alemanha, o álbum foi bem recebido e provou que o Rock alemão poderia viver de acordo com os padrões internacionais. Sua música combina Jazz, Soul e elementos orientais com os teclados como o instrumento mais importante.

Após a curta faixa  de abertura "Life Without Pain", um Soul de altíssima qualidade, seguem "Rosalie, Part 1/Otium/Rosalie, Part 2", três faixas interligadas compondo uma peça muito dramática cheia de ótimos solos de hammond e vocais Blues de Rumpf. Com "Indian Rope Man", o álbum atinge de cheio o ouvinte com sua melodia cativante. "Morning" é mais uma peça cheia de energia. As faixas "Floating part 1"/"Baroque"/"Floating part 2" é mais uma peça "atormentada" por solos longos e experimentais, o lado Progressivo da banda e que conta com um bom solo de bateria. O lançamento em CD têm duas faixas bônus, que soam bem diferentes e com uma guitarra, remetendo ao o segundo álbum da banda, uma vez que o guitarrista Rainer Bauman se juntaria a eles.

Certamente um produto de seu tempo, com aquele som cru típico que apenas bandas alemãs elevam a uma forma de arte, o álbum de estréia do FRUMPY é um álbum totalmente Prog que merece ser ouvido. 


Tracks:
01. Life Without Pain (3:50)  ◇
02. Rosalie, Part 1 (6:00)  ◇
03. Otium (4:22)
04. Rosalie, Part 2 (4:14)
05. Indian Rope Man (3:19)  ◇
06. Morning (3:24)
07. Floating, Part 1 (7:39)
08. Baroque (7:36)
09. Floating, Part 2 (1:25)
Time: 41:49
Bonus Tracks (1991/2008) CD:
10. Roadriding (1971 Single) (4:02)
11. Time Makes Wise (1971 Single) (2:49)

Musicians:
- Inga Rumpf: vocals, percussion
- Jean-Jacques Kravetz: organ, piano, Mellotron, spinet, sax, percussion
- Karl-Heinz Schott: bass, percussion
- Carsten Bohn: drums, percussion




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