quarta-feira, 26 de abril de 2023

Review: Dune Hill – Song of Seikilos (2019)

 


Um disco que começa com uma adaptação da mais antiga composição musical conhecida pelo homem merece, no mínimo, uma audição. E esse mesmo trabalho traz também uma das últimas canções gravadas por Andre Matos, falecido de forma precoce em junho de 2019. Se você precisa mais motivos para conferir o segundo álbum da banda pernambucana Dune Hill, aceite um spoiler: ele é muito bom.

Lançado em 2019, Song of Seikilos ganhou uma edição em CD em 2020 e é o sucessor da estreia do quinteto, White Sand (2014). Conceitual, aborda a relação entre duas mulheres – Bella e Alex – e trata de temas como homofobia, preconceito, drogas e mitologia grega em suas letras. Além de Andre, participam também a vocalista Deborah Alencar e os guitarristas Nenel Lucena (Evocati, Bride), Felipe Wolfenson (Papaninfa) e Antônio Araújo (Korzus, One Arm Away). A bela capa foi criada pelo artista Rodrigo Bastos Didier.

O som é um metal contemporâneo que consegue equilibrar agressividade e um lado mais acessível, perceptível principalmente nas linhas vocais e refrãos. O vocalista Leonardo Trevas varia tons limpos e passagens mais agressivas e é um dos pontos altos. A dupla de guitarristas Felipe Calado e André Pontes entrega riffs modernos, harmonias e solos bem feitos. O baixo de Pedro Maia é responsável pelo peso do trabalho e soa muito evidente, o que sempre é uma ótima notícia pra apreciadores do instrumento – como é o meu caso. E a bateria de Otto Notaro é um dos principais pontos de sustentação da sonoridade da banda, com um trabalho pra lá de seguro e competente.

Entre as músicas, destaque para a canção que dá nome ao grupo, “Set You Free”, “God Delivering”, “The Mirror” (uma das melhores do disco e a faixa que traz a participação de Andre Matos), “Hypnos and Thanatos (Overdose)” e o encerramento com a ótima “Queen’s Roads”.

O Dune Hill mostra que a cena de metal no nordeste do Brasil é forte, criativa e merece muito mais atenção do que recebe. Longe dos holofotes onipresentes do sudeste, que concentra as principais lojas e veículos da imprensa especializada – além das bandas, que ganham maior destaque justamente nessa mesma mídia em uma política de compadres que já deveria ter acabado há anos -, o Dune Hill inscreve-se ao lado de dezenas de outros nomes do metal nacional que fazem um trabalho ótimo mas acabam não tendo o destaque que merecem por estarem distantes geograficamente do principal centro “metálico” do país.

Independente disso, direto aqui de Florianópolis saúdo a banda pernambucana pelo excelente segundo disco, que vai muito além das curiosidades atrativas mencionadas no primeiro parágrafo e se sustenta por sua grande qualidade musical.


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